19 de fev. de 2017

Os Evangelistas e seus símbolos

O homem, o touro, o leão e a águia
na simbologia da Igreja.

Vê-se no pórtico da Catedral de Chartres, quatro figuras cercando a imagem de Jesus Cristo: o homem, o touro, o leão e a águia. Tais animais foram lá colocados por acaso ou têm algum significado? De acordo com os escritos do século XII, significavam ao mesmo tempo três realidades: os evangelistas, Nosso Senhor Jesus Cristo e as virtudes católicas.

Pórtico da Catedral de Chartres (França), pináculo do gótico francês


Os Evangelistas

São Mateus tem por atributo o homem, pois começou seu Evangelho pela genealogia de Nosso Senhor segundo a carne. O touro, animal do sacrifício, designa São Lucas, que inicia seu Evangelho pelo sacrifício de Zacarias. O leão designa São Marcos, que já nas suas primeiras linhas fala da voz que clama no deserto. A águia é a figura de São João, porque desde o início, ele nos transporta ao seio da divindade, semelhante à águia, animal que ousa contemplar o sol face a face.

Nosso Senhor Jesus Cristo

Os mesmos animais simbolizam Jesus Cristo. O homem lembra a Encarnação do Verbo, pela qual Jesus Cristo Se fez realmente carne. O touro faz pensar na Paixão, no sacrifício que o Redentor ofereceu pela humanidade pecadora. O leão, símbolo da Ressurreição (no mundo antigo acreditava-se que o leão dormia de olhos abertos), figura de Nosso Senhor na sepultura: parecia estar adormecido na morte, mas sua Divindade velava. E a águia é a figura da Ascensão: Jesus se elevou ao Céu como a águia sobe até as nuvens.

Nosso Senhor foi homem nascendo,
touro morrendo, leão ressuscitando
e águia subindo ao Céu
As virtudes católicas

Os quatro animais têm ainda outro significado: exprimem as virtudes necessárias para nossa salvação.
Deve-se ser homem, porque o homem é animal racional, e só quem caminha na via da razão merece o nome de homem. Deve-se ser touro, porque o touro é a vítima imolada nos sacrifícios, e o verdadeiro católico, renunciando a todas as volúpias deste mundo, imola-se a si mesmo. Deve-se ser leão, pois este é o animal corajoso por excelência, e do justo está escrito: "O justo será firme e destemido como um leão". Deve-se, por fim, ser águia, pois ela voa nas alturas e fita o sol sem baixar os olhos, exatamente como deve o católico contemplar as coisas sublimes.

Dessa maneira, na idade média os homens eram constantemente lembrados dessas verdades e como que participavam de uma catequese quase que diária ao admirar e ler nas diversas esculturas e pinturas das catedrais góticas as verdades eternas.

Que pena que o homem moderno veja tudo isso e nem saiba mais o seu significado!

Por Ir. Amanda de Fátima Fernandes Correia, EP
Fonte: Gaudium Press, Agência de notícias católicas

O homem, o touro, o leão e a águia nas Sagradas Escrituras

As referências a esses animais são encontradas nas Sagradas Escrituras.

No Antigo Testamento é narrada esta visão do profeta Ezequiel (Ez 1, 5-10):

Distinguia-se no centro a imagem de quatro seres que aparentavam possuir forma humana. Cada um tinha quatro faces e quatro asas. Suas pernas eram direitas e as plantas de seus pés se assemelhavam às do touro, e cintilavam como bronze polido. De seus quatro lados mãos humanas saíam por debaixo de suas asas. Todos os quatro possuíam rostos, e asas. Suas asas tocavam uma na outra. Quando se locomoviam, não se voltavam: cada um andava para a frente. 10 Quanto ao aspecto de seus rostos tinham todos eles figura humana, todos os quatro uma face de leão pela direita, todos os quatro uma face de touro pela esquerda, e todos os quatro uma face de águia.

São João, no Novo Testamento, cita essa simbologia no Livro do Apocalipse, capítulo 4, versículos 7-8:

7  O primeiro animal vivo assemelhava-se a um leão; o segundo, a um touro; o terceiro tinha um rosto como o de um homem; e o quarto era semelhante a uma águia em pleno voo. 8  Estes Animais tinham cada um seis asas cobertas de olhos por dentro e por fora. Não cessavam de clamar dia e noite: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Dominador, o que é, o que era e o que deve voltar.

No Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, São Luís Maria Grignion de Montfort, faz alusão aos mesmos quatro animais, associando-os aos apóstolos dos últimos tempos, na Oração Abrasada:

Quem são esses animais e esses pobres que habitarão em vossa herança, e serão aí nutridos com a divina doçura que lhes haveis preparado, senão esses pobres missionários abandonados à Providência e que transbordarão de vossas mais divinas delícias; quem são eles senão esses misteriosos animais de Ezequiel, que hão de ter a humanidade do homem, por sua desinteressada e benfazeja caridade para com o próximo; a coragem do leão, por sua santa cólera e por seu ardente e prudente zelo contra os demônios e contra os filhos de Babilônia; a força do boi, por seus trabalhos apostólicos e por sua mortificação contra a carne; e finalmente agilidade da águia, por sua contemplação em Deus? Tais hão de ser os missionários que quereis enviar á vossa Igreja. Terão olhos de homem para o próximo, olhos de leão contra vossos inimigos, olhos de boi contra si próprios e olhos de águia para Vós.

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