Lua crescente, por Montague Dawson Coleção particular |
A diversidade de “naus” humanas que singram o oceano desta vida é
assombrosa. Porém, após analisar tão diferentes
embarcações, devemos nos lembrar de uma palavra de
ânimo que se aplica a todas elas…
Bruna
Almeida Piva
Palco de incontáveis
guerras, testemunha de numerosos atos de heroísmo e também de terríveis
naufrágios, o mar seria um ótimo contador de histórias, se pudesse falar…
Milhares de navegantes já
ousaram se aventurar em suas águas, gemendo sob a fúria das ondas bravias! Em
seu seio forjam-se heróis, mas são também sepultados os covardes. Só subsistem
ao desafio aqueles que estão dispostos a vencer o risco, o medo e o infortúnio.
Uma loucura? Para os medíocres, talvez. Todavia, as almas magnânimas sentem
falta de ar quando estão fora dos ventos do heroísmo!
Algo desses prodigiosos
portentos marítimos nos foram narrados pela História. Imaginemos como devia ser
elegante o deslocamento das caravelas portuguesas, com suas velas enfunadas
pelo vento, partindo da velha Europa em busca de novos horizontes! Mesmo sendo
conscientes de sua vulnerabilidade, elas partiam destemidas e seguras rumo à
realização de seu ideal: conquistar terras para Portugal e almas para a Santa
Igreja!
Já os formosos e
guerreiros barcos vikings, quão diferentes são! Fabricados para o combate,
autênticas bases de exército marítimas, não deixam de ser muito belos, com os
característicos detalhes em madeira de suas proas e popas. Bem podem
representar a nobreza do espírito bélico que, longe de ser sinônimo de
brutalidade ou impiedade, nasce do verdadeiro amor a Deus e da consequente
inconformidade do homem com tudo o que a Ele se opõe.
Voltando aos dias atuais,
o que dizer dos transatlânticos? São os gigantes soberbos dos mares! Enormes,
fortes e pesados, avançam constantes e quase imóveis sobre as ondas, com uma
seriedade assombrosa. Tão seguros de si que só mesmo Deus os pode afundar…
Por outro lado, impossível
é nos esquecermos das pequeninas e solitárias embarcações dos pescadores,
instrumentos para eles retirarem com maestria do furioso oceano o seu sustento…
Minúsculas quando comparadas à imensidão das águas, tornam-se colossais ao
enfrentá-las com galhardia!
Incontáveis exemplos como
estes teríamos ainda para relatar. Há, porém, um aspecto mais belo e profundo
que merece ser analisado.
O oceano representa de
certo modo a vida do homem sobre a terra: mar de preocupações, perigos,
dificuldades e provas que cada alma deve atravessar incólume, sem deixar que
sua nave naufrague pelo caminho…
Ora, nas tormentas desta
vida, os diferentes tipos de almas que as enfrentam assemelham-se às distintas
embarcações que singram o mar. Algumas, pequenas e solitárias, possuem o
encargo de salvar a sua própria alma sem ter de carregar sobre si o peso de
outras. Sua existência, contudo, é incontestavelmente grandiosa: acaso o
Redentor não derramou o seu Sangue preciosíssimo também por elas?
O oceano representa de certo modo a vida do homem sobre a terra |
Há, ademais, almas muito
chamadas, a cuja correspondência Deus condiciona a salvação de outras tantas:
são como as caravelas de Portugal, que partem em busca do bem das outras e
junto a elas descobrem a Pátria Celeste!
A maior responsabilidade,
porém, recai sobre os “transatlânticos” da Santa Igreja: os fundadores! Sob seu
cuidado está o governo espiritual de uma grande família de almas e, às vezes,
deles dependem todos os fiéis da sua época, por terem recebido da Divina
Providência o carisma específico que atende às necessidades da Igreja do seu
tempo. São almas imensas, cujas ações pesam mais diante de Deus, os guias
sérios, constantes e fortes que atraem a si os bons e os conduzem com segurança
ao Divino Porto Seguro, que é Cristo!
Enfim, ainda mais do que
nos oceanos, a diversidade de “naus” humanas é assombrosa… Ora, após analisar
tão diferentes embarcações, devemos nos lembrar que há uma palavra de ânimo que
se aplica a todos os que navegam por esta vida: sejam quais forem os reveses ou
ventos contrários que sobre nós se lancem, um meio infalível de evitar o
naufrágio é sempre agarrar-se à Âncora da Confiança, ao Farol de Misericórdia
que nos concedeu o Salvador: Maria Santíssima!
(Revista Arautos do Evangelho,
Agosto/2017, n. 188, pp. 50 à 51)
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