30 de abr. de 2016

Jesus está realmente presente na Eucaristia! De que maneira?

Almejamos apontar neste trabalho como o Evangelista São João mostra, em seu sexto capítulo, a verdadeira interpretação sobre a Presença Real de Cristo na Eucaristia. Esta é efetiva, Cristo assim o quis, e o relato do quarto Evangelista não deixa margens a outras interpretações. As palavras do Mestre não podem ser metáforas e ainda a reação dos que estavam presentes na cena confirma o sentido verdadeiro, como veremos.
São João foi, segundo consta na Tradição, o último a escrever seu Evangelho. De fato somente por volta do ano 90 é que ele relatou os feitos da vida do Senhor. Dentre os diversos motivos que o levaram a escrevê-los foi que, já naquela época, começavam fomentações heréticas. Deste modo, em seu sexto capítulo, trata ele especificamente sobre a Santíssima Eucaristia, já prevendo futuros desvios por parte dos hereges.
É de fé que a Eucaristia foi verdadeiramente instituída por Nosso Senhor. No capítulo VI de São João vemos o Salvador nos prometendo seu próprio Corpo e Sangue, como alimento e bebida espiritual. E no Sacramento da Eucaristia há um autêntico sacrifício, que anuncia a morte de Cristo e renova, de forma incruenta, a imolação do Calvário, cujo valor expiatório apaga os crimes dos homens; trata-se de um Sacramento que contém realmente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo.
Comenta-nos Hugon que: “a instituição da Eucaristia por Nosso Senhor não tinha sido posta em dúvida antes do século XIX. Os protestantes, originariamente, esforçavam-se por tirar das palavras de Cristo seu sentido literal, e de explicar que a Eucaristia é somente a figura do Corpo e do Sangue; eles não contestaram nem a autenticidade da narração evangélica, nem a instituição divina da Eucaristia como símbolo”.[1]
É de se levar em consideração que os mesmos protestantes que tomam tantas passagens das Escrituras no sentido literal, ao “pé da letra”, não vêem nas próprias palavras de Nosso Senhor, neste sexto capítulo, o sentido literal óbvio por Ele proferido. Ao contrário, relégam-nas a um estilo figurativo, simbólico ou até alegórico.
Entretanto basta analisar um pouco mais a fundo este capítulo que veremos claramente as intenções do Mestre, e sua referência clara e direta a seu próprio Corpo e Sangue.
Primeiramente vejamos, no próprio texto, o sentido literal e óbvio das palavras:
“Eu sou o pão da vida. Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram. Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne? Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo:se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmosQuem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebidaQuem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim” (Jo 6, 48-57).
 É impressionante verificar como Jesus repete várias vezes a afirmação de que é realmente a carne e o sangue d’Ele. Assim, não é possível sustentar que seja mera metáfora o que encontramos nesses ditos.
Metáfora, de fato, não pode ser, pois Nosso Senhor não procura atenuar suas declarações, mesmo sabendo que está “escandalizando” os outros. No versículo 52 os judeus confirmam que entenderam literalmente os sentidos das palavras: “A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?” Contudo, o divino Mestre não os corrige pelo que entenderam, mas ainda afirma algo mais ousado: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos” (Jo 6, 53).
Outro ponto a se considerar é o “escândalo” causado nos circunstantes. Mesmo diante da apostasia destes, Nosso Senhor não se retrai, é mais ousado, e ainda prova a fé dos que permanecem, mostrando que este é realmente um ponto crucial, quando se trata sobre a Eucaristia: “Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele. Então Jesus perguntou aos Doze: Quereis vós também retirar-vos?” (Jo 6, 66-67). Ele não procura se desculpar, não atenua suas afirmações. É patente que se não fossem afirmações literais, Ele teria persuadido os discípulos a ficarem, entretanto isto não aconteceu.
Não é possível dar outra interpretação às palavras de Cristo.
Pe. Michel Six, EP
[1] L’institution de l’Eucharistie par Notre-Seigneur n’avait pas été mise en doute avant le XIX ème siècle. Les protestants de l’origine s’efforçaient d’enlever aux paroles du Christ leur sens littéral et d’expliquer que l’Eucharistie n’est que la figure du corps et du sang; ils ne contestaient ni l’authenticité du récit évangélique ni l’institution divine de l’Eucharistie comme symbole (Cf. HUGON, La Sainte Eucharistie. Paris : Pierre Téqui, 1916).
Fonte: Blog Acadêmicos Arautos

29 de abr. de 2016

Nossa Senhora, canal das graças do Espírito Santo


Maria Santíssima estava predestinada desde toda eternidade a ser mãe de Deus. E por isso mesmo, no momento em que foi concebida no ventre de Santa Ana, não apenas ficou preservada da mancha original como recebeu a plenitude do Espírito Santo num grau mais elevado do que todos os Anjos e santos reunidos.
Entretanto, no momento em que Ela disse sim às palavras do Anjo e que o Verbo se fez carne e habitou entre nós, essa plenitude atingiu um píncaro inimaginável. Não podia haver dignidade maior entre as meras criaturas que ser elevada a Mãe de Deus, participando do plano hipostático. Foi através d’Ela que a Obra da Redenção se tornou possível, porque Deus assim o quis. Sua grandeza exigia uma perfeição digna, de certo modo, do Criador. Daí a palavra dum Santo: “Só Deus pode conceder o cabedal de graças depositado na Divina Mãe no dia Encarnação” (São Bernardino de Sena).
Essa santidade de Maria – ó prodígio – crescia a cada instante de sua vida, de modo especial nos momentos cruciais da vida de seu Filho, a Paixão e Ressurreição de Jesus.
Que virtudes admiráveis Maria praticou ao longo da dolorosa Paixão do Redentor. Ela, a melhor de todas as mães, amando com todo ardor de seu Coração Imaculado o melhor de todos os filhos, que Ela concebeu por obra do Espírito Santo, que Ela maternalmente gerou no tempo e na carne, que Ela amamentou e cuidou com tanta solicitude, e que Ela, em união com o Pai Celeste, se dispôs a oferecer pela humanidade pecadora. Mas Ela não assistiu isso de longe. Acompanhou com coragem a Via Dolorosa, e ficou de pé junto a Cruz de Jesus. Quanta força, quanta virtude, quanta santidade não precisaria ter essa alma?!
Momento talvez ainda mais cruel ainda estava por chegar: após o sepultamento do corpo de Jesus, que vazio Ela deve ter sentido. Seu Filho não estava mais no mundo. Muitas pessoas sabem o que é perder um filho e podem imaginar melhor o que Maria deve ter sofrido nessa ocasião. Porém, sua Fé inabalável na Ressurreição sustentou sozinha a Igreja nascente por três longos dias.
Todo esse sofrimento foi largamente recompensado por ocasião da descida do Espírito Santo sobre Ela e os Apóstolos reunidos no Cenáculo. Mais uma vez sua plenitude de graças crescia de modo magnífico. “No dia de Pentecostes, diz um grande servo de Deus, o Espírito Santo desceu primeiro sobre a Divina Mãe e difundiu-Se depois entre os Apóstolos sob a forma de línguas de fogo. O Ministério Apostólico, de fato, destinado a comunicar a graça, deveria receber seu último aperfeiçoamento pelo canal d’Aquela que é a sua despenseira. Seja como for, os Apóstolos deveram sem dúvida às preces de sua amada Soberana, e às suas próprias disposições, a plenitude da sabedoria e santidade que receberam nesse grande dia.” (Pe. Luís Bronchain, C. SS. R., Meditações para todos os dias do ano.)
Tendo-A como modelo e intercessora, rogamos que Ela prepare nossos corações para serem uma digna morada do Divino Paráclito! Para isso, trabalhemos com Ela para unir em nós a inocência à penitência, o temor de Deus à confiança n’Ele, a humildade à grandeza de alma, e a delicadeza de consciência à generosidade do sacrifício. Esforcemo-nos com Maria para subir a Deus pelos diversos graus do recolhimento, da pureza de coração e da oração contínua.
Segundo Santo Ildefonso, assim como o fogo penetra o ferro e o abrasa, conferindo as propriedades próprias ao mesmo fogo, assim o Espírito Santificador se apoderou da Alma de Maria e Lhe transmitiu seus dons e concedeu a Ela o poder de os transmitir a quem Ela quiser; basta-Lhe pois inclinar-Se a nós para encher-nos do mesmo Espírito. “Todos os dons, virtudes e graças, diz São Bernardino de Sena, são dispensados pelas mãos de Maria a quem Ela quer, quando e como quer”. Ora, Ela quer cumular-nos de favores mais do que nós poderíamos desejar receber. Deixemos as portas de nossos corações abertas para que Ela possa tomar posse e nos encher dos dons do Espírito Santo.
Fonte: Blog Acadêmicos Arautos

28 de abr. de 2016

São Luís Grignion de Monfort

Puro como um Anjo, zeloso como um Apóstolo, sofredor como um penitente, foi ele o incansável missionário do amor a Jesus, por meio de Maria, na previsão de uma plêiade de almas abrasadas que viriam em tempos futuros.
Corria o ano de 1716. A missão em Saint-Laurent-sur-Sèvre — que seria a última! — começara em princípios de abril. Consumido pelo trabalho, o dedicado pregador foi acometido por uma pleurisia aguda, mas não cancelou o sermão prometido para a tarde da visita do Bispo de La Rochelle, Dom Étienne de Champflour, em 22 de abril, no qual falou sobre a doçura de Jesus. Contudo, teve de ser levado do púlpito quase agonizante...
Passados alguns dias, pressentindo a morte que já previra para aquele ano, ele pediu que, quando o pusessem no ataúde, lhe fossem mantidas no pescoço, nos braços e nos pés as cadeias que usava como sinal de escravidão de amor à Santíssima Virgem. Em 27 de abril, o enfermo ditou seu testamento e legou sua obra missionária ao padre René Mulot.
A manhã seguinte parecia anunciar o momento derradeiro. Na mão direita segurava o Crucifixo indulgenciado pelo Papa Clemente XI e na esquerda, uma imagenzinha de Maria que sempre o acompanhara, os quais osculava e contemplava com enorme piedade. Pela tarde, o moribundo parecia travar sua luta extrema contra um inimigo invisível: “É em vão que tu me atacas. Eu estou entre Jesus e Maria. Deo gratias et Mariæ. Cheguei ao fim da minha carreira: pronto, não pecarei mais!”. Ao anoitecer, entregou sua alma a Deus, com apenas 43 anos de idade. Milhares de pessoas vieram venerar os restos mortais de seu apóstolo e Dom Champflour afirmou haver perdido “o melhor sacerdote da diocese”. 2 Este era São Luís Maria Grignion de Montfort, um “padre que vivera com a pureza dum Anjo, trabalhara com o zelo dum Apóstolo e sofrera com o rigor dum penitente”.
Muito difundida é sua doutrina mariana. Sem embargo, menos conhecida é sua vida, tão fecunda apesar de curta, da qual poderemos contemplar alguns breves traços.
Escolhido desde a infância
Nasceu ele a 31 de janeiro de 1673, na cidade bretã de Montfort-La-Cane — hoje Montfort-sur-Meu —, no seio de uma numerosa família com 18 filhos. “O povo de Bretanha entrega-se por completo; é uma raça duma só peça”,4 e Luís herdou este vigor de espírito. Seus pais, Jean-Baptiste Grignion e Jeanne Robert, o levaram à pia batismal no dia seguinte de ter visto a luz, na Igreja paroquial de Saint-Jean.
Quando ainda muito menino, a família se instalou na propriedade do Bois-Marquer, em Iffendic. A velha igreja desta cidade foi o cenário de suas primeiras orações e o berço de sua ardorosa devoção ao Santíssimo Sacramento. Ali fez a Primeira Comunhão e passava horas em recolhimento.
Seu espírito apostólico manifestava-se desde a infância, ao encorajar a mãe nas dificuldades domésticas ou na atenção a seus irmãos, em especial à pequena Luísa, que veio a ser religiosa beneditina do Santíssimo Sacramento, com sua ajuda.
Conheceu o amor a Maria Santíssima no coração de sua mãe, e este amor se tornou a via montfortiana por excelência. Na verdade, “a Santíssima Virgem foi a primeira a escolhê-lo e a elegê-lo um dos seus maiores favoritos, e gravara na sua jovem alma a ternura tão singular que ele sempre Lhe votara”.
No colégio dos jesuítas de Rennes
Aos 12 anos, seus pais o enviaram a Rennes, para estudar no Colégio São Tomás Becket, dirigido pelos jesuítas, famoso por seu curso de humanidades e por formar seus educandos no autêntico espírito cristão. O ensino era gratuito e seus mais de mil estudantes não eram internos, por isso Luís Maria hospedou-se com um tio, o Abade Alain Robert de la Vizuele.
Excelente aluno, dedicava-se ao estudo com afinco, compreendendo sua importância para a vida espiritual e o futuro ministério que tinha em vista. Seu espírito recolhido o afastava do bulício da multidão ruidosa dos rapazes e sua distração era visitar as igrejas da cidade onde havia belas e atraentes imagens de Maria Santíssima. Não há dúvida de que esta terna e sincera devoção foi a salvaguarda de sua pureza e abrigo seguro contra as solicitações do mundo.
Ali conheceu Jean-Baptiste Blain e Claude-François Poullart des Places, dos quais tornou-se grande amigo. Mais tarde, eles lhe serão valiosos apoios em suas fundações. Pertencia à Congregação Mariana do colégio e, com Poullart des Places, organizou uma associação em honra da Santíssima Virgem, visando fazer crescer a dedicação a Ela, “encorajar os seus colegas ao fervor e fazer brilhar aos olhos das almas jovens as belezas do sacerdócio e do apostolado”.6 Blain, depois da morte do Santo, escreveu suas recordações pessoais e memórias, tornando-se uma das principais fontes históricas da vida dele.
Muito caritativo, inúmeras vezes se fez esmoler para ajudar algum condiscípulo mais pobre do que ele; atitude que se repetiu, com frequência, ao longo de sua vida missionária. “Só falava de Deus e das coisas de Deus; só respirava o zelo pela salvação das almas; e, não podendo conter o seu coração inflamado no amor de Deus, só procurava aliviá-lo, através de testemunhos efetivos de caridade em relação ao próximo”.
Apesar do intenso trabalho ao qual se dedicava, São Luís encontrava tempo para desenvolver seu veio artístico: esculpia com talento, em especial imagens de Maria, pintava, compunha melodias e poemas.
Em Rennes sentiu o chamado definitivo ao estado eclesiástico. Conta um de seus companheiros — a quem ele confidenciara esta graça — ter sido aos pés de Nossa Senhora da Paz, na igreja dos carmelitas, que conheceu sua vocação sacerdotal, “a única que Deuslhe indicava, por intermédio da Virgem Maria”.
Em Paris, o seminário
Em 1693 dirigiu-se a Paris, a fim de preparar-se para o sacerdócio. Deixava para trás a terra natal e a família, e quis percorrer a pé os mais de 300 km que o separavam da capital francesa. Este será invariavelmente seu modo de viajar, seja em peregrinação, seja em missão.
Já nesse remoto século XVII, Paris exercia sobre seus visitantes fascinante atração. Ao entrar na cidade, o primeiro sacrifício feito por Luís foi o da mortificação da curiosidade: estabeleceu um pacto com seus olhos, negando-lhes o lícito prazer de contemplar as incomparáveis obras de arte parisienses. Assim, quando partiu, dez anos depois, nada havia visto que satisfizesse seus sentidos.
Começou os estudos no seminário do padre Claude de la Barmondière, destinado a receber jovens pouco afortunados. Com a morte deste religioso, Montfort se transferiu para o Colégio Montaigu, dirigido pelo padre Boucher. A alimentação ali era muito deficiente e suas penitências tão austeras que lhe abalaram a saúde e o levaram ao hospital. Todos acreditavam que morreria, tão grave era seu estado, mas ele nunca duvidou da cura, pois sentia não haver chegado sua hora. E, de fato, logo se restabeleceu.
Quis a Divina Providência obter-lhe os meios para terminar os estudos no Pequeno Seminário de Saint-Sulpice. O diretor daquela instituição, conhecedor da fama de santidade do seminarista, “encarou como uma grande graça de Deus a entrada deste jovem eclesiástico na sua casa. Para prestar a Deus ações de graças, mandou rezar o Te Deum”.9 Entretanto, tratava-o com muito rigor, para pôr à prova suas virtudes; começou então para nosso Santo uma via de humilhações, que se prolongou ao longo de toda a sua vida.
Por fim, sacerdote!
Executava com a maior perfeição possível as funções que lhe eram designadas, quer nos serviços mais humildes ou nos estudos, quer na ornamentação da igreja do seminário ou como cerimoniário litúrgico, no serviço do altar.
Suas primeiras missões remontam a esta época. Algumas eram feitas internamente, para aumentar a devoção de seus confrades; outras consistiam em aulas de catecismo ou pregações, para pessoas de fora do seminário. “Possuía um raro talento para tocar os corações”: às crianças falava de Deus, da bondade de Maria, dos Sacramentos que precisavam receber; aos adultos pedia que santificassem seu labor com as mentes postas no Céu.
Esforçava-se por comunicar a prática da escravidão de amor a Nossa Senhora a seus condiscípulos e estabeleceu no seminário uma associação dos escravos de Maria. Todavia, não faltaram opositores que o taxaram de exagerado. Aconselhado pelo padre Louis Tronson, superior de Saint-Sulpice, passou a designar esses devotos como “escravos de Jesus em Maria”,11 e vai ser esta expressão que mais tarde ficará consignada no seu Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem.
“À medida que a aurora do sacerdócio despontava no horizonte, Luís Maria sentia mais do que nunca a necessidade de separar-se da Terra a fim de se recolher completamente em Deus”.12 Foi ordenado em 5 de junho de 1700, dia de Pentecostes, e quis celebrar sua primeira Missa na capela de Maria Santíssima, situada atrás do coro da Igreja de Saint-Sulpice, tantas vezes ornada por ele durante os anos passados no seminário. Blain, seu amigo e biógrafo, resumiu em quatro palavras suas impressões sobre aquele espetáculo sobrenatural: era “um anjo no altar”.
De Nantes a Poitiers
O espírito sacerdotal do padre Luís Maria sentia insaciável sede de almas e as missões em terras distantes o atraíam sobremaneira. Perguntava-se: “Que fazemos nós aqui […] enquanto há tantas almas que perecem no Japão e na Índia, por falta de pregadores e catequistas?”.
No entanto, tinha Deus outros planos para seu missionário naquele momento. Designado para exercer o ministério na comunidade de eclesiásticos Saint-Clément, em Nantes, na qual se pregavam retiros anuais e conferências dominicais para o clero da região, dirigiu-se para onde o mandava a obediência. Seu coração, porém, se dividia entre o desejo da vida oculta e recolhida e o apelo às missões populares, que tanto o atraíam.
Uma feliz experiência missionária em Grandchamps, nos arredores de Nantes, foi decisiva para tornar patentes seus dotes como evangelizador. Algum tempo depois, o Bispo de Poitiers o chamou para trabalhar no hospital desta cidade, pois uma curta permanência sua anterior por lá deixara tal rastro sobrenatural, que os pobres internos o solicitavam para capelão. Foi também nesta cidade que conheceu Catherine Brunet e Maria Luísa Trichet, com quem fundaria mais tarde, em Saint-Laurent-sur-Sèvre, as Filhas da Sabedoria.
Bênção papal: missionário apostólico
A ação missionária de São Luís Grignion acabou por despertar ciúmes, intrigas e até perseguições por parte dos que o deveriam defender, obrigando-o a regressar a Paris. Iniciava-se, assim, um longo caminho de dor que haveria de continuar nas subsequentes missões por ele empreendidas. A autenticidade de suas palavras e de seu exemplo despertavam tantas incompreensões e calúnias que o missionário decidiu peregrinar a Roma, a pé, a fim de procurar junto ao Papa uma luz que desse o rumo de sua vida. “Tanta dificuldade em fazer o bem em França e tanta oposição de todos os lados”15 o levaram a pensar se não seria mesmo o caso de exercer seu ministério num outro país.
Recebido com extrema bondade por Clemente XI, este o encorajou a continuar exercendo seu trabalho missionário na própria França. E para “lhe conferir mais autoridade, deu ao padre Montfort o título de Missionário apostólico”. 16 A pedido do Santo, concedeu o Pontífice indulgência plenária a todos os que osculassem seu Crucifixo de marfim, na hora da morte, “pronunciando os nomes de Jesus e Maria com contrição dos seus pecados”.
Fortalecido pela bênção papal e com o Crucifixo afixado no alto do cajado que o acompanhava nas missões, Grignion voltou às terras gaulesas e, impertérrito, sem nada temer das perseguições ou contrariedades, continuou semeando por toda parte o amor à Sabedoria Eterna e a Nossa Senhora, e a excelência do Santo Rosário. Converteu populações inteiras, mudou costumes licenciosos no campo, nas cidades e aldeias, levantou Calvários, restaurou capelas e combateu o espírito jansenista, tão disseminado na época.
No entanto, foi pouco compreendido por muitos eclesiásticos seus contemporâneos e viu desencadear-se sobre si uma onda de interdições. Prosseguia sua missão, sem desanimar, sendo acolhido pelos Bispos das Dioceses de Luçon e La Rochelle, na Vandeia, região que reagirá, no fim daquele século, à impiedade difundida pela Revolução Francesa, sem dúvida como fruto de sua semeadura.
Olhar posto no futuro...
Seria um erro, contudo, considerar São Luís Grignion apenas como um excelente missionário na França do século XVIII. Com o olhar posto no futuro, sua fogosa alma tinha por meta estender o Reino de Cristo, por meio de Maria, e para isto servia-se de uma forma de evangelização que hoje não poderia ser mais atual: “ir de paróquia em paróquia, catequizar os pequeninos, converter os pecadores, pregar o amor a Jesus, a devoção à Santíssima Virgem e reclamar, em voz alta, uma Companhia de missionários a fim de abalar o mundo através do seu apostolado”.
Num élan profético, previu ele a vinda de missionários que, por seu inteiro abandono nas mãos da Virgem Maria, satisfariam os mais íntimos anseios do Coração de seu Divino Filho: “Deus quer que sua Santíssima Mãe seja agora mais conhecida, mais amada, mais honrada, como jamais o foi”.19 Não obstante, se perguntava: “Quem serão estes servidores, escravos e filhos de Maria?”.20 Serão eles, afirmava, “os verdadeiros apóstolos dos últimos tempos, aos quais o Senhor das virtudes dará a palavra e a força para operar maravilhas”. Antevia que seriam inteiramente abrasados pelo fogo do amor divino: “sacerdotes livres de vossa liberdade, desapegados de tudo, sem pai, sem mãe, sem irmãos, sem irmãs, sem parentes segundo a carne, sem amigos segundo o mundo, sem bens, sem obstáculos, sem cuidados, e até mesmo sem vontade própria”.
São Luís Maria Grignion de Montfort não foi senão o precursor desses apóstolos dos últimos tempos. Modelo vivo dos ardorosos missionários que prognosticava, manteve a certeza inabalável de que, quando se conhecesse e se praticasse tudo quanto ele ensinava, chegariam indefectivelmente os tempos que previa: “Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum Mariæ”23 — Para vir o Reino de Cristo, venha o Reino de Maria. Reino este que, em germe, já habitava em sua alma, tornando-o o primeiro apóstolo dos últimos tempos. (Revista Arautos do Evangelho, Abril/2015, n. 160, pp. 32 à 35)
Fátima - Portugal (Gaudium Press) - O Santuário de Fátima vai apresentar a 11 de maio o espetáculo multidisciplinar ‘"Fátima - O dia em que o Sol bailou', desenvolvido pela "Vortice Dance Company" no âmbito da programação do Centenário das Aparições (1917-2017).
A primeira apresentação do espetáculo, reservada às escolas e colégios de Fátima e Leiria, está marcada para as 14h30 horas; a estreia está marcada para o dia 13 de maio, pelas 21:00 horas, com repetição, dois dias depois, pelas 16:00 horas, no grande auditório do Centro Pastoral de Paulo VI, em Fátima.
"Trata-se de um projeto que, focando as aparições de Fátima e o seu reflexo na história contemporânea, procura esboçar um retrato do acontecimento que marcou o século XX", revela o Santuário de Fátima, em nota divulgada hoje.
O espetáculo tem como coreógrafos e diretores artísticos Cláudia Martins e Rafael Carriço. Ele evoca a visão da Senhora "vestida toda de branco, mais brilhante que o sol" relatada pelos videntes de Fátima, Lúcia, Jacinta e Francisco.
A residente em Fátima, completa 15 anos de existência em 2016. Este é o seu segundo trabalho da "Vortice Dance Company" para o Santuário de Fátima que foi quem montou a peça 'A Solo com os Anjos', desenvolvida para as celebrações dos 90 anos das Aparições do Anjo em Fátima, em 2006.
Após as apresentações em Fátima, o espetáculo estará em cena no Teatro Municipal de Bragança, e, depois, estará no Brasil onde será apresentada em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Natal, entre outras. (JSG)

26 de abr. de 2016

Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano

Uma das mais belas páginas da iconografia mariana é, sem dúvida alguma, a atraente história da Mãe do Bom Conselho, venerada na cidade de Genazzano - Itália.

Numa tarde de abril de 1467, essa imagem se deu a conhecer ao mundo, envolta em admirável mistério. Ela veio do alto, do interior de uma nuvem fulgurante, embalada por acordes celestiais.

De modo milagroso, o lindo afresco da Virgem, fino como uma casca de ovo e parecendo ter sido pintado a poucos dias, desprendeu-se de seu lugar de origem, em Scútari,  na Albânia.

Em seguida, flutuando pelos ares, atravessou grandes distâncias, até repousar junto a uma igreja em ruínas, na pitoresca cidade de Genazzano, perto de Roma.

Aqui damos uma especial importância à necessidade imprescindível da devoção à Mãe do Bom Conselho em nossas vidas, pois, estejamos certos de que, a todos os nossos pedidos, Maria - a Mãe do Bom Conselho - de alguma forma nos atenderá.

Com efeito, a todo o momento somos solicitados a tomar decisões de que dependem nosso futuro, nossas realizações temporais e, sobretudo, nossa santificação e salvação eterna.

Nesses instantes, quando não raras vezes nos assaltam dúvidas e inseguranças, é que a voz suave e materna de Maria Santíssima nos fala na alma, dando o bom conselho que nos ilumina e orienta no acertado caminho.

Sim, é a Mãe do Bom Conselho toda feita de ternura e solicitude que nos guia, em meio às incertezas terrenas, ao porto seguro do Céu. Lá haveremos todos de chegar, conduzidos pela sua incansável misericórdia, amparo e bondade infalíveis.

Oração a Nossa Senhora do Bom Conselho

Gloriosíssima Virgem, escolhida pelo Conselho Eterno para ser Mãe do Verbo Encarnado, tesoureira das divinas graças e advogada dos pecadores, eu, o mais indigno dos vossos servos, a Vós recorro, para que Vos digneis de ser o meu guia e conselho neste vale de lágrimas. Alcançai-me, pelo preciosíssimo Sangue de vosso Divino Filho, o perdão de meus pecados, a salvação da minha alma e os meios necessários para operá-la. Alcançai para a Santa Igreja o triunfo sobre os seus inimigos e a propagação do Reino de Jesus Cristo por toda a Terra. Assim seja.

19 de abr. de 2016

Arautos do Evangelho realiza Simpósio sobre a Graça, em Fortaleza

Os Arautos do Evangelho, na sede em Fortaleza, realiza entre os dias 21 e 24 de abril, um simpósio sobre a Teologia da Graça, ou seja, sobre a Ação de Deus e de Maria Santíssima nas almas. 

O evento, que tem entrada gratuita, acontece com o professor Roberto Kasuo, doutor em teologia, pela Universidade Bolivariana. 

Além do professor Kasuo, a sede em Fortaleza conta com a presença do Revmo. Pe. Célio Casale, responsável pela comunidade dos Arautos do Evangelho em Recife (PE).

Também ocorre na capital cearense, o I Encontro Juvenil Interestadual, entre Fortaleza e Recife, que reúne cerca de 45 jovens dos dois estados. 

O simpósio e o Encontro Juvenil acontecem na sede, com celebração da Santa Missa diariamente e atendimento de confissões. 

Serviço: 
Arautos do Evangelho - Fortaleza
Av. Cel. Francisco Flávio Carneiro, 190 - Luciano Cavalcante
Telefone: (85) 3272.2413

Como chegar (Google Maps): https://goo.gl/maps/2erzPqVDFXy

Cronograma do Simpósio:


Quinta­-feira, 21 de abril


15h00 às 17h00
 – Reunião de abertura aos jovens, familiares e amigos, com o Prof. Roberto

17h30 – Santa Missa

Sexta­Feira, 22 de abril


19h00 – Santa Missa

20h00 às 21h00 – Palestra com Prof. Roberto

Sábado – 23 de abril


15h30 às 17h30
 – Palestra com Prof. Roberto

18h00 – Santa Missa e imposição do escapulário

Domingo – 24 de abril


9h30 às 11h30
 – Reunião com o Prof. Roberto

15h00 às 17h00 – Reunião com o Prof. Roberto
17h30 – Santa Missa

18 de abr. de 2016

Dona Lucília, modelo de esposa e mãe!

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Os bons exemplos são sempre importante estímulo à prática da virtude. Em Dona Lucilia vemos como uma pessoa, no sagrado âmbito do lar, pode praticar
de maneira excelente a bondade, característica fundamental da mãe católica.
Na espiritualidade católica é costumeira a recomendação da prática da humildade, da despretensão e do desapego de si. Disso deram exemplo incontáveis santos ao longo dos séculos. Contudo, outra grande verdade precisa ser recordada: a obrigação de se reconhecer e louvar os méritos alheios, sempre que for conveniente, sob pena de incorrer em falta por omissão quem não o fizer. Trata-se de um dever de justiça.
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Coetânea de Santa Teresinha, viveu no Brasil uma dama de qualidades incomuns, cujo exemplo de vida costuma ser de grande proveito para as almas (Dona Lucilia, ainda menina, junto com seus irmãos; em 1912, em Paris; e em meados da década de 1930)
Tal foi o ensinamento do Divino Mestre no Sermão da Montanha, verdadeiro compêndio da doutrina cristã: “Não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim no candelabro […]. Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5, 15-16). Ou seja, os bons exemplos devem ser conhecidos, pois é uma maneira de glorificar a Deus, fonte de todo bem que pode haver em nós.
Por essa razão a Igreja promove a solene canonização de pessoas que praticaram a virtude em grau heroico, de modo a servirem de modelo para os fiéis. Mais do que a mera doutrina, são os exemplos que nos movem a trilhar o caminho do bem.
Santos aclamados e venerados em vida
Vemos, assim, que inspira o Divino Espírito Santo almas virtuosas adequadas a cada época. São alento para os bons e, em geral, autênticas pedras de escândalo para os pecadores, a quem, pelo seu modo de ser, parecem bradar: “Non licet tibi!” (Mc 6, 18). E, à semelhança de São João Batista, podem acabar sendo martirizadas, ou então relegadas ao mais estrito ostracismo.
No maravilhoso caleidoscópio da santidade, inúmeras são as vias da Providência para as almas. Por vezes, santos há cujas virtudes são reconhecidas e aclamadas em vida, recebendo eles veneração geral.
Célebre é o caso de Santo Antônio de Pádua, cujas pregações eram assistidas por dezenas de milhares de pessoas, incluindo Bispos e sacerdotes. “Findo o sermão, irrompe o entusiasmo; é uma ebriedade incontida […]. A multidão acorre ao orador. Desejam vê-lo de perto, oscular a sua túnica ou o seu crucifixo; chegam a cortar sua roupa para levar algo como relíquia. É necessária, à sua volta, uma guarda de jovens robustos para protegê-lo, a fim de não ser esmagado pela multidão”.1 Algo semelhante se passou com São João Bosco em Paris, onde fora pedir doações para a sua obra. Na Igreja de São Sulpício, passou por apuros. Levou uma hora para retornar à sacristia, tal o acúmulo de fiéis que desejam falar-lhe ou pedir uma bênção. “Ele conquistou o coração e a imaginação dos parisienses por uma mistura extraordinária de grandeza e de simplicidade, de gravidade e de alegria. Ele desconcertava; depois ele entusiasmava”.2 As mesmas cenas se repetiram nas outras cidades francesas que o santo da juventude visitou.
Ignorada pela maioria dos homens
Outros, porém, trilham o caminho do apagamento nesta Terra, sendo pouco compreendidos até pelos mais próximos, iniciando sua ação sobre um grande número de almas apenas depois da morte. Estes podem tomar para si como excelsa padroeira a própria Mãe de Deus, que levou uma vida oculta, ignorada pela maioria dos homens, mas admirada por toda a corte celeste e pelo próprio Jesus.
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As fotografias que ilustram o livro de Mons. João recentemente publicado pela Livraria Editrice Vaticana revelam uma fisionomia transbordante de doçura e de benquerença incondicional (Dona Lucilia aos 16 anos; em 1906 pouco antes do casamento; em 1912, em Paris)        
Dentre as incontáveis almas incluídas nesta categoria cabe citar Santa Teresinha do Menino Jesus, que viveu no século XIX e de quem se guardam numerosas fotografias todas elas ilustrativas de suas excepcionais virtudes.
Tendo entrado muito jovem no Carmelo e falecido aos 24 anos, pouco haveria a se relatar de sua vida não fossem os Manuscritos Autobiográficos escritos por ordem da superiora, que, por sinal, era uma de suas irmãs de sangue. Com efeito, a leitura dessa obra revela a grandeza de alma da iniciadora da Pequena Via de santificação, abrindo passo para as novas gerações, tão frágeis e incapazes de imitar os santos dos grandes sacrifícios e das grandes generosidades. A sua vida de tal maneira serviu de estímulo às almas que, em pouco tempo, várias edições da obra se esgotaram, para surpresa do Carmelo de Lisieux. E as graças e milagres se multiplicaram, como cumprimento da promessa da santa de enviar uma chuva de rosas sobre a Terra. De desconhecida em vida, hoje Santa Teresinha conta-se entre as santas mais populares e está incluída no privilegiado rol dos Doutores da Igreja.
Aos 91 anos, preocupava-se com os outros
Por coincidência, coetânea desta mesma santa, viveu no Brasil uma pessoa de qualidades incomuns, cujo exemplo de vida costuma ser de grande proveito para as almas. Trata-se de Dona Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira, mãe de um eminente líder católico do século XX, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.
Com a finalidade de divulgar a sua vida, acaba de ser publicada a biografia de Dona Lucilia, escrita por Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, EP, profusamente ilustrada por fotografias que falam por si, tal a expressividade de sua fisionomia transbordante de doçura e de benquerença incondicional.
Como exemplo de mãe católica, nunca tendo atuado fora do lar, poderá servir de inspiração a incontáveis pessoas em nossos dias, cujas vidas também se desenrolam no seio da família. Os inúmeros fatos narrados revelam como é possível executar as tarefas cotidianas com muita elevação de alma, reportando tudo ao sobrenatural e a Deus Nosso Senhor. Como diz São João da Cruz, no final da vida seremos julgados segundo o amor a Deus, e não de acordo com a exterioridade de nossas obras.3
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Dona Lucilia, no fim da década de 1930, visitando as instalações do jornal “Legionário”; na década de 1960, pouco antes de cumprir 80 anos
Algumas atitudes de Dona Lucilia podem nos dar ideia da caridade que a animava. Nos idos de 1968, ao acompanhar a convalescença de Dr. Plinio, que se recuperava de uma grave crise de diabetes e havia se submetido a séria intervenção cirúrgica, teve o autor ocasião de admirar a extraordinária doçura, suavidade e bondade de trato de Dona Lucilia. Preocupava-se com o bem dos outros e esquecia-se de si, dando mostras de um desapego incomum. Assim, em certa ocasião, por indicação médica, o autor precisou aplicar nela uma injeção. Dona Lucilia fitou o jovem que se aproximava com a seringa e disse: “Ora, mas justamente nesta noite de sábado, eu estou dando esta amolação ao senhor! Perdão por estar atrapalhando seu programa”. Terminado o procedimento, antes do jovem se despedir, ela ainda acrescentou: “Entristeceu-me muito ter causado esse transtorno ao senhor”. Para Dona Lucilia não importava o seu mal-estar; aos 91 anos, preocupava-se mais com os outros do que consigo mesma.
Esse esquecimento de si encantava a todos os que tinham algum contato com ela. Certo dia, encontrou no apartamento dois jovens lendo enquanto aguardavam serem chamados por Dr. Plinio. Ela logo interveio: “Os senhores me permitem uma sugestão? Eu fiz muitas imprudências em minha vida, lendo e forçando a vista em lugares pouco iluminados. E agora os vejo neste hall de entrada, que não é próprio para a leitura. Sempre que necessito me distrair folheando álbuns ou revistas, uso a sala de jantar, que tem muita luz, e como eu não vou mais retornar, os senhores poderiam passar para lá. Tenho certeza de que enxergarão melhor naquele ambiente”. Não parou aí a sua solicitude. Por duas vezes, mandou que averiguassem se o seu oferecimento havia sido aceito. Na terceira, a emprega pediu que os dois jovens fizessem o favor de passar à sala de jantar, pois Dona Lucilia não se tranquilizaria enquanto isso não se desse. São cortesias, fruto da autêntica caridade, desconhecidas pelo mundo moderno…
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Dona Lucilia em seu apartamento, há um mês 
de seu falecimento. Esta fotografia pertence
à série tirada pelo autor do livro
“A você eu tenho inteiramente”
Se nem todos a compreenderam e valorizaram, um reconhecimento ela teve a vida toda: o de Dr. Plinio, a quem chamava seu “filhão”. Quando já octogenária, viúva, ao cruzar com Dr. Plinio no corredor do apartamento em que moravam, pôs-lhe as mãos sobre os ombros e, fitando-o no fundo dos olhos, disse: “Filhão, só tenho a você, mas a você eu tenho inteiramente”.
Certa feita, depois de uma estada de Dr. Plinio de cerca de dois meses na Europa, Dona Lucilia olhou-o atentamente ao se reencontrarem, concluindo feliz: “Filhão, graças a Deus, você é sempre o mesmo!”. Como mãe diligente, preocupava-se com a perseverança do filho em meio às batalhas e perigos do mundo.
Em sua nobreza de alma, também não se apegava a vantagens materiais ou de prestígio social. Numa oportunidade em que determinado empreendimento de Dr. Plinio não obteve êxito, ela não se entristeceu. Quando lhe perguntaram qual a razão desse alheamento, respondeu que se tivesse sido bem sucedido, seu filho se ausentaria de casa por longos períodos, tendo que morar em outro Estado, e o convívio entre ambos diminuiria muito. Isso lhe causaria algum sofrimento, pois, conforme comentou na ocasião, “viver é estar juntos, olhar-se e querer-se bem”. Esta era, em suma, a sua divisa, pela qual pautava com verdadeira caridade o relacionamento com o próximo.
Caminhou para a morte com serenidade
“Talis vita, finis ita”, reza o ditado latino. Uma existência levada com tal espírito cristão e desprendimento teria um fim coerente. Assim, foi ela caminhando para a morte com toda a serenidade. Na manhã de 21 de abril de 1968, relata o livro, “com os olhos bem abertos, dando-se perfeitamente conta do solene momento que se aproximava, levantou-se um pouco, fez um grande sinal da cruz e, com inteira paz de alma e confiança na misericórdia divina, adormeceu no Senhor…”.
Começava, assim, junto aos que vão rezar em sua sepultura, e também pela ação de suas fotografias, uma torrente de graças que cresce a cada dia, trazendo alento na prática da virtude a incontáveis almas necessitadas de refrigério, luz e paz. ² (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2013, n. 137, p. 36 à 39)
1 CHERANCÉ, Léopolde de. Saint Antoine de Padoue. Paris: Poussielgue, 1895, p.109-110.
2 LA VARENDE. Jean de. Don Bosco. Paris: Fayard, 1961, p.181. 3 Cf. SÃO JOÃO DA CRUZ. Dichos de luz y amor, n.59. In: Vida y obras completas de San Juan de la Cruz. Madrid: BAC, 1964, p.963.
Fonte: http://www.arautos.org/especial/47234/Dona-Lucilia-Ribeiro-dos-Santos-Correa-de-Oliveira--Eximio-modelo-de-bondade.html

5 de abr. de 2016

SAUDADES DO PARAÍSO

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Deus é eterno e para Ele não existe o tempo. Ao admirar a obra dos seis dias — podemos imaginar—, o Divino Artífice considerou não apenas tudo o que acabara de criar, mas também as maravilhas a serem feitas pelos homens ao longo dos séculos. Quis Ele tornar Adão e seus descendentes partícipes da criação, dando-lhes inteligência e talento para, de alguma forma, completá-la por meio de sua arte e engenho.
Ir. Patricia Victoria Jorge Villegas, EP
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Tomemos, por exemplo, o chocolate. Quem, ao comer um ótimo bombom não sente bem-estar, alegria e ânimo? Depois de um dia de árduo trabalho, um pouco de chocolate amargo ajuda a recuperar da fadiga e do desgaste emocional, pelas comprovadas propriedades energéticas do cacau, além de fazer bem para a saúde por causa dos flavonoides e outras substâncias benéficas que ele contém. Paulo Eduardo Roque Cardoso
Produto do trabalho humano, o chocolate é feito da amêndoa do cacaueiro, torrada e fermentada. Esta árvore tropical, originária da bacia do rio Amazonas e da América Central, se cultiva hoje também por amplas zonas da África e da Ásia. Os habitantes daquelas regiões, na época pré-colombiana, usavam seu fruto para preparar uma bebida quente e amarga, de propriedades revitalizantes. Considerado alimento das divindades, o cacau era consumido pelas castas superiores daqueles povos.
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Cacaueiro
Levado para a Europa pelos colonizadores espanhóis, acabou sendo objeto de aprimoramento em seu preparo e apresentação, tornando-se o chocolate especialidade de países como a Suíça, França, Bélgica e Holanda.
Não poucos mosteiros, sobretudo os cistercienses, destacaram-se pela fabricação de chocolates artesanais, pois a Igreja é Mãe e sabe bem aproveitar as invenções dos homens — quando são boas! — para ajudar as almas.
No entanto, pode um alimento ter influência nas almas? Há no chocolate algo de especial para ele fazer parte da austera vida monástica, a ponto de haver em alguns conventos espaço para uma chocolataria, onde esta iguaria é produzida e degustada?
Sendo o homem composto de corpo e alma, é indispensável o físico auxiliar o espiritual. Assim como quando contemplamos um belo panorama marítimo nossos sentidos se deleitam com o movimento das ondas, a evolução dos peixes e gaivotas, o azul das águas, e depois nosso espírito se enche de considerações sobrenaturais a respeito do que contemplamos, de forma análoga, quando tomamos algum alimento ele causa certo efeito em nossa alma.
Por isso, ao entramos numa confeitaria e saborearmos uma trufa ou um éclair de chocolate, nosso espíritos e predispõe subconscientemente, pelo deleite do paladar, a amar a perfeição em todas as coisas, de acordo com as palavras do Divino Mestre: “Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48).
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Deste modo, além do bem-estar que um chocolate de qualidade produz em nosso organismo, ele pode nos ajudar a lembrar da vida eterna e, em consequência, trazer uma nostalgia do Paraíso perdido: se formos santos nesta Terra, quantas maravilhas muitíssimo superiores a um apurado éclair ou a requintados bombons de licor, gianduia ou praline poderemos degustar no Céu? Pois se são as obras humanas e terrenas tão aprazíveis, como serão as celestes?
Estamos aqui de passagem e devemos saber usar as mínimas oportunidades— como provar um chocolate…— para transcender ao mundo sobrenatural. Peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a elevar nossos corações às grandezas que nos esperam no Céu onde, junto com os Anjos e os Bem-aventurados, gozaremos da felicidade eterna.
(Publicado originalmente na revista “Arautos do Evangelho”, nº 172, abril de 2016, p. 50.Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho,  Gustavo Krajl

4 de abr. de 2016

A Igreja e o universo da pesquisa cientifica

Refletir, questionar, pesquisar… eis os predicados próprios à natureza humana. Dotado de razão, o homem quando bem constituído em suas faculdades, se lança na busca do conhecimento. Movidos por este nobre anseio, pesquisadores fundaram associações e instituições de estudo e pesquisa nas mais diversas áreas do conhecimento. Surgem as academias científicas!
Saberia o caro leitor dizer qual a mais antiga academia científica do mundo? Outra pergunta: qual o espírito que norteou suas indagações e investigações? Apenas damos uma pista para sua resposta: ainda hoje esta academia existe e conta com prestígio e respeitabilidade internacional.
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Fachada da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano
Se porventura o nosso bom leitor não tiver encontrado a reposta, poderá neste curto artigo descobrir a interessante narração da “mais antiga academia científica do mundo” e conhecer sua gênese e a mentalidade que a inspirou e a norteia. Os dados históricos aqui registrados se encontram na Revista Arautos do Evangelho, em seu n° 171 (março de 2016). ¹

A Academia dos Linces – a primeira academia científica do mundo

Com efeito, conta-nos a história que “em 1603, o jovem príncipe Federico Cesi fundou em Roma junto com três amigos a Accademia Lincea – Academia dos Linces. O nome foi adotado por possuir este felino uma vista muito aguçada, atributo reputado necessário para penetrar nos segredos da natureza”. Paulo Eduardo Roque Cardoso
Continua a narração: “Nascia assim a primeira academia científica do mundo, cujos objetivos, porém, transcendem o mero estudo científico, pois seus membros, de acordo com os estatutos, visavam melhor conhecer os elementos da natureza levando uma vida de honestidade e piedade. Declarava-se também neles que os trabalhos de pesquisa deviam ser precedidos de oração, em concreto do Ofício litúrgico da Beata Virgem Maria e do Saltério”.
Eis aqui um dado muito significativo: os fundadores da primeira academia científica não vêem uma contradição entre a piedade, a probidade moral e o estudo científico. Pelo contrário, encontram no sobrenatural, no recurso à oração e na devoção à Maria Santíssima, o fator benfazejo para o bom sucesso dos trabalhos acadêmicos. Vemos neste procedimento a harmonia entre a oração e o estudo acadêmico, entre a fé e a ciência.
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Pátio Academia

A harmonia entre as ciências e as leis morais

A propósito desta harmonia, o Catecismo da Igreja Católica ensina: “[…] se a pesquisa metódica, em todas as ciências, proceder de maneira verdadeiramente científica, segundo as leis morais, na realidade nunca será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus”. E conclui o Magistério da Igreja: “Mais ainda: quem tenta perscrutar com humildade e perseverança os segredos das coisas, ainda que disso não tome consciência, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todas as coisas, fazendo com que elas sejam o que são”. ² Ou seja, aquele que se conduz conforme a lei de Deus em sua pesquisa, será por Ele auxiliado.
Voltemos a nossa história: “[…] sob os auspícios do Papa Clemente VIII, a instituição se expandiu e adquiriu fama, servindo de modelo para instituições similares, como aRoyal Society, fundada em 1662 em Londres, e a Académie des Sciences, erigida em Paris no ano 1666”.

Academia Pontifícia das Ciências

Com a morte de seu fundador, Frederico Cesi, a academia teve suas atividades diminuídas. Até que, com o apoio do Papa Pio IX, em 1847, a instituição reviveu e, posteriormente, em 1936, o Papa Pio XI deu-lhe um novo título, passando a ser chamada – e conhecida mundialmente – Academia Pontifícia das Ciências.
Entre os membros da Academia Pontifícia das Ciências, durante os anos de 1902 a 2007, setenta pesquisadores foram reconhecidos por sua destacada contribuição para os avanços científicos, recebendo o Prêmio Nobel.

Contribuição da Igreja para a ciência

Este reconhecimento da qualidade do trabalho científico levado a cabo por esta instituição faz pensar na contribuição da Igreja para a ciência. Daí porque o conhecido escritor, bacharelado pela Universidade de Harvard e doutorado pela Universidade de Columbia, Thomas E. Woods ter afirmado: “É relativamente simples mostrar que a grande maioria dos cientistas, como Louis Pasteur, foi católica. No entanto, muito mais revelador é o número surpreendente de figuras da Igreja, especialmente de sacerdotes, cuja obra científica foi muito extensa e significativa. A insaciável curiosidade desses homens acerca do universo criado por Deus e a sua dedicação à pesquisa científica revelam – mais do que poderia fazê-lo uma simples discussão teórica – que o relacionamento entre a Igreja e a ciência foi de amizade do que de antagonismo e desconfiança”. ³
Podemos, a partir deste registro histórico da mais antiga academia científica do mundo, e das sucintas considerações – num contexto mais amplo – do papel da mentalidade católica na pesquisa e no estudo científico, constatar o quanto a Igreja contribuiu para o conhecimento humano e o desenvolvimento da sociedade. Que esta contribuição se faça sempre mais crescente nas inúmeras atividades humanas, para o bem do próximo e para a glória de Deus.
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¹ Você Sabia… In Revista Arautos do Evangelho, Ano VX, n° 171, Março 2016, p. 25.
² Catecismo da Igreja Católica. Tópico n. 159: Fé e ciência. 11ª ed. São Paulo: Loyola, 2001, p. 53.
³ Thomas E. Woods Jr. Como a Igreja construiu a civilização ocidental. Tradução de Élcio Carillo. Revisão de Emérico da Gama. 8ª. Ed. São Paulo: Quadrante, 2013, p. 89-90.