14 de mar. de 2019

Consagrar-se inteiramente a Maria


A nossa consagração perfeita a Nossa Senhora só é
feita para melhor nos consagrarmos a Jesus Cristo
O sentido incondicional
de toda verdadeira devoção
Aquele que se consagra
não conserva nada para si, ou então não se consagrou inteiramente.


O Curso de Consagração a Nossa Senhora que se realiza na sede dos Arautos em Fortaleza chegou à sétima aula. Neste encontro, Pe. Eduardo Zacarias, EP tratou dos sinais da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, sinais estes, opostos aos defeitos de piedade analisados por São Luís Grignion no seu tempo. O missionário francês desejando corrigir inteligentemente as falsas devoções a Maria Santíssima, ensina que o verdadeiro devoto deve procurar ter para com sua boníssima Mãe, uma devoção interior, terna, santa, constante e desinteressada (tópicos 105 a 110).

Prosseguindo, o sacerdote arauto projetou sobre o tema a cena do “moço rico do Evangelho”, destacando (tópico 121) que esta devoção consiste em doar-se inteiramente à Santíssima Virgem para que através Dela, sejamos inteiramente de Jesus Cristo.

A seguir, algumas noções que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira considera conveniente apresentar para bem entender o sentido incondicional de toda verdadeira devoção.

“Deus pede de nós certos atos, e certos outros Ele os ordena. Assim, Ele ordena que cumpramos os Mandamentos. Mas certas práticas de virtudes, que não são de estrita obediência nem de preceito, mas de conselho, Ele apenas pede que as façamos. A nossa consagração perfeita a Nossa Senhora ou a Deus Nosso Senhor - o que vem a ser a mesma coisa, pois a consagração a Ela só é feita para melhor nos consagrarmos a Ele - significa uma doação completa de nós. Subentende, portanto, a disposição de em todas as coisas seguirmos, não só aquilo que é mandado, mas também o que é recomendado, o que é apenas aconselhado.

São Luís Grignion, neste seu método de consagração, toma a criatura humana,
analisa tudo quanto nela há de renunciável, e mostra como isto
deve ser colocado nas mãos de Nossa Senhora

“Quando São Luís Grignion fala de consagração a Nossa Senhora, entende que não só devemos oferecer a Ela tudo quanto é nosso, mas também renunciar em seu favor e em Suas mãos a tudo aquilo que não nos foi ordenado que renunciássemos. Não se trata de oferecer a Ela somente a renúncia daquilo a que, por imposição dos Mandamentos, temos a obrigação de renunciar, mas tudo quanto é possível ao homem renunciar.

“A verdadeira devoção a Nossa Senhora não consiste em vibrações nervosas, intensas, diante de uma imagem Sua, mas da séria, profunda, estável e coerente entrega nas mãos d'Ela, de tudo quanto temos de entregável (tópicos 121 a 126).

“Para bem compreendermos o passo que esta entrega significa, e o que São Luís Grignion entende por "consagração", vamos analisar as consequências que esta acarreta. 

"Nosso corpo com todos os seus membros e sentidos"

“Se damos a Nossa Senhora o nosso corpo com todos os seus sentidos e membros, a primeira coisa que neste corpo devemos fazer é a vontade d'Ela. Compreende-se, pois, desde logo, que não possamos transformar nosso corpo em instrumento de pecado. Portanto, antes de mais nada, com relação ao corpo, o que se quer daquele que se consagra a Nossa Senhora é evidentemente a pureza. De nada adiantará dizermos que nosso corpo Lhe pertence, se depois fizermos o contrário do que Ela dele quer. É como se déssemos a alguém uma moeda, e depois a retirássemos para comprar um objeto para nosso próprio uso. Estaríamos evidentemente roubando à pessoa a quem presenteamos.

Devemos apresentar nosso corpo
com respeito, como coisa
dada a Nossa Senhora
À direita, Santa Teresinha do Menino Jesus
"Além disso, quem se doou a Nossa Senhora nesta consagração deve abster-se de certas atitudes que estariam fora da delicadeza respeitosa para com seu próprio corpo. Por exemplo, quanto ao modo de se apresentar. Sabemos que nosso corpo é marcado pelo estigma do pecado original, e devemos, portanto ter o pudor, que é a vergonha ligada a essa condição. Não devemos apresentar nosso corpo em estado de nudez nem de semi-nudez. São atitudes contrárias ao respeito que devemos ter ao nosso próprio corpo, como coisa dada a Nossa Senhora.

Nossa alma com todas as suas potências

"Antes de mais nada, é necessário dizer que dar a nossa alma a Nossa Senhora significa dá-la à Fé Católica Apostólica Romana. Nossa alma pertencerá a Maria na medida em que pertencer à Igreja e ao Soberano Pontífice.

"Mas isso não basta. Para pertencer a Nossa Senhora, é preciso que nossa alma tenha aquele equilíbrio interior das almas verdadeiramente consagradas a Ela. Devemos nos lembrar de que o pecado é tudo aquilo que sai da ordem natural; a virtude, aquilo que está de acordo com ela.

"Portanto, toda operação da inteligência e todo ato de vontade ou moção da sensibilidade contrários à ordem natural são imperfeição. Só seremos verdadeiramente de Nossa Senhora no dia em que, dentro de nossa alma, entre a inteligência, a vontade e a sensibilidade, reinar aquele equilíbrio das almas verdadeiramente virtuosas.

Nossos bens exteriores - que chamamos de fortuna - presentes e futuros

"Aqui deve entender-se a fortuna e tudo quanto ela traz: a consideração social, as relações, a influência, enfim todas as vantagens deste mundo.

"É muito difícil chegar-se às últimas consequências a respeito da consagração da fortuna a Nossa Senhora. Nada há de mais fraudulento nem de mais perigoso do que certa "mentalidade de doador". Nossas fraquezas aparecem mais quando damos, do que quando recebemos. Receber é simples, dar é que é difícil.

"Se temos dinheiro e fazemos a consagração de São Luís Grignion, devemos considerar que, na medida em que nossos deveres de estado permitam, ele pertence a Nossa Senhora. E, portanto, cada vez que tomamos nosso dinheiro e o gastamos numa obra de apostolado, estamos cumprindo o prometido, e não fazendo presente algum. Este, já o fizemos de uma vez por todas. Estamos apenas cumprindo uma promessa.

Nossos bens interiores e espirituais: méritos, virtudes e boas obras

"Esta renúncia, em certo sentido, é ainda mais difícil. Primeiramente devemos estar dispostos a oferecer o bem interno da própria alma, que é um dos bens interiores mais preciosos. Assim, como há momentos em que sentimos agradável a vida de nosso corpo, assim também sentimos, por vezes, agradável a vida de nossa alma. "Devemos estar dispostos a renunciar a todos os deleites interiores, e até às consolações espirituais, desde que seja para maior vantagem da Igreja Católica e para enriquecimento de seu precioso tesouro.

"E devemos estar dispostos - propõe-nos São Luís Grignion - a algo que é um requinte ainda maior. De acordo com a doutrina católica, por disposição da Providência Divina a reparação de nossos pecados é feita, parte nesta vida, parte no Purgatório, em dosagens de que apenas Deus é o verdadeiro conhecedor.

"De uma coisa, entretanto estamos certos: pelos pecados que cometemos, ainda que deles nos arrependamos e nos sejam perdoados, iremos expiar. Mas Deus Nosso Senhor toma em consideração também as nossas boas obras, em razão do que Ele pode nos dispensar de uma parte desses castigos.

"São Luís Grignion propõe, contudo, que se faça um ato que é o fino fio da doação, o que ela tem de mais cruciante, ato este que consiste em renunciarmos ao mérito das nossas boas obras. Assim, ficamos expostos a receber os castigos que os nossos pecados merecem. Se fizermos um exame de consciência, veremos quantos castigos nos estão preparados. Ora, com essa consagração nos dispomos a que Nossa Senhora aproveite esses méritos segundo as maiores glórias, intenções e interesses da Igreja Católica. E ficamos desnudos até do que possa haver, naquilo que praticamos, de expiatório em nosso favor, e de meritório aos olhos de Deus".

Nenhum comentário:

Postar um comentário