Sol entre duas fornalhas
Chamado
a ser a “luz do mundo” (Mt 5,14),
o
sacerdote é aquele sobre quem a mão de Deus pousou.
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O sacerdote deve abrasar-se de uma caridade intensíssima, diante da qual nenhum sacrifício, nenhuma renúncia, nenhum holocausto pareçam excessivos. Pe. Eduardo Zacarias, EP durante Missa celebrada na Casa São José, sede dos Arautos do Evangelho em Fortaleza, na Festa da Encarnação do Verbo |
Todo
sacerdote é, conforme nos ensina São Paulo, “escolhido entre os homens e
constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a
Deus” (Hb 5, 1). Ele é, portanto, e antes de mais nada, um homem que comparte a
mesma sina de todos os demais filhos de Adão e Eva, carregando defeitos e
qualidades, e tendo na sua frente uma estrada de luta na qual se misturam
tristezas e alegrias. Contudo, ao ser chamado por Cristo para ser seu ministro,
deixa de ser um homem comum: ele passa a ser aquele sobre quem a mão de Deus
pousou.
Confiscado
por Deus para servi-Lo com exclusividade numa condição excelsa, o sacerdote se
vê, contudo, muitas vezes assediado pelas preocupações do mundo. Constituído
“como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus”, é frequentemente tentado
de cuidar de outros afazeres, como Marta, à qual, entretanto, Nosso Senhor
recordou: “uma só coisa é necessária” (Lc 10,42). Isto será tanto mais verdade
para quem livremente escolheu colocar a mão no arado (cf. Lc 9, 62).
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O sacerdote tem como missão essencial incendiar as almas para multiplicar e expandir o fogo sublime que o próprio Cristo veio trazer à Terra Cerimônia de Ordenação dos 15 primeiros sacerdotes Arautos,
dentre eles seu Fundador Mons. João Clá Dias, EP
Basílica Nossa Senhora do Carmo, São Paulo (SP) - 14 de junho de 2005 |
Pela
imposição das mãos, o presbítero é consagrado ao serviço do Senhor. Torna-se
pessoa sagrada, ministro de um culto sagrado, visando um fim sagrado. Isto
exige dele ter, a partir daquele momento, “um coração totalmente entregue ao
Senhor” (Card. Franc Rodé, Homilia, 22/8/2014). Obriga-o também a renunciar
a tudo quanto seja profano e possa afastá-lo do sagrado.
Instrumento
puríssimo do amor divino, o sacerdote tem como missão essencial incendiar as
almas com o fervor por Deus, para multiplicar e expandir o fogo sublime que o
próprio Cristo veio trazer à Terra (cf. Lc 12, 49), como preço de seu Sangue;
aquele fogo belíssimo que desceu sobre Maria e os Apóstolos (cf. At 2, 3).
Contudo,
o mesmo Cristo que promete as maiores recompensas para os fiéis, não deixa de
ameaçar as “árvores que não produzirem bons frutos”(Lc 3, 9; Mt 3, 10) com um
“fogo que nunca se apaga” (Mc 9, 46). O sacerdote é colocado assim, numa
perspectiva que transcende largamente sua natureza humana, entre duas fornalhas
eternas: uma toda feita de amor, outra alimentada pela Justiça Divina.
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O sacerdote tem o dever de converter-se num sol a iluminar e aquecer a Terra com o ardor de seu amor a Deus Pe. David Francisco, EP na V Romaria do Apostolado do Oratório ao Santuário de São Francisco das Chagas - Canindé (CE) |
Mas
a santidade própria ao estado sacerdotal não se esteia no desejo de servir a
Deus por temor ao inferno. O ministro consagrado deve abrasar-se de uma
caridade intensíssima que o consuma, diante da qual nenhum sacrifício, nenhuma
renúncia, nenhum holocausto pareçam excessivos. Chamado a ser “luz do mundo”
(Mt 5, 14), o sacerdote tem o dever de converter-se num sol a iluminar e
aquecer a Terra com o ardor de seu amor a Deus.
Se
o católico ideal é um homem de fogo, o sacerdote só será digno de sua altíssima
condição se ele tiver uma alma incendiada em amor. Se ele for um homem em cujas
veias não circula sangue, mas fervor em brasas.
(Editorial da Revista Arautos do Evangelho, Outubro de 2014 - As ilustrações foram incluídas por este blog)
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