16 de set. de 2016

Décimo Mandamento da Lei de Deus

O preceito de “não cobiçar as coisas alheias” é o último Mandamento do Decálogo. E como toda a Lei de Deus, este não deve ser interpretado de maneira negativa, como por exemplo, desprezo dos bens materiais. Muito pelo contrário, o preceito de “não cobiçar as coisas alheias” é aquele que dá real valor e significado aos bens deste mundo. Ensinando-nos a sua vocação e destino de estarem a serviço do homem, de serem possuídos pelo homem e, de jamais colocarem o homem a seu serviço. O Décimo Mandamento está a favor da liberdade interior dos filhos de Deus e da sua altíssima vocação de governar o mundo em nome do Criador.
O homem foi criado para a liberdade, no entanto, essa liberdade se encontra ameaçada pela concupiscência. Entre as concupiscências existe a “concupiscência dos olhos” (1Jo 2,16). Esta é um desejo desordenado suscitado pelos bens materiais, objetos de posse. Visando a proteção do homem contra o apego desordenado destes bens e, também, proteger as relações humanas dos perigos causados por essa desordem Deus nos dá o Décimo Mandamento.
No entanto, para ser vivido, o Décimo Mandamento reclama a virtude cardeal da temperança. Esta virtude colabora para que a liberdade humana prevaleça sobre as paixões e os instintos que arrastam o homem para o mundo material. Assim, é aliada do homem, seja na luta contra a concupiscência da carne, seja na luta contra a concupiscência dos olhos. A temperança é a virtude que modera o apetite sensível, ou seja, modera aquelas paixões humanas que induzem instintivamente à satisfação de alguma necessidade com o prazer que a acompanha.
É próprio do homem, do seu crescimento e realização, passar da fase infantil, dominada pelo “princípio do prazer”, para a fase adulta caracterizada pelo “princípio do bem moral”, pessoalmente reconhecido e assumido como critério diretivo das opções humanas. A temperança é a virtude que dá qualidade a essa liberdade adulta. Esta virtude nunca poderá ser vista como uma simples repressão das paixões e instintos, muito pelo contrário, esta dá aos instintos e paixões um significado novo, qualitativo, harmoniza-os como que num comboio de caminhões em direção, dentro da totalidade do ser, ao Único e verdadeiro Bem.
Como na vida espiritual, aquilo que é perceptível exteriormente é, muitas vezes, reflexo da vida interior. O Décimo Mandamento é um preceito que nos revela o interesse de Deus pelo coração do homem. Poderíamos compreendê-lo como um aprofundamento do Sétimo Mandamento. Este visa legislar sobre o ato externo do homem na sua relação com os bens materiais. Já o Décimo Mandamento legisla sobre o ato interno, sobre o coração, de onde surge toda a maquinação para o cumprimento do ato externo. Então, partindo do preceito divino, guiado pela virtude da temperança e sustentado pela graça de Cristo, o homem empreende uma belíssima viagem rumo à pobreza de coração. A pobreza de coração é o ponto de chegada onde o Senhor nos quer levar a partir do preceito.
pobreza de coração é uma categoria bíblica que expressa que a vida do fiel está nas mãos de Deus e que o Senhor é o tesouro para o qual se volta o seu coração. Ele, o fiel, não está acorrentado, não é detido pelos bens materiais, mas é livre para correr ao encontro do verdadeiro Bem. Não se trata de um desprezo dos bens materiais, mas de relativizá-los, tomá-los simplesmente por aquilo que são, ou seja, como meios para cumprir a justiça e a caridade e não como o fim que põe o coração no cativeiro.
O fiel de coração pobre tem como desejo mais profundo o desejo de ver a Deus. Este desejo de ver a Deus é um grande tema bíblico que exprime o desejo supremo do homem consciente de não poder apoiar a sua esperança nos bens deste mundo. A esperança de ver a Deus é o princípio de hierarquização e harmonização dos bens e disciplina dos desejos humanos. O desejo de ver a Deus liberta da concupiscência dos olhos e, ao mesmo tempo, é a via que leva o homem a encontrar-se consigo mesmo, descobrindo o seu verdadeiro Bem e vocação.
Somos um povo a caminho. Um povo a caminho de Deus, nosso verdadeiro Bem, origem e fim da nossa existência. Os Mandamentos são como o corrimão de uma escada que nos apoiam ao longo do caminho até chegarmos à meta final.
Padre Silvio Scopel
missionário da Comunidade Católica Shalom
(artigo originalmente publicado na Revista Shalom Maná)
fontes: http://www.comshalom.org/para-entender-o-decimo-mandamento-nao-cobicar-as-coisas-alheias/; http://oratorio.blog.arautos.org/2015/12/mensagem-de-natal/comment-page-1/

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