23 de jun. de 2019

Por que Deus criou seres feios e nocivos?


Por que Deus criou
 seres feios e nocivos?
 Os animais feios e daninhos nos trazem à lembrança
 o pecado de nossos primeiros pais
 e o castigo por eles merecido

Plinio Corrêa de Oliveira

Talvez alguns julguem exagerado o que vou dizer, por isso depende muito do de sentir cada pessoa: mais um animal que considero feíssimo é o elefante. Aquela gordura, orelhas imensas e ridículas, aquelas pernonas cilíndricas com aquelas patas e, sobretudo, aquela pele medonha que parece um couro apodrecido, quase tudo no elefante causa repugnância. Só os dentes valem, e quanto valem! O marfim é uma coisa linda!

Agora, como posso admirar o elefante, uma vez que – na minha ótica, pelo menos – este animal apresenta tantos aspectos rejeitáveis?

É preciso reconhecer que quando Deus viu que o conjunto de suas criaturas era muito bom, considerava como fazendo parte deste conjunto o paraíso terrestre, mas também a Terra muito menos bonita, com os animais muito menos obedientes e com uns tantos ou quantos elefantes , minhocas ou porcos rolando de lá para cá, exatamente porque a Terra poderia vir a ser um lugar de exílio e de castigo para o homem.

Portanto, a feiura e a hostilidade de muitos dos bichos, e tudo quanto há de contrário aos seres humanos, merecem, por um lado, certa admiração – como no caso das presas do elefante -, contudo, por outro lado, devem ser objeto de repulsa. Mas, por causa disso, sempre têm alguma razão de beleza e de bondade, pois Deus não separa em suas criaturas, o verum do bonum e do pulchrum.

Os animais feios e daninhos nos trazem à lembrança o pecado de nossos primeiros pais e o castigo por eles merecido. Não é verdade que a consideração do porco, refocilando-se na lama, pode ter dado a muita gente o horror à impureza?

Revista Dr. Plinio 189 - Dezembro de 2013


15 de jun. de 2019

Como manter-se sereno e tranquilo?

O segredo da calma
Não há razão para ficarmos nervosos e agitados,
devemos estar tranquilos, 
pois a nossa Mãe vela por nós.

Pelo dom de profecia, Maria Santíssima conheceu individualmente todos os homens que existiriam até o fim do mundo, com suas qualidades e defeitos, e tem para com cada um a misericórdia incalculável da melhor das mães.

Devemos, pois, ter a certeza de que pedindo-Lhe qualquer coisa, obteremos. Pode ser que alguém peça algo que não seja para o seu próprio bem. Neste caso, Nossa Senhora não dará. Porém, até nisso entra a misericórdia d’Ela porque, conhecendo melhor do que nós o que nos convém, a Mãe de Deus nos concede outra graça mais valiosa do que aquela pedida por nós.

Mesmo que estejamos em estado de pecado, a Santíssima Virgem tem pena de nós e nos obtém graças preciosas para nos emendarmos e brilharmos diante d’Ela por toda a eternidade.

Sendo assim, não há razão para ficarmos nervosos e agitados, pois ainda que não compreendamos por que está acontecendo algo de muito triste conosco, devemos estar tranquilos, pois a nossa Mãe vela por nós.

A perfeição consiste, portanto, em manter-se sereno e tranquilo, compreendendo que tudo se faz pela vontade de Nossa Senhora. Aí está o segredo da calma.

Revista Dr Plinio 239 (Fevereiro de 2018)



7 de jun. de 2019

Escolhido entre os homens; confiscado por Deus


Sol entre duas fornalhas
Chamado a ser a “luz do mundo” (Mt 5,14),
o sacerdote é aquele sobre quem a mão de Deus pousou.

O sacerdote deve abrasar-se de uma caridade intensíssima, diante da qual
 nenhum sacrifício, nenhuma renúncia, nenhum holocausto pareçam excessivos.
Pe. Eduardo Zacarias, EP durante Missa celebrada na Casa São José,
sede dos Arautos do Evangelho em Fortaleza, na Festa da Encarnação do Verbo

Todo sacerdote é, conforme nos ensina São Paulo, “escolhido entre os homens e constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus” (Hb 5, 1). Ele é, portanto, e antes de mais nada, um homem que comparte a mesma sina de todos os demais filhos de Adão e Eva, carregando defeitos e qualidades, e tendo na sua frente uma estrada de luta na qual se misturam tristezas e alegrias. Contudo, ao ser chamado por Cristo para ser seu ministro, deixa de ser um homem comum: ele passa a ser aquele sobre quem a mão de Deus pousou. 

Confiscado por Deus para servi-Lo com exclusividade numa condição excelsa, o sacerdote se vê, contudo, muitas vezes assediado pelas preocupações do mundo. Constituído “como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus”, é frequentemente tentado de cuidar de outros afazeres, como Marta, à qual, entretanto, Nosso Senhor recordou: “uma só coisa é necessária” (Lc 10,42). Isto será tanto mais verdade para quem livremente escolheu colocar a mão no arado (cf. Lc 9, 62).

O sacerdote tem como missão essencial incendiar as almas para multiplicar
 e expandir o fogo sublime que o próprio Cristo veio trazer à Terra
Cerimônia de Ordenação dos 15 primeiros sacerdotes Arautos, 

dentre eles seu Fundador Mons. João Clá Dias, EP
Basílica Nossa Senhora do Carmo, São Paulo (SP) - 14 de junho de 2005

Pela imposição das mãos, o presbítero é consagrado ao serviço do Senhor. Torna-se pessoa sagrada, ministro de um culto sagrado, visando um fim sagrado. Isto exige dele ter, a partir daquele momento, “um coração totalmente entregue ao Senhor” (Card. Franc Rodé, Homilia, 22/8/2014). Obriga-o também a renunciar a tudo quanto seja profano e possa afastá-lo do sagrado.

Instrumento puríssimo do amor divino, o sacerdote tem como missão essencial incendiar as almas com o fervor por Deus, para multiplicar e expandir o fogo sublime que o próprio Cristo veio trazer à Terra (cf. Lc 12, 49), como preço de seu Sangue; aquele fogo belíssimo que desceu sobre Maria e os Apóstolos (cf. At 2, 3).

Contudo, o mesmo Cristo que promete as maiores recompensas para os fiéis, não deixa de ameaçar as “árvores que não produzirem bons frutos”(Lc 3, 9; Mt 3, 10) com um “fogo que nunca se apaga” (Mc 9, 46). O sacerdote é colocado assim, numa perspectiva que transcende largamente sua natureza humana, entre duas fornalhas eternas: uma toda feita de amor, outra alimentada pela Justiça Divina.


O sacerdote tem o dever de converter-se num sol a iluminar e aquecer a Terra
com o ardor de seu amor a Deus
Pe. David Francisco, EP na V Romaria do Apostolado do Oratório
ao Santuário de São Francisco das Chagas - Canindé (CE) 

Mas a santidade própria ao estado sacerdotal não se esteia no desejo de servir a Deus por temor ao inferno. O ministro consagrado deve abrasar-se de uma caridade intensíssima que o consuma, diante da qual nenhum sacrifício, nenhuma renúncia, nenhum holocausto pareçam excessivos. Chamado a ser “luz do mundo” (Mt 5, 14), o sacerdote tem o dever de converter-se num sol a iluminar e aquecer a Terra com o ardor de seu amor a Deus.

Se o católico ideal é um homem de fogo, o sacerdote só será digno de sua altíssima condição se ele tiver uma alma incendiada em amor. Se ele for um homem em cujas veias não circula sangue, mas fervor em brasas.

(Editorial da Revista Arautos do Evangelho, Outubro de 2014 - As ilustrações foram incluídas por este blog)

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3 de jun. de 2019

"Antes a morte que a desonra"



Combatividade e pureza
Encurralado no meio da lama pelo caçador,
o arminho prefere entregar sua vida a se sujar.
Assim procedem também as almas íntegras que preferem
a morte a se chafurdar na imundície do pecado.

Arminho (mustela erminea) com pelagem de inverno

Ao observarmos com atenção as agrestes paisagens das regiões árticas, podemos nos deparar com uma encantadora criatura que, por sua cor e tamanho, quase passaria despercebida a nossos olhos: o arminho.

Ágil, esguio e muito pequeno para ser um mamífero (os maiores medem pouco mais de trinta centímetros), ele usa a macia pelagem que o reveste para se ocultar dos predadores. Durante o verão, ela adquire um tom castanho semelhante à vegetação que cobre os campos, mas, no outono e inverno, muda para um branco imaculado. Se não fosse a ponta sempre negra de sua característica cauda a delatar-lhe nos rápidos deslocamentos, o arminho tornar-se-ia invisível no meio da neve.

Quando contemplado no auge da estação mais gélida, dir-se-ia ter esse animalzinho “fugido” do Paraíso, pois sua alvura e delicadeza parecem não condizer com as coisas desta terra. Por isso ele é considerado símbolo da pureza, digno de figurar como tal nos mais nobres brasões e de ornar com sua pele mantos de Papas, Cardeais e reis. 

Tão acendrado simbolismo, unido à infatigável combatividade desta minúscula criatura, capaz de capturar presas dez vezes maiores do que ela, evoca a exortação feita pelo Divino Mestre: “Sede, pois, prudentes como as serpentes mas simples como as pombas” (cf. Mt 10, 16). Com efeito, o conúbio harmônico entre prontidão e candura, sagacidade e pureza, desmente a ideia hoje tão generalizada de que inocência é sinônimo de ingenuidade e apatia.

“Malo mori quam fœdari – Antes a morte que a desonra”. O clássico adágio latino, presente em tantos escudos de cidades e famílias antigas, costuma estar vinculado ao arminho. Conta-se que o ágil animalzinho, quando é perseguido por um caçador e este consegue encurralá-lo com lama, prefere entregar sua vida a se sujar. Assim procedem também as almas íntegras que, postas perante situações nas quais podem vir a macular-se, preferem a morte a se chafurdar na imundície do pecado.

Oxalá agíssemos nós como o arminho, não permitindo jamais que em nossa alma houvesse qualquer resquício de pecado ou de conivência com o espírito do mundo, tão oposto Àquele por quem e para quem fomos criados. Quisera Deus que soubéssemos unir em nós combatividade e pureza!

No entanto, caso tenhamos caído na desgraça de nos manchar, recorramos a Nossa Senhora, Refúgio dos Pecadores. Sendo Ela a onipotência suplicante, um simples aceno seu pode nos limpar dos efeitos de qualquer falta, e até nos transformar num instante naquele filho ou filha sem mancha que seríamos se nunca houvéssemos pecado.

Admiremos a pureza e a combatividade postas pelo Criador no arminho. Saibamos ver nele a sagacidade e a inocência por Deus tão amadas, certos de que tais predicados não são senão um pálido reflexo das perfeições divinas, as quais somos chamados a imitar. (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2019, n. 209, p. 50-51)