Oh, atitude tristemente frequente!… A figura do Mestre deitado numa barca que afunda é clássica. Porque também é clássico que o homem, inveteradamente autossuficiente, busque em si, e não em Deus, a solução para seus problemas. Problemas que são, por sua vez, permitidos por Deus para que o homem reconheça que, sem Ele, nada pode fazer (cf. Jo 15, 5). Por isto Jesus, às vezes, finge cochilar…
O orgulho muitas vezes se nega a dar-se por vencido. Há quem veja, entre aqueles que exigiam a Crucifixão de Nosso Senhor, um ímpeto de vingança pelo fato de o Salvador ter-Se negado a lhes conceder a realização de seu sonho messiânico, o qual não consistia em alcançar, nem a glória de Deus, nem a santidade individual, mas benefícios humanos e terrenos, quando não diretamente ilícitos.
Assim,
diante da provação, o homem tem dois caminhos: um sobrenatural, de
resignação humilde e de esperança confiante, que junta as mãos, e pede a
Deus proteção e auxílio; outro, orgulhoso, que vê na dor, destinada a
purificá-lo e uni-lo mais ao Pai, uma punição indevida. Nestes tristes
casos, sói então acontecer que o homem mundano, de dentro de sua
iniquidade, acuse a Deus de injustiça (cf. Ez 18, 25), e por ódio
pecaminoso contra a origem de toda justiça, procure matar o Autor da
vida.
No caos do
mundo atual, enquanto alguns acusam a Deus, outros Lhe devotam uma
indiferença sistemática e outros ainda se voltam suplicantes para o
mundano, o terreno: política, tecnologia, soluções ambientais, ações
sociais… São pescadores na tempestade, afanando-se entre cordas, mastros
e velas. Quem hoje se lembra de recorrer filial, ardente e devotamente
Àquele que, sereníssimo, parece dormir na barca?
E,
entretanto, está Ele constantemente junto a nós, sempre disposto a nos
atender, amparar e proteger, desde que recorramos a Ele, com humildade e
retidão; acaso ter-se-ia diminuído o poder d’Aquele que curou leprosos,
deu avista a cegos, ressuscitou mortos, expulsou demônios, com uma
palavra?
“Uns põem
sua força nos carros, outros nos cavalos; nós, porém, a temos no nome
do Senhor, nosso Deus”, diz o salmista (Sl 19, 8). Ao contrário do que
prega o mundo, têm nas mãos o timão da História os que confiam além de
toda esperança, com os olhos postos n’Aquele que afirmou: “Coragem, Eu
venci o mundo!”(Jo 16, 33). E é a estes gigantes da fé que
verdadeiramente pertence o futuro. Aqueles para quem, como dizia Santa
Teresa de Jesus, “só Deus basta”.
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(Transcrito da revista “Arautos do Evangelho”, nº 156, de dezembro de 2014. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Wiki, WordPress
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