Para nossa dor, no mais das vezes, agimos com menos discernimento do que os
esquilos. Agarramos primeiro o menos importante: o
terreno. E deixamos para depois, às vezes para
nunca, o mais valioso: o celeste
Ryan Francis Murphy
Uma das experiências
marcantes que se tem na infância consiste, sem dúvida, nos primeiros contatos
travados com os animaizinhos, domésticos ou não, com os quais as crianças
sempre buscam fazer "amizade". A pequena Santa Catarina Labouré
encantava-se em alimentar as brancas pombas que esvoaçavam em torno de sua
casa; o bom e comunicativo menino chamado João Bosco já exercitava seu inato
desejo de ajudar e proteger, acudindo os cãezinhos viralatas que perambulavam
em sua rua.
Em boa parte da Europa, e
praticamente em toda a América do Norte, não há criança que não tenha se
entretido com os mais encantadores e pitorescos animaizinhos existentes neste
mundo: os esquilos.
Extremamente versáteis,
pode-se vê-los subindo e descendo pelas árvores, com uma agilidade que parece desafiar
a lei da gravidade. Ora invadem a área reservada para alimentação dos pássaros,
a fim de roubar-lhes as sementes, ora saltam em meio às folhas do outono,
buscando o melhor lugar para esconder uma valiosa noz.
Sua longa cauda em pluma
balança para todas as direções, sempre com elegância e distinção. E quando
chove ou neva, eles a usam como um prático guarda-chuva, a protegê-los de modo
eficiente contra as gotas e flocos.
Não é fácil
conquistar-lhes a amizade. Se os esquilos cinzentos, que conseguem viver nas
cidades, já são ariscos, ainda mais os pequenos e rapidíssimos chipmunks, (os
famosos esquilos listrados), que só vivem nos bosques.
Um meio de atraí-los é
deixar do lado de fora da casa de campo algum tipo de noz. No início, longe das
construções; depois, cada dia um pouco mais perto. Se tudo correr bem, após
certo tempo o pequenino e aveludado esquilo, com seus grandes e desconfiados
olhos negros, estará à nossa janela de manhã, à espera de sua quota diária de
sementes.
Fizemos certa vez uma
experiência interessantíssima, ensinada por um sacerdote amigo que tinha o dom
de captar a confiança dos elusivos esquilos. Colocamos no beiral da janela,
separadas, variadas espécies de sementes: avelãs, nozes, amêndoas e amendoins.
Pouco tempo depois, farejando algo apetitoso, apareceu nosso felpudo amiguinho.
Observou atentamente a todas, em seguida apanhou com os dentes a noz e saiu na
disparada, para escondê-la em local seguro. Voltou logo após, pegando dessa vez
a amêndoa. E assim sucessivamente, levando todas em perfeita ordem, desde a
mais valiosa até a mais comum. Por fim, pegou os corriqueiros e baratos
amendoins.
Transcorridos os anos, e
atingida a idade adulta, não é raro acontecer que, em meio às desilusões da
existência, as pessoas esqueçam os úteis ensinamentos aprendidos nos doces anos
da infância.
Um menino, ou uma menina,
que tivesse observado o proceder dos esquilos poderia, sem dificuldade, tirar
uma sábia lição para toda a sua vida. Esses animaizinhos invariavelmente
escolhem primeiro o melhor e mais importante, e só depois tomam o secundário, o
de menor valor. Parece algo muito simples, mas, infelizmente, não é o que
sempre fazemos.
Sabemos e admitimos como
certo que Deus existe. Conhecemos seus mandamentos. No entanto, quantas e
quantas vezes não é Ele o último personagem nas cogitações do homem comum? Ao
tomar uma decisão, ou ao desejar algo, não é mais frequente alguém pensar
primeiro no prestígio, no prazer ou nas vantagens pessoais que esta ou aquela
situação lhe trará? E como é rara a seguinte preocupação: "Será isso o que
Deus quer de mim?"
Sim, para nossa dor, no
mais das vezes, agimos com menos discernimento do que os esquilos. Agarramos
primeiro o menos importante - o terreno - e deixamos para depois, às vezes para
nunca, o mais valioso: o celeste. Eis aí a razão de tantas das tristezas e
amarguras que afligem nossa pobre humanidade.
Os versáteis esquilos não
possuem propriamente inteligência. Mas se lhes fosse dado falar, quem sabe, saltando
no beiral de nossa janela, um deles não viria repetir-nos o ensinamento de
Nosso Senhor Jesus Cristo, o Criador dos homens e dos esquilos: "Buscai em
primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão
dadas por acréscimo" (Mt 6, 33).
(Revista Arautos do Evangelho,
Junho/2007, n. 66, p. 50-51)
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