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Imagem de Nossa Senhora Gruta de Massabiele - Lourdes (França) |
Lourdes:
A valiosa
lição do sofrimento
Como
todos os acontecimentos de Lourdes, eles são ricos em ensinamentos para nós. A
mais valiosa dessas lições será, talvez, a respeito do sofrimento. Até nossos
dias, vemos manifestarem-se em Lourdes algumas atitudes de Nossa Senhora — e da
Providência, com quem Ela vive em íntima união — diante da dor humana. Dentro
da perfeição dos planos divinos, essas atitudes têm sua razão de ser, apesar de
parecerem até contraditórias.
De
um lado, chama a atenção a pena que Nossa Senhora tem dos padecimentos físicos
dos homens. Numa extraordinária manifestação de sua insondável bondade materna,
atende seus rogos e pratica milagres para lhes curar os corpos. Nossa Senhora
tem igualmente compaixão das almas, e para provar que a Fé Católica é
verdadeira, pratica milagres a fim de operar conversões.
Mas
existe outra realidade em Lourdes, não menos significativa: são os inúmeros
doentes que de lá voltam sem o tão almejado restabelecimento. Por que
misteriosa razão Nossa Senhora devolve a saúde física a uns e não a devolve a
outros? Qual a razão mais profunda disso?
Creio
que essa ausência de cura pode ser tomada como um dos mais estupendos milagres
de Lourdes, se considerarmos que, para a imensa maioria das almas, o sofrimento
e as doenças são necessários para se santificarem. É por meio das provações
físicas e morais que elas atingem a perfeição espiritual a que foram chamadas.
E quem não compreende o papel do sofrimento e da dor para operar nas almas o
desapego, a regeneração, para fazê-las crescer no amor a Deus, não compreende
absolutamente nada. É por essa forma que, via de regra, os homens alcançam a
bem-aventurança eterna. E tão indispensável nos é o sofrimento para chegarmos
ao Céu, que São Francisco de Sales não hesitava em qualificá-lo de 8º
sacramento.
Ora,
Nossa Senhora agiria contra o interesse da salvação das almas, se as livrasse
todas das doenças. Claro está que, para determinadas pessoas, por
circunstâncias e desígnios especiais, de algum modo convém subtrair-lhes o
sofrimento. São exceções. A maior parte dos que vão a Lourdes voltam sem ter
obtido a cura.
Estupendos
milagres morais

Há
mesmo o fato de não poucos doentes, vindos dos mais distantes países da terra,
vendo em Lourdes a presença de pessoas mais necessitadas do que eles, dizerem a
Nossa Senhora estar dispostos a abrir mão da própria cura, em favor daquelas.
Quer dizer, aceitam o sofrimento e a doença em benefício do outro. É um
verdadeiro milagre de amor ao próximo por amor de Deus. Milagre moral,
arrancado ao egoísmo humano; milagre mais estupendo que uma cura propriamente
dita.

Quando
deitamos um olhar no mundo a nosso redor e consideramos as misérias da natureza
humana decaída pelo pecado original, compreendemos que semelhantes atos de
abnegação se acham tão distantes do nosso egoísmo e causam uma tal repulsa ao
nosso amor-próprio, que constituem um milagre maior do que todas as espetaculares
curas verificadas em Lourdes. Esses atos demonstram que a primordial intenção
de Nossa Senhora é produzir esses milagres de caráter moral que conduzem as
almas ao Céu.
Pois
Nossa Senhora não seria Ela, se aparecesse em Lourdes para fazer bem aos corpos
que perecem, e não o fazer às almas imortais. Nem seria verdadeiro esse amor
d’Ela aos homens, se não tivesse por principal objetivo levá-los ao amor de
Deus. Porque nada de melhor para nós se pode desejar.
O grande
ensinamento de Lourdes
Então
compreendemos o grande ensinamento de Lourdes. Não é o apologético, tão imenso,
tão importante. Mas é esse da aceitação da dor, do sofrimento, e até da derrota
e do fracasso, se for preciso.
Alguém
objetará: “É muito difícil resignar-se a carregar a dor por essa forma”. Encontramos
a resposta na agonia de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Horto das Oliveiras.
Posto diante de todo o sofrimento que O aguardava, Ele disse ao Pai Eterno: “Se
for possível, afaste-se de mim este cálice. Mas seja feita a vossa vontade e
não a minha”. O resultado é que veio um Anjo consolar Nosso Senhor.
Essa
é a posição que cada um de nós deve ter em face de suas dores particulares: se
for possível, que elas sejam afastadas de meu caminho. Porém, seja feita a
superior vontade de Deus e não a minha. E a exemplo do que ocorreu com Jesus no
Horto, a graça nos consolará também, nas provações que Maria Santíssima nos
enviar.
Tenhamos,
portanto, coragem, ânimo, compreensão
do
significado do sofrimento e alegria por sofrermos:
estamos
preparando nossas almas para o Céu.
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Comentários do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, extraídos da revista Dr. Plínio, No. 23, Fevereiro de 2000.
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