3 de jun. de 2019

"Antes a morte que a desonra"



Combatividade e pureza
Encurralado no meio da lama pelo caçador,
o arminho prefere entregar sua vida a se sujar.
Assim procedem também as almas íntegras que preferem
a morte a se chafurdar na imundície do pecado.

Arminho (mustela erminea) com pelagem de inverno

Ao observarmos com atenção as agrestes paisagens das regiões árticas, podemos nos deparar com uma encantadora criatura que, por sua cor e tamanho, quase passaria despercebida a nossos olhos: o arminho.

Ágil, esguio e muito pequeno para ser um mamífero (os maiores medem pouco mais de trinta centímetros), ele usa a macia pelagem que o reveste para se ocultar dos predadores. Durante o verão, ela adquire um tom castanho semelhante à vegetação que cobre os campos, mas, no outono e inverno, muda para um branco imaculado. Se não fosse a ponta sempre negra de sua característica cauda a delatar-lhe nos rápidos deslocamentos, o arminho tornar-se-ia invisível no meio da neve.

Quando contemplado no auge da estação mais gélida, dir-se-ia ter esse animalzinho “fugido” do Paraíso, pois sua alvura e delicadeza parecem não condizer com as coisas desta terra. Por isso ele é considerado símbolo da pureza, digno de figurar como tal nos mais nobres brasões e de ornar com sua pele mantos de Papas, Cardeais e reis. 

Tão acendrado simbolismo, unido à infatigável combatividade desta minúscula criatura, capaz de capturar presas dez vezes maiores do que ela, evoca a exortação feita pelo Divino Mestre: “Sede, pois, prudentes como as serpentes mas simples como as pombas” (cf. Mt 10, 16). Com efeito, o conúbio harmônico entre prontidão e candura, sagacidade e pureza, desmente a ideia hoje tão generalizada de que inocência é sinônimo de ingenuidade e apatia.

“Malo mori quam fœdari – Antes a morte que a desonra”. O clássico adágio latino, presente em tantos escudos de cidades e famílias antigas, costuma estar vinculado ao arminho. Conta-se que o ágil animalzinho, quando é perseguido por um caçador e este consegue encurralá-lo com lama, prefere entregar sua vida a se sujar. Assim procedem também as almas íntegras que, postas perante situações nas quais podem vir a macular-se, preferem a morte a se chafurdar na imundície do pecado.

Oxalá agíssemos nós como o arminho, não permitindo jamais que em nossa alma houvesse qualquer resquício de pecado ou de conivência com o espírito do mundo, tão oposto Àquele por quem e para quem fomos criados. Quisera Deus que soubéssemos unir em nós combatividade e pureza!

No entanto, caso tenhamos caído na desgraça de nos manchar, recorramos a Nossa Senhora, Refúgio dos Pecadores. Sendo Ela a onipotência suplicante, um simples aceno seu pode nos limpar dos efeitos de qualquer falta, e até nos transformar num instante naquele filho ou filha sem mancha que seríamos se nunca houvéssemos pecado.

Admiremos a pureza e a combatividade postas pelo Criador no arminho. Saibamos ver nele a sagacidade e a inocência por Deus tão amadas, certos de que tais predicados não são senão um pálido reflexo das perfeições divinas, as quais somos chamados a imitar. (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2019, n. 209, p. 50-51)

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