29 de jun. de 2016

Apóstolos Pedro e Paulo: colunas, luzes que brilham no coração dos fiéis

Milhares de pessoas, fiéis e peregrinos aguardavam o Papa Francisco na Praça São Pedro para rezar com ele a oração mariana do Angelus e ouvir suas palavras de reflexão no dia em que se comemora os Santos Apóstolos São Pedro e São Paulo.Apóstolos Pedro e Paulo colunas, luzes que brilham no coração dos fiéis.jpg

Depois de presidir na Basílica de São Pedro a missa rezada pela Solenidade dos dois Santos, Francisco desde a janela do apartamento pontifício, fez a alocução costumeira, e depois rezou o Angelus.

Como não poderia deixar de ser, suas palavras foram reflexões sobre a propósito dos dois apóstolos.

Fundamento da Igreja de Roma
O Papa recordou que a Fé dos dois apóstolos é o fundamento "da Igreja de Roma, que sempre os venerou como padroeiros". Mas, lembrou, é "toda a Igreja universal que olha para eles com admiração, considerando-os como duas colunas e duas grandes luzes que brilham não somente no céu de Roma, mas no coração dos fieis do Oriente e do ocidente.
"Se aqui em Roma conhecemos Jesus e se a fé cristã é parte viva e fundamental do patrimônio espiritual e da cultura deste território, isto se deve à coragem apostólica destes dois filhos do Oriente próximo", enfatizou o Papa.

Embora sendo eles bem diferentes, foram enviados a Roma para pregar o Evangelho: Pedro era um "humilde pescador" e Paulo "mestre e doutor".

Porém, historiou Francisco, "Eles, por amor a Cristo, deixaram sua pátria e, independentemente das dificuldades da longa viagem e dos riscos e das suspeitas que encontrariam, desembarcaram em Roma. Aqui eles se tornaram anunciadores e testemunhas do Evangelho entre as pessoas, selando com o martírio a sua missão de fé e caridade".

Nos nossos dias
"Pedro e Paulo hoje retornam idealmente entre nós, percorrendo novamente as ruas desta cidade, batendo na porta de nossas casas, mas acima de tudo dos nossos corações.
Eles querem trazer mais uma vez Jesus, o seu amor misericordioso, a sua consolação, a sua paz.
Acolhamos a mensagem deles! Façamos tesouro de seu testemunho!
A fé firme e sincera de Pedro, o coração grande e universal de Paulo, nos ajudarão a ser alegres cristãos, fiéis ao Evangelho e abertos ao encontro com todos", desejou o Pontífice.

Novos Arcebispos Metropolitas
O trouxe para sua reflexão a lembrança da cerimônia por ele presidida e que havia sido realizada pouco antes na Basílica Vaticana quando abençoou os Pálios dos Arcebispos Metropolitas nomeados no último ano, oriundos de diferentes países:
"Renovo a minha saudação e o meu augúrio a eles, aos familiares e àqueles que os acompanham nesta peregrinação. Os encorajo a prosseguir com alegria a sua missão a serviço do Evangelho, em comunhão com toda a Igreja e especialmente com a Sé de Pedro, como expressa precisamente o sinal do Pálio".

Salus Populi Romani
Antes de despedir-se dos fiéis e peregrinos, o Santo Padre confiou àquela que é a Salus Populi Romani, "o mundo inteiro e em particular esta cidade de Roma, para que possa encontrar sempre nos valores espirituais e morais de que é rica o fundamento da sua vida social e da sua missão na Itália, na Europa e no mundo". (JSG)

Fonte: http://www.gaudiumpress.org/content/80229

28 de jun. de 2016

Em Fortaleza, gente animada na 1ª festa junina dos Arautos do Evangelho

Com muita animação, comidas típicas e sob as bênçãos de Deus, os Arautos do Evangelho realizaram, na noite de 25 de junho (sábado), sua primeira edição da festa junina.

O evento foi dado início às 17h30, com a celebração da santa missa presidida pela reverendíssimo padre Anônio Coluço, EP. A missa contou com a presença de cooperadores e terciários, além de membros do Apostolado do Oratório de diversos bairros da cidade e de cidades vizinhas.

Cerca de 250 pessoas se divertiram sadiamente, dentre adultos, jovens e crianças. Além de brincadeiras, as crianças puderam receber prêmios de acordo com os êxitos nos jogos. Já os adultos contaram com excelente momento de convívio e farta mesa de comidas típicas do período junino, incluindo bolo de milho, pé-de-moleque, churrasco e um saboroso sanduíche de pernil.

Como esperado, foi planejado um momento para louvar a Santa Mãe de Deus, a Virgem Maria, com a entrada dos jovens do Projeto Futuro & Vida, em cortejo com os arautos Geraldo Cúrcio e Paulo Eduardo, trazendo a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima.

Na ocasião, também foi realizado um bingo beneficente, que contemplou inúmeros prêmios aos participantes.

A renda da festa junina foi totalmente revertida para os projetos de evangelização do Futuro & Vida.

16 de jun. de 2016

E para você o que é uma vida feliz?

 Paulo Eduardo Roque Cardoso - Monsenhor João Clá Dias, Fundador dos Arautos do Evangelho
    Está em nossa natureza o desejo da felicidade. Sempre estamos, explicita ou implicitamente,
buscando-a de alguma forma. Basta ser humano para se querer este ideal. E, certamente, quem a encontrou pode dizer que fez o grande negócio de sua vida, ou então, que ganhou a vida.
    Ora, mas quando é que se ganha a vida? Paulo Eduardo Roque Cardoso
    Muitos dirão: Ah! Tendo muito dinheiro!
    Mas se pararmos para analisar aqueles que tiveram ou têm excelente situação econômica, poderíamos nos perguntar: todos eles foram ou são felizes? Muitos de nós, talvez, poderemos responder pela experiência da vida: não! Seja por casos de doença (como dizem: dinheiro não compra saúde), por problemas de relacionamento, seja o que for, o dinheiro não traz o que a vida não proporcionou, não se terá assim a felicidade completa.
      Alguém ainda poderia dizer: a felicidade está no prestígio, em ser aplaudido e ser bem visto. No entanto, quantos foram aqueles que num momento eram elogiados e ovacionados e, com o passar do tempo, foram desprezados ou esquecidos. Há casos também de pessoas muito aplaudidas pela sociedade, mas que por algum problema pessoal carregam grandes amarguras, muito bem dissimuladas perante o público, mas que algumas vezes acabam vindo à luz em desfechos trágicos.
       Bem, mas alguém também poderá dizer: pelo menos alcançam felicidade aqueles que têm os prazeres da vida. Aqui talvez seja mais evidente o desmentido da realidade. Vivenciamos um período histórico no qual uma “famosa” doença atinge a um número crescente de pessoas das mais variadas idades, entre essas, muitas emblemáticas e gozadoras da vida, que após seus momentos de euforia, na intimidade, têm como indesejável companheira a depressão.
       Mas então, como encontrar a felicidade?
        Busquemos na sabedoria da Igreja, “tão antiga e tão nova” – adaptando os dizeres de Santo Agostinho – as luzes do Evangelho que possam iluminar as vias que nos conduzirão a uma felicidade especial, incomparável, que“nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam” (Mt 6, 20).         
Uma leitura cuidadosa do Evangelho de São Lucas mostrará um trecho luminoso a este respeito. Eis que, na contramão da avareza, das honras e prazeres mundanos, deparamo-nos com os versículos 23-24, contemplados no XII Domingo do Tempo Comum, em que Nosso Senhor diz:
         “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9, 23). Seguí-Lo para onde? Onde está Jesus? Ele se encontra agora “sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso” (1), em seu trono de glória, gozando da maior e mais perfeita felicidade, tão grande que não podemos concebê-la: a felicidade eterna! E continua:
         “Pois quem quiser ganhar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9, 24).
         Portanto, atendamos ao convite de Nosso Senhor. Comentava estas divinas palavras, Mons. João Clá Dias: “[…] podemos ressaltar que, ‘ganhar a vida’ significa também ter uma existência pautada pelos Mandamentos, visando como objetivo a santidade. Em nossa época, na qual os homens pagam qualquer tributo para trilhar uma carreira brilhante e construir um nome de prestígio, lucraria muito quem meditasse nessa passagem […]”
Então caro leitor, se nós queremos “ganhar a vida” e, veja bem, nos dois sentidos da expressão, ou seja, alcançarmos a felicidade possível nesta terra e a eterna no Céu, sigamos o maravilhoso conselho, que vem acompanhado de uma promessa infalível, não feita por qualquer homem, mas pelo próprio Homem-Deus:
         “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentada” (Mt. 6, 33).
E assim teremos ganho, como Ele, a vida. Roguemos à Nossa Senhora a graça de seguirmos a Nosso Senhor,  nas vias da santidade, dos Mandamentos, alcançando a verdadeira felicidade.
Adilson Costa da Costa

(1) Catecismo da Igreja Católica. Artigo 6. 11ª ed. São Paulo: Loyola, 1999, p. 189.
(2) Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana e São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 173-174.

14 de jun. de 2016


Maria Santíssima foi Virgem antes, durante e depois do parto!

Em meio aos grandes problemas de nossos dias, poluição, violência, dramas familiares… resolvemos proporcionar ao leitor um momento de paz. E isto, ao trazer à nossa consideração uma verdade que desperta na alma de todo homem aquela atmosfera primaveril. A virgindade, virtude tão esquecida nos dias de hoje. Porém não a virgindade in generis, mas sim a Virgindade de Nossa Senhora.
“Uma Virgem só poderia conceber a um Deus, e um Deus só poderia nascer de uma Virgem”. Nesta conhecida frase de São Bernardo de Claraval pode-se resumir o dogma da Virgindade perpétua de Maria Santíssima. Porém, é mister conhecermos bem a profundidade de tão grande mistério a fim de firmarmos mais nossa devoção à sempre Virgem Maria.

Este ponto da doutrina católica não admite opiniões ou divergências, pois ao atender o anelo da totalidade do orbe católico, o Papa São Martinho I definiu como dogma, no primeiro Concílio Lateranense, em 649: 
“Se alguém não confessa, em conformidade com os santos Padres, que a Santa Mãe de Deus e sempre Virgem, e Imaculada Maria, propriamente e segundo a verdade concebeu do Espírito Santo, sem cooperação viril, ao mesmo Verbo de Deus, que desde todos os séculos nasceu de Deus Padre, e Ela incorruptivelmente O engendrou, permanecendo indissolúvel sua virgindade, antes como depois do parto, seja condenado.” (D 256).
A virgindade consiste na perfeita integridade da carne, e se distingue em três modos: sua existência sem propósito de mantê-la, sua perda material inculpável, e sua existência com inquebrantável propósito de conservá-la sempre e por motivos sobrenaturais. Deste último modo é que nos referimos ao falar da virgindade de Nossa Senhora, é o que nos atesta a Revelação com o profeta Isaías no seu capítulo 7 versículo 4: “eis que uma virgem conceberá”. E também São Mateus: “antes de coabitarem, Ela concebeu por obra do Espírito Santo.” (1,22-23)
Porém a verdade teológica da virgindade de Maria Santíssima não se restringe apenas ao período antes do parto, pois como mesmo afirmou o concílio de Latrão, Maria foi sempre Virgem, isto é, antes durante e depois do parto.
A teologia encontra no mesmo relato de Isaías (7,4) uma revelação de que Nossa Senhora permaneceu Virgem também durante o parto, pois o profeta não só afirma que uma Virgem conceberá, mas que, além disso dará à luz.
São Tomás de Aquino a fim de nos mostrar a razão de conveniência da Virgindade de Maria durante o parto afirma: “covinha que não lesasse a honra da Mãe o que havia mandado honrar aos pais.”[1]
Porém, como se deu este parto virginal?
A teologia nos explica que Nosso Senhor Jesus Cristo utilizou-se da sutileza própria ao corpo glorioso, uma vez que sua alma estava na visão beatífica e o estado normal de seu corpo era glorioso. Essa explicação não vai de encontro com a revelação, pois os Evangelhos nos falam mais de uma vez ter Jesus utilizado esta propriedade (Cf. Lc 4,29-30; e Jo 20,19).
Paulo Eduardo Roque CardosoUma bela figura de como se operou este milagre nos é dada pelo teólogo Contenson: “Assim como a luz do sol banha o cristal sem rompê-lo e com impalpável sutileza atravessa sua solidez, e não o rompe quando penetra, nem quando sai o destrói, assim o Verbo de Deus, esplendor do Pai, entrou na virginal morada e dali saiu, fechado o claustro virginal, porque a pureza de Maria é um limpíssimo espelho que nem se quebra pelo reflexo da luz, nem é ferido por seus raios.”[2]
Seria supérfluo falarmos sobre a conservação da virgindade de Maria Santíssima depois do parto. Entretanto, é neste ponto que muitos inimigos da Igreja procuram ofender a pureza ilibada da Mãe de Deus.
São Tomás de Aquino nos apresenta algumas razões que nos mostram a incongruência de imaginar a corrupção da Virgem Maria:
“Seria ofensivo à perfeição de Cristo, que pela natureza divina é o Filho unigênito e absolutamente perfeito do Pai (Jo 1,14; Heb 7,28), e convinha, assim, que fosse também Filho unigênito da Mãe, como seu fruto perfeitíssimo. […]
“De maneira que absolutamente temos de afirmar que a Mãe de Deus, assim como concebeu e deu à luz a Jesus sendo virgem, assim também permaneceu sempre virgem depois do parto.”
Poderia parecer um tanto suspeitas certas expressões do Evangelho dentre as quais sobressai a firmação que Nosso Senhor Jesus Cristo possuía irmãos e irmãs (Mt 13,55-56; Lc 8,19; Jo 2,12; At 1,14; I Cor 9,5). Ouçamos o renomado teólogo Fr. Royo Marín responder a esta possível objeção tão primária, no entanto muitas vezes usadas pelos inimigos da Virgem:
“É muito freqüente na Sagrada Escritura usar os nomes irmão e irmã em sentido muito amplo, para designar qualquer espécie de parentesco.
“Assim Lot, que era filho de um irmão de Abraão (Gên 12,5), é chamado irmão deste patriarca (Gên 13,8). Jacó é chamado irmão de Labão, que na realidade era seu tio (Gên 29,15). […] E no Novo Testamento é muito frequente chamar irmãos a todos os que crêem em Cristo.
“Os chamados irmãos e irmãs do Senhor não eram filhos de Maria, cuja perpétua virgindade está fora de dúvida. […] [Trata-se por certo] de primos, por serem filhos de algum parente de Maria. Ou de algum irmão de São José.”[3]
Temos assim uma pequena fundamentação daquela verdade que está tão enraigada na alma de todo católico: Maria foi virgem antes, durante e depois do parto. Esperemos que esta breve consideração tenha podido possibilitar ao leitor pelo menos um momento de reconforto de alma, pois é impossível que ao considerarmos a virgindade da Mãe de Deus e nossa, sejamos esquecidos por Ela.
Que Ela nos ajude a enfrentar as dificuldades deste vale de lágrimas, e assim podermos gozar eternamente do seu convívio no Céu.
Por Millon Barros


[1] Tradução da Suma Teológica, B.A.C., Madrid, 1955, t. XIII, p.55, apud CLÁ DIAS, João. Pequeno ofício da Imaculada Conceição comentado. São Paulo: Artpress, 1997.
[2] CONTENSON, Fr. Vicent. Theologia mentis et corporis. Paris: Vivés, 1875, p. 291, apud Clá Dias, João. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição comentado. São Paulo: Artpress, 1997, p.357.
[3] ROYO MARÍN, Antonio. La Virgem María. Madrid: BAC, 19>>

13 de jun. de 2016

“PONDE, SENHOR, UMA GUARDA EM MINHA BOCA”

Aline Karolina de Souza Lima
Desejoso de presentear seus amigos com um banquete, o filósofo Xanthus encarregou seu escravo Esopo de comprar no mercado o que havia de melhor.
Pelo caminho ia Esopo pensativo:
– Tenho de ajudar meu amo, coitado, o ponto fraco dele é a língua, só diz bagatelas e nunca glorifica a Deus com seus lábios. Já sei !!!
Esopo comprou línguas e temperou-as com excelente molho.
Os convidados elogiaram no princípio os manjares, mas, ao fim, se cansaram de tanta língua. Xanthus, furioso, disse ao escravo:
– Não te encarreguei que comprasse o que havia de melhor?
– Mas, meu senhor, o que há de melhor que a língua? Com ela podemos proclamar o bem e falar para edificação do próximo, rezar, expandir a fé, dar bons conselhos e cantar louvores a Deus. Para quantas coisas ela é útil!
– Pois bem, disse Xanthus – que achou ter posto seu escravo em apuros – então comprarás amanhã tudo o que houver de pior. Pois, se para ti o que há de bom é língua, o que há de pior deve ser um pouco melhor.
– Está bem, respondeu o escravo, farei isso com todo gosto.
No dia seguinte Esopo comprou mais línguas, e justificou-se diante de seu senhor, dizendo:
– A língua é o pior que há no mundo! É a mãe da calúnia, da crítica, da mentira. É o órgão do terror! Além do mais, é usada para proferir palavras ociosas, banais, palavras de vaidade, murmurações… Se não é bem empregada, traz inúmeros males.
Relicário com a língua incorrupta de              Santo Antonio de Pádua
O Espírito Santo diz “No muito falar, não faltará a culpa” (Pr 10, 19). São Tiago afirma: “Se alguém não cair por palavras, este é um homem perfeito” (Tg 3, 2). E ainda no Eclesiástico: “Bem-aventurado quem não peca com a língua” (Eclo 25, 11). Não se trata de ficar sempre calados, mas simplesmente refletir antes de falar. Santo Ambrósio diz: “Ou cala, ou dize coisas melhores que o silêncio”.
Deixamos aqui uma pergunta: Quais os assuntos de nossas conversas? Fazemos como Xanthus, pronunciando palavras ociosas e banalidades? Lembremo-nos de que a língua é um ótimo instrumento para glorificar a Deus e praticar a caridade. Saibamos, então, usá-la convenientemente.

9 de jun. de 2016

"É preferível um bom nome a muitas riquezas".

A inveja leva à calúnia.
Numa aldeia da Áustria, em 1847, vivia uma pobre mulher, viúva com cinco filhinhos, e os
sustentava com seu trabalho de costura e bordado. Uma jovem costureira, chamada Ana Geisel, invejosa da muita freguesia que tinha a viúva e desejosa que a perdesse, levantou-lhe uma calúnia: espalhou que a costureira tinha uma doença contagiosa das mais repugnantes. Os fregueses deram-lhe crédito e, não recebendo mais trabalho, a viúva viu-se obrigada a pedir esmola. Mas mesmo as portas daqueles que antes a favoreciam, agora se fechavam para ela. Por ocasião do jubileu de Pio IX, naquele ano, a invejosa caluniadora confessou a verdade e fez pública retratação numa declaração firmada de próprio punho. Essa declaração, a caluniadora mandou afixar no quadro de avisos da prefeitura; além disso, enviou à viúva uma pequena indenização pelos prejuízos causados e, logo, desapareceu da aldeia para ocultar sua vergonha. Paulo Eduardo Roque Cardoso
A pobre invejada e caluniada recobrou sua antiga freguesia, e daí em diante foi sempre muito favorecida de todos.

A detração é a difamação injusta do próximo, e pode ser realizada mediante a murmuração e a calúnia.
Só se dá detração se há injustiça; quer dizer: não haverá detração se a fama sofre detrimento justamente; p. ex., age justamente quem disser ter visto tal ladrão que acaba de roubar.        
A detração pode assumir as formas de murmuração ou de calúnia.
A murmuração consiste em criticar e revelar, sem justo motivo, os defeitos ou pecados ocultos dos outros.
Quando a falta é pública, este fato tira a quem a cometeu o direito de conservar a fama; direito que, apesar de tudo, tem enquanto o seu pecado permaneça oculto. No entanto, mesmo que a falta seja pública, se não existir justo motivo, também não há razão para a crítica, pois a fama já de si deteriorada ainda mais seria desfeita. Por ex., mesmo quando for patente a corrupção ou a inaptidão de certas pessoas, não se deve fazer crítica por criticar, pois faltaria motivo justo.
A calúnia consiste em imputar a outrem defeitos ou pecados que não tem ou não cometeu.
Também se pode cometer este pecado exagerando consideravelmente os verdadeiros defeitos do próximo.     
A detração é em si pecado grave, mas admite matéria leve. A razão já foi dita: o homem tem direito estrito à sua fama e, sem causa justa, não é lícito tirá-la.
A gravidade do pecado de detração mede-se por:
Paulo Eduardo Roque CardosoA importância do divulgado.
O prejuízo causado, não só na reputação do próximo, mas ainda porque lhe causa grave perturbação e desgosto
A condição do murmurador: p. ex., uma pessoa constituída em autoridade causa mais prejuízo ao murmurar do que outra tida por leviana e pouco séria.
A condição do difamado: porque não é o mesmo dizer que um colega é um mentiroso, ou dizê-lo do professor.
Depravada é a natureza do homem. De preferência procura praticar o que é proibido, em vez de fazer o bem.
O pecado da detração é tão comum como o do furto, havendo muitos que em nenhuma consideração têm a reputação do próximo, não calculando talvez as graves consequências da detração, tanto para a vítima da mesma como para o próprio detrator.
A detração é um furto. Santo Tomás de Aquino escreve: "De duas maneiras pode o próximo ser prejudicado por obra: ou manifestamente, como acontece, quando é vítima de um roubo ou de uma outra violência aberta; ou ocultamente, como no furto, a modo de traição. De duas maneiras pode-se causar prejuízo ao próximo pela palavra de modo manifesto, pela injúria, e de modo oculto pela detração" (Suma Teológica, 2.a 2.a 9. 73, a. 1.). A detração ou maledicência não é outra coisa senão uma injusta difamação da reputação de outrem, por meio de palavras ocultas, ditas na ausência da pessoa em questão. O procedimento do detrator, é o mesmo do gatuno; este furta bens, aquele lesa boa fama do próximo. A detração é feita de dois modos: diretamente quando se atribui à outra pessoa uma falta que não cometeu, um vício que não tem; quando se exagera a falta ou o crime realmente cometido; quando, sem necessidade, se revela faltas ocultas do próximo, ou então quando se interpreta mal uma boa ação do mesmo, como se a tivesse praticado de má intenção. Indiretamente a boa fama do próximo fica comprometida, negando, maldosamente ou diminuindo o seu merecimento.
A detração é de todos os furtos o mais grave. O furto avulta-se mais grave, quanto maior for o prejuízo por ele causado. O dano é tanto mais sensível, quanto mais estimado é o objeto furtado. Ora, a boa fama é superior a todas as riquezas materiais. Diz a Escritura: "Melhor é um bom nome, que muitas riquezas" (Pr 22, 1) Embora pobres, mas gozando boa fama, seremos úteis membros da sociedade; sem ter boa reputação, o bem que fazemos, é capaz de ser recebido com desconfiança. Daí devemos deduzir que a detração, a maledicência é de todos os furtos o maior e "em si pecado grave" (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica 2.a 2.a). Leve é considerada a detração, quando é feita por leviandade, sem que disso resulte dano maior para o próximo; mas quem pode calcular e prever o efeito que uma palavra falada pode ter? Quem pode se assegurar de sua detração ter produzido apenas uma leve arranhadura?
O ladrão nem sempre tem cúmplices; o detrator forçosamente os tem. Se não os tivesse, a fama do próximo nada sofreria. Ora, "... quem tais coisas faz - diz São Paulo, - é digno de morte; e não só quem as faz, como também aqueles que em comum acordo com ele as praticam" (Rm 1, 32). Quem dá ouvidos ao detrator, torna-se participante do pecado do mesmo; pois sua presença o anima a difamar o próximo:"Não sei quem está mais em perigo de se condenar: o detrator mesmo ou aquele que o aplaude" (São Bernardo de Claraval).  Assim quem ouve a difamação, não se lhe opondo como devia, dá escândalo contra a caridade, pois sua atitude dá coragem e ânimo ao difamador a cometer o pecado; peca contra a justiça, porque permite que em sua presença se retalhe o bom nome do próximo. A cumplicidade será naturalmente menos acentuada e menos culpável, se há motivos bastantes e fortes, que aconselham ou impõem o silêncio, como sejam o medo e o acanhamento de se opor ao difamador.
Mas o que dizer daqueles que com seu dinheiro, com seu talento, com o prestígio que possuem, ajudam e sustentam a difamação sistemática feita pela má imprensa? Há uma    certa    imprensa, que não perde ocasião de vomitar   difamações contra o Papa e contra a Igreja. E estas difamações correm em milhares de exemplares pelas cidades, entram nas    famílias, nas oficinas e em toda parte. Não falta gente que, não    tendo    o costume de pensar, toma por verdade tudo que a imprensa lhe engoda e considera o jornal o intérprete infalível da verdade.  Que terrível julgamento no tribunal de Deus não terão aqueles escritores infames que   molham sua pena no veneno da difamação e da calúnia.  Que responderão a Deus, eles, como também os leitores e assinantes de tais jornais, instrumentos diabólicos que são para desacreditar   a religião e afastar    as    almas de Deus!
Se ao ladrão, difícil é a restituição dos  bens que furtou, incomparavelmente    mais difícil é reparar os males    da difamação. A boa fama não é uma moeda que possa sem o menor incômodo ser trocada por outra do mesmo valor.  O objeto roubado fica nas mãos do ladrão. O furto, outras consequências não precisa ter senão entre o gatuno e sua vítima.  A difamação, porém, se difunde e se espalha pavorosamente. Como o ladrão, se não lhe é possível restituir tudo, é obrigado a restituição parcial; assim o difamador, assim seu cúmplice: obrigados são a reparar o mal que causaram.
São obrigados a desmentir, se não disseram    a verdade; devem reduzir aos devidos termos suas afirmações, se houve exagero da sua parte. Se o fato difamante é verdade, e se nós nos encarregamos de torná-lo publicamente conhecido, não havendo, pois, detração propriamente dita da nossa parte, devemos, entretanto, procurar meios para desculpar o pecador e atenuar as circunstâncias. Se, apesar das nossas indiscrições, a falta do próximo não chegou a ser conhecida por muita gente, a caridade e a justiça obrigam-nos a calarmos. Sejam como forem as circunstâncias, ponhamo-nos sempre ao lado dos defensores do culpado, procurando nós desta maneira desmanchar o mau efeito que a nossa imprudência ou maldade mesma produziram.
Fujamos dos difamadores, dos intrigantes e mexeriqueiros.
É gente maligna que muito tem da cobra que morde no escondido. Se o próximo fez mal e pecou, pecado maior comete quem o difama. Façamos sempre o melhor conceito possível do próximo. Se um dia aparecer uma falta dele grave e patente, condenamo-la em silêncio, sem que nos arvoremos em seu juiz e muito menos ainda devemos torná-la pública. O pensamento de sermos capazes também de praticar os mesmos pecados, e ainda maiores, se a ocasião para isso se oferecer, e a graça de Deus nos faltar, deve manter-nos sempre na prudente reserva.

Milhares de pessoas difamam o próximo e pensam que estão puros diante de Deus. Quanta ilusão!

Conta-se que um discípulo do sábio Sócrates, querendo contar-lhe um fato que ouvira numa roda de conhecidos, começou assim:
- Ouve, mestre, o que se diz de um teu amigo...
- Pára! Pára! - interrompeu-o o filósofo. - Já passais por três peneiras o que me vais contar?
- Por três peneiras!? - exclamou o discípulo, admirado.
- Sim, meu amigo, por três peneiras. Vejamos se o que me desejas contar pode passar por elas. A primeira é a verdade. Tens plena certeza do fato? Examinaste seriamente se é verdade?
- Não examinei, mas ouvi falar...
- Bem - atalhou Sócrates - pois que não passa pela primeira, estás certo de que passará pela segunda peneira? Se o que me queres contar, se bem que duvidoso, é ao menos alguma coisa boa?
- Boa, propriamente, não é. Compromete...
- Ora - interrogou novamente o mestre - se é duvidoso e mau o que me vens contar, vejamos se consegue salvar-se na última peneira. Tens motivos graves para contar o que ouviste? Será necessário que eu seja informado?
- Necessário, propriamente, não, mas...
Sorriu, então, o filósofo e continuou sua lição, dizendo:
- Se o que me desejas contar é duvidoso, não é coisa boa, nem precisa ser conhecido por outros, melhor será não contá-lo.
A difamação é um pecado como a calúnia e a maledicência. 

CUIDAR E DEFENDER A BOA FAMA

Entende-se por fama a boa ou má opinião que se tem de uma pessoa.  Todo o homem tem direito ao bom nome, por força da sua dignidade natural de ser-racional, criado à imagem e semelhança de Deus.
Durante o julgamento de Cristo diante do Sinédrio, um servo do Sumo Sacerdote deu uma bofetada no Senhor, que tinha respondido a uma pergunta de Caifás. E Jesus defende-Se, dizendo: "Se falei mal, mostra-Me em quê; mas, se falei bem, por que Me bates?" (Jo 18, 23).   
Jesus deu-nos o exemplo de como se deve defender a boa fama quando injustamente nos atacam.
A difamação do próximo constitui pecado contra a justiça estrita, e obriga a restituir.

RESTITUIÇÃO DA FAMA

Assim como quem causa dano a outro em seus bens materiais tem obrigação de os reparar, com igual
Como reparar a maledicência lançada?
ou maior razão isto se deve fazer nos bens espirituais, por estes serem de maior valor que aqueles. Para que alguém esteja obrigado a reparar a fama, é preciso que se dêem estas três condições simultâneas.
Primeira: Que se lhe tenha tirado por meios injustos a fama a que tinha direito.
Segunda: Que a nossa ação tenha sido causa verdadeira e não mera ocasião. 
Terceira: Que se tenha pecado ao tirar a fama a outro. No entanto, neste último caso, mesmo que não houvesse culpa da nossa parte, ao danificar a sua fama, temos de repará-la se o pudermos fazer facilmente, se não por obrigação de justiça, pelo menos por caridade. 
O Catecismo da Igreja Católica no n° 2487 ensina: "Toda falta cometida contra a justiça e a verdade impõe o dever de reparação, mesmo que seu autor tenha sido perdoado. Quando se torna impossível reparar um erro publicamente, deve-se fazê-lo em segredo; se aquele que sofreu o prejuízo não pode ser diretamente indenizado, deve-se dar-lhe satisfação moralmente, em nome da caridade. Esse dever de reparação se refere também às faltas cometidas contra a reputação de outrem. Essa reparação, moral e às vezes material, será avaliada na proporção do dano causado e obriga em consciência".
                   
VOCÊ CONFESSA ESSE PECADO?

Católico, examine bem a sua consciência perguntando:
Levantei calúnia ou falsos testemunhos?
Menti com prejuízo do próximo?
Manifestei ou publiquei alguma falta ou defeito oculto do próximo?
Murmurei do próximo?
Semeei discórdias, mexericos ou enredos, ou tenho dado prejuízo a outrem por causa da minha má língua?
Reparei o mal que fiz com calúnias, detrações, etc?

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Bibliografia

Bíblia Sagrada
Pe. J. Bujanda, Teologia Moral para os fiéis
Ricardo Sada e Alfonso Monroy, Curso de Teologia Moral
Pe. Francisco Alves, Tesouro de Exemplos
Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate!
Catecismo da Igreja Católica

Segundo Catecismo da Doutrina Cristã

Fonte: http://www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0162.htm
Obs.: as imagens não pertencem ao artigo original.

8 de jun. de 2016

VÍDEO | A Igreja resiste aos ataques do mundo



Neste programa, o Diácono Thiago Geraldo. EP, fala sobre castigo que cairá sobre as nações vizinhas à Jerusalém, segundo as profecias de Sofonias. 
Similaridades com o nosso tempo? Veja, e opine. 

CLIQUE>>> A Igreja resiste aos ataques do mundo <<<CLIQUE

6 de jun. de 2016

A inveja nas Sagradas Escrituras

Nas Sagradas Escrituras, são numerosas as referências sobre o vício da inveja. No livro dos Provérbios, ela é considerada como "a cárie dos ossos" (Prov. 14, 30) e São Paulo a enumera entre os pecados que nos fazem perder o Reino dos céus (Gl, 5, 21).
Foi por inveja que os irmãos de José resolveram vendê-lo como escravo aos egípcios (Gn. 37,11). Também Saul, ao ver que Davi vencera o gigante Golias, encheu-se de inveja contra ele e por diversas vezes tentou matá-lo (I Sam. 18:6-8).
Já São Mateus nos narra que até mesmo Pilatos reconheceu que foi por inveja que os fariseus entregaram Cristo para ser morto: "Estando o povo reunido, perguntou-lhe Pilatos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado o Cristo?São Tomás de Aquino.jpgPois sabia que por inveja o haviam entregado"(Mt 27, 18).
Etimologia da palavra "inveja"
Etimologicamente, a palavra "inveja" é composta pelo verbo latino videre (ver) e da partícula in, que indica privação. Desta forma, invidere significa olhar com maus olhos, projetar sobre o outro um olhar malicioso. Daí a origem do famoso trocadilho de Santo Agostinho: "Video, sed non invideo" [1], ou seja, "vejo, mas não invejo."
As definições sobre a natureza da inveja ao longo dos séculos concordam notavelmente entre si. Na tradição aristotélica ela é considerada como uma dor causada pela boa fortuna que goza alguns de nossos semelhantes. Paulo Eduardo Roque Cardoso
Para São Tomás de Aquino, a inveja se caracteriza por uma "tristeza do bem alheio, enquanto se considera como mal próprio, porque diminui a própria glória ou excelência." [2]
A inveja é também entendida como uma paixão que é ao mesmo tempo filha do orgulho e da malquerença, em que se misturam o ódio e o desgosto provocado pela felicidade de outrem.
É por este motivo que os invejosos estão condenados a sofrer continuamente, pois o ódio provocado pela ira facilmente se apazigua mediante a reparação, mas aquele nascido da inveja não se amansa nem admite reparações. Mais ainda, irrita-se com os benefícios recebidos.
Seu âmbito de ação parece não conhecer limites, pois até mesmo no céu ela se fez presente, quando os anjos maus invejaram a glória que Deus havia reservado aos homens.[3] Granada a considera como um dos pecados mais estendidos, pois a inveja a impera em todo o mundo e mora especialmente nas cortes e palácios, nas casas dos senhores e príncipes, nas universidades e cabidos e ainda, nos conventos de religiosos. Seu objetivo e meta é perseguir aos bons e aos que por suas virtudes são altamente apreciados.[4]
Por Diácono Inácio de Araújo Almeida
[1] Santo Agostinho: In Evangelium Ioannis Tractatus 44, 11.
[2] São Tomás de Aquino. Suma Teológica: II-II, q. 36, a. 1.
[3] Caremo, Girolamo. Istruzioni Pratiche intorno ad alcuni Doveri Generali e particulari del Cristiano. 2a ed. Gaetano Motta: Milano, 1822, p. 332.
[4] Granada Luis de. Obras de V. P. M. Fray Luis de Granada. Tomo I. La Publicidad: Madrid, 1848, p.132.

CURSO DE FORMAÇÃO SOBRE A HISTÓRIA DA IGREJA.

VENHA PARTICIPAR!

A comunidade dos Arautos do Evangelho em Fortaleza recebe a visita do Revmo. Pe. Caio Newton, EP, entre os dias 02 e 11 de junho. 

Nesses dias, o Pe. Caio Newton está fazendo palestras sobre a História da Igreja. Além dos encontros, haverá atendimento de confissões e oração de cura e libertação.

Os horários de atendimento de confissões e oração de cura e libertação serão das 10h00 às 12h00, e das 15h30 às 18h30, de segunda a sexta-feira. Já ao sábado e domingo, as confissões serão somente pela manhã. 

Confira a seguir os horários das santas missas e palestras:  

Dia 06/06 - Segunda-feira

19h00 - Santa Missa
20h00 - Palestra sobre a História da Igreja (Pe. Caio Newton)

Dia 07/06 - Terça-feira

19h00 - Santa Missa
20h00 - Palestra sobre a História da Igreja (Pe. Caio Newton)

Dia 08/06 - Quarta-feira

19h00 - Santa Missa
20h00 - Palestra sobre a História da Igreja (Pe. Caio Newton)

Dia 09/06 - Quinta-feira

19h00 - Santa Missa
20h00 - Palestra sobre a História da Igreja (Pe. Caio Newton)

Dia 10/06 - Sexta-feira

19h00 - Santa Missa
20h00 - Palestra sobre a História da Igreja (Pe. Caio Newton)

Dia 11/06 - Sábado

14h30 - Santa Missa dos Jovens
15h30 - Palestra sobre a História da Igreja (Pe. Caio Newton)
20h00 - Finalização da palestra sobre a História da Igreja (Pe. Caio Newton)

O Revmo. Pe. Caio Newton, EP, é pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças. Saiba mais em: http://www.arautos.org/view/showEspecial/9940-paroquia-nossa-senhora-das-gracas


ATENÇÃO: A partir de junho, a missa aos domingos será às 17h00.

4 de jun. de 2016

A tentação da “limbolatria”

"Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: ‘Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo'. Jesus respondeu: ‘Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?'. E disse-lhes: ‘Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens'. E contou-lhes uma parábola: ‘A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita'. Então resolveu: ‘Já sei o que vou fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!'. Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?'. Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus'" (Lc 12, 13-21).
Diante dos prazeres, até legítimos, que a vida nesta Terra pode oferecer, facilmente o homem se esquece da eternidade para a qual foi criado.
Monsenhor Joao Cla Dias_EP.jpgMons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I - A vocação trocada por uma fechadura...
Conta-se que certa vez um monge acabou por abandonar sua vocação em troca de uma mera bagatela. Havia ele trabalhado durante anos como exímio ferreiro e, em determinado momento, sentira em seu interior um forte impulso para seguir as vias da vida contemplativa. Deixando tudo, dirigiu-se a um mosteiro, onde foi admitido.
Passado algum tempo, foi-lhe destinada uma cela cuja porta rangia e batia sem cessar dia e noite, pois não se fechava bem. Querendo resolver o problema, nosso monge pediu licença ao superior e fabricou uma magnífica fechadura. Além disso, aproveitou para consertar a própria porta, ajustando-a melhor ao marco da parede. Afinal, conseguiu transformá-la numa peça modelar para toda a comunidade.
Encantado com seu próprio labor, passeava pelos corredores do edifício, admirado por não achar nenhuma fechadura comparável à dele, tão perfeita e bem acabada. Entretanto, com o correr dos meses, foi criando dentro de si um apego excessivo pelo acessório, aparentemente inofensivo.

Certo dia ordenou o abade uma mudança de celas na comunidade. Acabrunhado pela perspectiva de ver-se obrigado a repetir o minucioso trabalho em seu novo destino, o monge-ferreiro pediu permissão para levar consigo a fechadura. Mas, por determinação do superior, ninguém dispunha de autorização para transladar alguma parte do mobiliário na mudança de uma cela para outra. Descontente com a deliberação do prior e não estando disposto a renunciar à sua excelente fechadura, o monge arrancou-a da porta e decidiu abandonar a vocação religiosa, recebida das mãos de Deus, portando consigo o objeto de seu apego e embrenhando-se nos caminhos do mundo...
O que está por detrás da história da fechadura desse monge? É o que nos ensina o Evangelho do 18º Domingo do Tempo Comum.
II - O perigo da ganância
O episódio narrado neste Evangelho se passa quando Jesus e seus discípulos estavam a caminho de Jerusalém, cidade onde Ele iria consumar sua missão divina. Anteriormente, por duas vezes, já havia predito a Paixão (cf. Lc 9, 22.44). Contudo, os discípulos não entendiam o elevado significado de tal anúncio e ainda tinham a esperança de serem os primeiros no suposto Reino Messiânico a ser fundado por Cristo neste mundo (cf. Lc 9, 45-46). Para corrigir essa visualização humana, Ele os enviara em missão, dando-lhes poder para expulsar os demônios, e lhes ensinara o Pai Nosso, incitando-os à perseverança e confiança na oração (cf. Lc 10, 1.17; 11, 1-4). Foi em meio às atividades desse ministério tão sobrenatural que foi feito ao Mestre este singular pedido.
"Naquele tempo, 13 alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: ‘Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo'".
As palavras iniciais do trecho evangélico contemplado deixam-nos patente a inteira disposição de Nosso Senhor de atender todas as pessoas ao seu redor. Mantendo o livre acesso a Si, sem intermediário algum, encontrava-Se sempre pronto a responder às necessidades dos que d'Ele se aproximavam. Só este minúsculo pormenor já seria suficiente para encher-nos de confiança.
De fato, a cena narrada apresenta-nos o caso de uma pessoa que se dirigiu a Jesus para pedir ajuda. Trata-se, sem dúvida, de um irmão mais novo enfrentando dificuldades na partilha de uma herança que lhe cabia. Pela lei civil judaica, quando dois irmãos herdavam do pai um legado, este deveria ser dividido em três partes, ficando duas para o mais velho e tão somente uma para o outro (cf. Dt 21, 17).1 Dado o caráter ganancioso do ser humano, apesar da lei, esse preceito não deixava de motivar frequentes discussões no momento de sua aplicação. Era comum tais contendas terminarem diante de um juiz, de um rabino ou de outro árbitro apropriado. Segundo comenta Lagrange, "os rabinos haviam habituado os judeus a recorrerem a eles para fechar as questões que deviam mais ou menos ser resolvidas de acordo com os princípios do direito".2
Um defeito comum a todas as eras
O contendor do Evangelho, ao se aproximar de Nosso Senhor pedindo-Lhe a intervenção na divisão de seus bens de família, nem parece ter-se detido um pouco para refletir a respeito da grandeza do Mestre diante da qual se encontrava, considerando-O apenas como alguém com enorme popularidade, como um advogado seguro para a causa que anelava ganhar para si. Bem podemos imaginá- lo sofrendo a perda do progenitor já na idade madura. A juventude ficara para trás e ele desejava garantir o futuro, preocupação muitas vezes dominante na pessoa que avança em anos.3 Essa é a mentalidade dos que, em tal etapa da vida, perdem o senso da generosidade e a capacidade de compreender o caráter transitório das posses temporais. E o irmão mais novo do Evangelho está com os olhos fixos em seu futuro, naquilo que poderíamos definir - apesar de paradoxal - como a perpetuidade desta Terra.
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Moedas de ouro da época do Império 
 Museu de Valores do Banco Central do Brasil, Brasília
Desde o primeiro momento da saída de Adão e Eva do Paraíso Terrestre, a natureza humana passou a procurar o fruto da árvore da vida no exílio, na pátria terrena. Também em nossos dias, e com mais intensidade do que em épocas anteriores, existe um forte anseio de encontrar, através da medicina, uma "ampola da vida eterna", para tentar-se viver em um limbo permanente neste mundo. Essa atitude é muito comum e - segundo expressão usada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira - poder-se-ia denominar "limbolatria",4 termo que bem designa a posição dos adoradores de uma existência feliz em um limbo sem fim, numa contínua fruição de prazeres aqui neste mundo, esquecendo-se da verdadeira eternidade e do sobrenatural. Diante de tal concepção da vida, involucrada no pedido relatado no Evangelho, vejamos qual foi a resposta do Divino Redentor.
A missão de Nosso Senhor não era temporal
14 "Jesus respondeu: ‘Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?'".
Não consta haver no Evangelho nenhuma negação clara e explícita de Jesus a qualquer pedido, sobretudo se feito com sincera humildade de coração. No entanto, no caso desse homem, Ele recusa pronunciar-se sobre o assunto, por não ser essa sua missão. Competia-a, sim, aos juízes e rabinos, os quais tinham por direito tal responsabilidade. Segundo comenta Santo Ambrósio, "aquele que tinha descido por razões divinas, com toda a justiça rejeita as terrenas, e não se digna fazer-se juiz de pleitos nem repartidor de heranças terrenas, pois a Ele cabia julgar e decidir sobre os méritos dos vivos e dos mortos".5
Esses primeiros versículos são suficientes para deles tirarmos uma bela lição. A reação de Cristo nos mostra que quando alguém deseja um bem apenas para si, Deus se afasta. Zeloso, porém, pela eterna salvação de todos, quis apresentar àquele homem um novo ensinamento: o perigo de se deixar envolver de modo desequilibrado pelas questões de uma herança familiar. "Pedia o demandante a metade da herança" - afirma Santo Agostinho -, "pedia a metade de uma herança da Terra, e o Senhor lha ofereceu toda inteira no Céu: dava-lhe mais do que pedia".6 Isso acontecera pelo fato de estar aquele homem voltado para os bens visíveis com uma volúpia incomum, querendo tê-los, de qualquer forma, em suas mãos.
O que é a ganância?
15 "E disse-lhes: ‘Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens'".
Em primeiro lugar, é surpreendente ver Nosso Senhor fazendo uso da palavra atenção, para mostrar a importância capital da frase que ia proclamar. Ora, nesse versículo, devemos levar em conta que quando Jesus fala em "todo tipo de ganância" está querendo dizer que não devemos estar fixados desequilibradamente na questão do dinheiro. Mas não só. Com efeito, se dissesse somente "com a ganância", poderia significar tão só o dinheiro. Havendo dito "contra todo tipo de ganância", poderia ou não estar se referindo a ele, abarcando, portanto, outros bens materiais.
Se desejamos algo para nossa estabilidade ou bem pessoal, divorciado do amor a Deus e ambicionado com sofreguidão, isto se chama ganância! Ensina-nos o Doutor Angélico que o pecado da ganância se efetua "quando se almeja adquirir e ajuntar riquezas ultrapassando a devida moderação. Isto é próprio da avareza, a qual se define como sendo um desejo desmedido de possuir".7 Voltando, então, à história do infeliz monge-ferreiro, cabe perguntar: como é possível a vida de um homem se resumir no amor a uma fechadura?
Sejamos honestos e olhemos bem de frente o amplo campo de bens ao nosso redor. São João da Cruz os define com precisão: "entendemos por bens temporais riquezas, estados, ofícios e outras pretensões, e ainda filhos, parentes, casamento, etc.".8 Esses bens poderão consistir até mesmo em uma fechadura, um bichinho ou um objeto ao qual nos apegamos em excesso ou de modo desequilibrado, embora nos afaste de Deus.
No entanto, existem outras espécies de ganância como a do sentimentalismo e do romantismo, que nos obrigam a pôr Deus de lado para adorarmos o que é meramente humano. Quando alguém entrega seu coração à ganância dessa consideração e adoração dos outros - e esta é a essência do romantismo -, sempre quererá mais, vivendo em contínua inquietação. Ainda outro tipo de ganância é a vaidade, que leva ao desejo de chamar a atenção sobre si, seja pela beleza física, causando cuidado excessivo da própria aparência, seja por achar-se possuidor de uma grande inteligência ou dotado de outras qualidades. Ganância podemos ter inclusive em relação à saúde, tomando cuidados desproporcionais
e exclusivos em relação ao corpo e ao tratamento das doenças.
O apego pode se concentrar em poucos bens
Nosso Senhor fala em "abundância de bens". Todavia, é preciso ter presente que se nos encontramos em uma situação de escassez material, de dinheiro ou de bens de outra índole, isto não significaria estarmos livres do risco de apego a alguma coisa, como mostra o conto sobre o monge e a fechadura.
campo de trigo.jpg
Campos de trigo prontos para a colheita (Paraguai)
Nesse sentido, continuando sua análise, São João da Cruz comenta como, de fato, é terrível a afeição desregrada à abastança material, mas explica que se uma pessoa tem muitos bens, o apreço dela se dividirá por todos eles. Será o caso, por exemplo, de um possuidor de mil moedas de ouro. Se vier a perder uma só, ficando com novecentos e noventa e nove, o abalo não será tão grande. Porém, se perder novecentos e noventa e nove, todo o seu cuidado pelas mil moedas se concentrará na que lhe restou. Dessa forma, quem tem poucos bens pode lhes ter um apego tão intenso como o de um nababo por toda a sua fortuna, esquecendo-se, por causa disso, de Deus.
É indispensável, contudo, ressaltar um matiz importante. Jesus não está condenando, nesta parábola, a posse de bens, nem o princípio de propriedade, mas sim a ganância, ou seja, o desregramento na consideração dos bens temporais. 9
Um homem abençoado por Deus
16 "E contou-lhes uma parábola: ‘A terra de um homem rico deu uma grande colheita'".
O Divino Mestre frisa, já no princípio, a fortuna desse homem da parábola. Era rico, bem estabelecido e atendido com largueza em todas as suas necessidades. De fato, a pecuária e a agricultura eram as principais fontes de riqueza na Palestina daquele tempo. E ele estava, pois, lucrando, porque a generosidade de Deus lhe havia proporcionado a alegria de viver na abundância. Tanto tinha sido favorecido, que sua terra lhe dera uma grande colheita e, segundo podemos supor pela continuação da narrativa, com um resultado muito superior ao normal.
Ora, essa terra, a quem pertence? Sem dúvida é propriedade do agricultor, mas quem a criou? Quem a fez produzir frutos? É certo que foi a semente, entretanto... quem engendrou a semente? E se formos mais adiante, chegaremos à conclusão de que, no fundo, tudo é de Deus e só a Ele pertence! "De Deus procedem todos esses benefícios, a boa terra, a boa temperatura do céu, a abundância de sementes, a ajuda dos bois  e de tudo o que a agricultura necessita para produzir com abundância. E o que descobrimos nesse homem?". 10 Descobrimos que, diante de tal bondade da Providência Divina, sua reação não foi de reciprocidade.
Egoísmo e ganância sempre vão de mãos dadas
17 "Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita'. 18 Então resolveu: ‘Já sei o que vou fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. 19 Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!'".
A atitude inicial do proprietário é a daquele que, de repente, se depara com uma situação de fartura inesperada. "Que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita!". Lamentável foi a intenção, cheia de egoísmo, subjacente a este seu primeiro pensamento. Ao encontrar os campos floridos e prontos para deles tirar o rendimento de uma safra como jamais lograra imaginar, o homem sentiu efervescer em si o elixir da "limbolatria", isto é, o desejo de permanecer nesta Terra por toda a eternidade, sem infortúnios, como demonstram as palavras do versículo seguinte.
Deus desapareceu de seus planos, e quando isso acontece, entra o desastre. Como efeito, quando O retiramos do centro de nossas preocupações, nossa própria pessoa assume com rapidez o papel principal de nossa vida, pois para nós só existem dois amores: ou amamos a Deus até o esquecimento de nós mesmos, ou amamos a nós mesmos até o esquecimento de Deus.11
O personagem da parábola quer guardar o produto da boa colheita de modo exclusivo para sua satisfação. Conforme advertia Nosso Senhor pouco antes, ele é ganancioso e avarento; deseja tudo para si e só para si! Partindo de um princípio errado - o da egolatria -, nem sequer se lembra de fazer algum bem aos outros. Havendo recebido com copiosidade das mãos do Criador aquela colheita, e numa quantidade tão superior à esperada, de forma a nem ter onde armazená-la, ele deveria, segundo o desejo divino, utilizá-la também para o bem do próximo. Mas não lhe passara pela cabeça semelhante possibilidade! Se uma alma não tem a Deus como centro de suas cogitações, entra-lhe uma sofreguidão própria ao apego e, com ela, a perturbação. "Non in commotione Dominus - o Senhor não está na agitação" (I Re 19, 11). O espírito de ganância faz-nos perder a paz.12
Do mesmo modo como o já comentado monge-ferreiro não se preocupara em fazer novas fechaduras para todas as celas do mosteiro - embora fosse notável na profissão e tivesse sobrada habilidade para fazê-las -, aquele proprietário da parábola pretende construir os celeiros pensando em uma estabilidade baseada no mero gozo da vida pessoal. Em ambos sobressai uma profunda atitude egoísta.
Por outro lado, o Mestre não afirma haver uma intenção explícita de pecado em tudo isso. No entanto, ao pôr na boca daquele agricultor as palavras "descansa, come, bebe e aproveita...", aponta para um esquecimento do Primeiro Mandamento da Lei de Deus: "Amarás o Senhor teu Deus sobre todas as coisas". Quem causara aquela situação de fartura fora agora posto de lado e não mais lembrado.
É por esse motivo que tal proprietário nem acha suficiente o considerável sustento reservado nos celeiros já existentes. No ano seguinte e nos próximos, iria colher de novo, quiçá ainda mais. Contudo, a avareza e o desejo de fruir tornavam-no cego. Este é o pensamento de todos quantos são dominados pela ganância. Nunca se satisfazem com os dons recebidos das mãos de Deus, ansiando por algo a mais. "A razão pela qual a cobiça nunca se sacia é que o coração do homem está feito para receber a Deus. [...] Assim sendo, não pode enchê-lo aquilo que é menos que Deus".13 Essa insatisfação traz um desequilíbrio emocional, traduzindo-se seus frutos na falta de virtude, devido ao desejo desordenado de querer cada vez mais. É a ganância qualificada por São Bernardo de "mal sutil, secreta peçonha, peste oculta, artífice da dor, mãe da hipocrisia, pai da inveja, origem dos vícios, semente de excessos, [...] traça da santidade que torna cegos os corações, converte em doenças os próprios remédios e em novos achaques a medicina".14
Ai de quem erige sua vida - espiritual ou temporal - só para si mesmo! Mais cedo ou mais tarde ouvirá a mesma advertência saída dos lábios de Nosso Senhor ao homem desta parábola.
No fim da vida, de nada nos servirá a ganância
20 "Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?'. 21 Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus".
Continuava a acumular trigo e bens materiais, pretendendo construir um novo celeiro seguro, pois fizera da vida no tempo seu último fim, julgando prolongá-la eternamente. Sua loucura consistiu em um ato de desamor em relação ao eterno. Esse pobre coitado talvez até tenha visto a demolição da antiga despensa. Sem embargo, nem sequer pôde ver os fundamentos da nova construção.
Quem não cumpre o Primeiro Mandamento da Lei de Deus encontra-se no caso desse infeliz. Tal é a atitude de muitas pessoas, as quais, "obscurecidas com a cobiça, nas coisas espirituais servem o dinheiro e não a Deus, e movem-se pelo dinheiro e não por Deus, pondo à frente o preço e não o divino valor e prêmio, fazendo de muitos modos seu principal deus e fim o dinheiro, antepondo-o ao último fim que é Deus".15 Esquecem-se das duas vidas presentes dentro de si: a humana e a divina, e cuidam com todo o zelo da primeira, deixando de cuidar da última, que é o estado de graça.
Ora, quem de nós não sofreu a tentação de acumular outros tipos de bens, apesar de eles nos afastarem de Deus e da eternidade, esquecendo a breve duração da nossa vida? Quantos e inúmeros casos há, na História, de pessoas cuja vida foi arrancada precisamente quando passavam pelo auge de uma realização terrena! Com efeito, afirma com severidade São João da Cruz: "todas as vezes que gozamos de maneira vã, Deus está nos olhando, traçando algum castigo e trago amargo, segundo o merecido".16 Não sejamos loucos! Quem pode assegurar o dia e a hora da própria morte, se até os médicos são incapazes de determiná-las com exatidão? Quem pode garantir a duração de sua vida até o fim da noite de hoje? Quem pode certificar-se de que continuará existindo amanhã? Para morrer, basta uma única condição: estar vivo!
Portanto, é mil vezes melhor estar, a todo instante, com a principal atenção posta no que é eterno. Depois da morte viveremos para sempre e, em um determinado momento, recuperaremos nossos corpos, em estado de glória ou de horror, dependendo de nossas obras. Se formos para o Céu receberemos a glória, mas se formos para o inferno será o perpétuo sofrimento.
Valerá a pena, pois, ficar perturbado, vivendo na aflição das coisas concretas, esquecendo-se das eternas? Ao proceder desse modo, por mais que possuamos incontáveis colheitas, desejemos construir inúmeros celeiros ou tenhamos propriedades sem fim; ou, em situação oposta, ainda que sejamos pobres, sentados à beira de um caminho pedindo esmola, o resultado será o mesmo: ficaremos amargurados, como o triste homem da parábola, dispostos a com ele construir um celeiro para esta Terra e não para a eternidade.
A legitimidade da reserva
Entretanto, uma pergunta pode surgir em nosso interior: como agir em relação às incertezas da vida presente? É legítimo fazer reservas? Como apaziguar as lícitas preocupações humanas com a estabilidade material? Na verdade, quem não examinasse com esmero o texto evangélico poderia ficar com uma impressão errada, imaginando que está se reprovando o direito de possuir, pois o homem da parábola é tido como louco pelo próprio Jesus. Estaria Deus condenando a aspiração a um direito, posta por Ele mesmo na alma humana17 - o direito de propriedade -, dando a ideia de que é pecado desejar ou possuir bens? Qual foi a loucura do homem? Teria Cristo condenado o ato de fazer reserva, pelo simples fato do agricultor, havendo reunido uma enorme colheita, muito acima de suas expectativas, ter querido levantar um celeiro capaz de receber grandes quantidades até o fim da vida? Se assim fosse, toda casa com despensa estaria condenada, porque não seria permitido fazer provisões, de acordo com este Evangelho...
Infelizmente não é raro ouvirmos argumentos absurdos contra o direito de propriedade. Ora, ele está presente nessa aspiração posta por Deus no coração humano. E é a prática de tal direto que nos permite conservar os meios para garantir a subsistência e atender as necessidades pessoais e familiares ou, até mesmo, para uma digna representação social. Mas, antes de tudo, é preciso ser rico perante Deus. E essa riqueza se conquista tendo-se a primeira atenção voltada para os bens eternos. Dessa forma, se o amor a Deus estiver presente e o egoísmo posto de lado, até o fazer reserva e o entesourar bens será legítimo.
Paulo Eduardo Roque Cardoso.jpg
Pôr do Sol na casa Lumen Coeli, dos Arautos do Evangelho - Mairiporã (SP)
Porém, o amor a Deus exige um desdobramento de amor ao próximo. É preciso, então, receber e economizar para sempre distribuir, sem guardar com exclusividade para si. Esta regra estende-se não só ao dinheiro e aos bens puramente materiais, como também a todo e qualquer benefício ou qualidade dada por Deus. Poder-se-ia, do mesmo modo, aplicar a condenação do Evangelho a quem estuda apenas com o intuito de se tornar um gênio e não para transmitir seus conhecimentos aos outros; quem reza por si e nunca pelos demais; quem se relaciona com seus semelhantes com intuito de satisfazer o desejo de louvores e estima pessoal, e não de fazer-lhes o bem, em função da salvação eterna. Tais desvarios tornam os atos de uma pessoa maléficos e marcados com o carimbo inconfundível do egoísmo.
III - Não tirar os olhos da eternidade
E necessário, pois, termos presente quão rápido passamos por esta Terra. Nossa atenção não pode fixar-se só neste mundo e esquecer o outro. Quantas vezes, ao longo dos séculos, verificamos que, quando uma nação ou uma área de civilização decide voltar-se para Deus, abrindo-se para a perspectiva da eternidade, tudo quanto é bom floresce!
Por outro lado, quando os homens excluem Deus do centro de suas vidas e Lhe roubam o lugar a Ele reservado, toda espécie de desastres e castigos desabam em cima deles. Encontramo-nos, atualmente, em uma era de invenções e de magníficas descobertas científicas, as quais eram impensáveis em tempos idos. Ora, essas maravilhas acarretam para os homens um novo e grave problema, pois, diante delas, muitos podem ficar tão obcecados que se esquecem de Deus...
Em nossos dias, com mais ímpeto que antes, a imoralidade parece querer destruir de modo definitivo a moralidade, conforme indica a velocidade de degradação das modas, dos costumes, da família. Os desregramentos morais vão se generalizando de tal maneira que, se fosse oferecido a pessoas com expectativa de morte iminente um remédio para prolongar a vida um pouco mais, exigindo-lhes, porém, a renúncia à impureza, sem dúvida alguma, boa parte delas preferiria morrer, antes de perder a possibilidade de cometer esse gênero de pecado. Quem assim procede tem, no fundo, um espírito no qual impera uma deliberada desobediência aos Dez Mandamentos, pois seus olhos estão postos nas coisas daqui de baixo e não nas do alto. Com eles se passará o que expressa também a primeira leitura de hoje, do Eclesiastes: "Um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou, também isto é vaidade" (Ecl 2, 21).
O sentido etimológico da palavra vaidade é vazio. Quem vive buscando ganâncias, imaginando com elas preencher a própria alma, corre atrás de um vazio.
Quando fazemos uma viagem definitiva para outro país, temos a possibilidade de levar conosco todos os nossos pertences. Contudo, quando saímos deste mundo - passando pelo Juízo - rumo à eternidade, nada podemos levar, nem a própria roupa, pois esta fica na sepultura, com o corpo, e torna-se alimento dos vermes. Então, melhor será aplicar o capital no tesouro espiritual, para chegarmos ao outro lado muito mais afortunados. É o conselho que hoje nos é dado: não fixarmos nossa atenção e preocupações nas coisas concretas desta Terra, mas sim nas da eternidade, o que se obtém aceitando a admoestação de São Paulo aos Colossenses, na segunda leitura da Liturgia deste domingo: "Fazer morrer em vós aquilo que pertence à Terra: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos, cobiça" (Col 3, 5).
Em suma, o problema não está em ter ou não ter, mas em ser rico diante de Deus. E para isso é preciso não ser romântico, não ser vaidoso, não querer o elogio dos outros, não buscar o dinheiro com sofreguidão, não ser orgulhoso. Ser rico diante de Deus é, na verdade, ser despretensioso, ser abnegado. Ser rico diante de Deus é ter muita fé. Esta é a riqueza para a qual Jesus nos convida.
Para atingir tal meta, não existe outro caminho senão o da vida de oração, onde encontraremos as graças necessárias para chegarmos felizes à eternidade. Praticar a virtude, procurando ser bom com os outros e querendo o nosso autêntico bem pessoal, eis a preparação para essa viagem sem retorno, viagem que dispensa passaporte, carteira de identidade, cartão de crédito e até visto de entrada. A entrada vai depender, isto sim, de uma vida agradável a Deus e inteiramente fiel à sua Lei. (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2013, n. 140, p. 10 à 17)