O Coração Sapiencial é o coração que quer, deseja e ama tudo de acordo com a fé, a reta razão e o bom senso. |
Jesus e Maria:
um só Coração, uma só mentalidade
Quando estivermos sofrendo, lembremo-nos
que o Coração regenerador de Jesus é a fonte de graças reservadas para as épocas difíceis e esplendorosas que se aproximam
O coração é símbolo da
parte mais nobre do homem. Embora o sentimentalismo do século XIX nos tenha
deixado dele uma ideia muito fragmentária – como se consistisse apenas em afeto
e bondade –, ele representa a plenitude do dinamismo da vontade da pessoa,
enquanto modelada por certo ideal, envolvendo também todas as outras forças de
alma que se encontram à disposição da vontade para ser eficaz e atingir o seu
fim.
Portanto, o coração
simboliza uma parte meio volitiva da inteligência, e meio cogitativa da
vontade, a sede da mentalidade do homem, onde se alojam os seus segredos mais
íntimos. Meditar sobre o Sagrado Coração de Jesus é, pois, considerar a sagrada
mentalidade, ou psicologia, de Nosso Senhor, num só todo formado por sua
vontade divina e sua vontade humana.
O Imaculado Coração de
Maria, por sua vez, é o puríssimo escrínio no qual encontramos o próprio
Coração de Jesus. Ao coração da mãe correspondem especialmente a bondade, a
generosidade e a indulgência, porque as boas mães são mais levadas a isso pelo
seu modo de ser. Assim, o Coração Imaculado de Maria é a máxima representação
de todo esse afeto e doçura maternos para conosco, num grau inimaginável, como
ninguém teve! Mas seu Coração é sobretudo a Sede da Sabedoria, uma virtude
atinente não só à inteligência, mas também à vontade. Então, o Coração
Sapiencial é o coração que quer, que deseja e que ama tudo de acordo com a fé,
a reta razão e o bom senso.
Nossa Senhora está espiritualmente ao pé de todas as cruzes do mundo, com sua intercessão e seus rogos. |
Ao falar do “Sagrado
Coração” de Jesus e Maria, em vez de “Sagrados Corações”, São João Eudes indica
formarem ambos uma só mentalidade, pois a mentalidade enquanto tal é
susceptível de união e fusão. Assim sendo, a devoção ao Sagrado Coração de
Jesus e ao Imaculado Coração de Maria não seriam realmente a devoção à Sagrada
Mentalidade de Jesus e de Maria? E não seria esta devoção própria a produzir em
nós uma mudança de mentalidade, mediante a troca de corações com Jesus e Maria,
pela qual a mentalidade d’Eles penetre em nós e leve nossos corações a pulsarem
em uníssono com o d’Eles?
Desta forma, podemos
conceber o Reino de Maria como a era na qual Ela –Rainha dos corações e Rainha
das mentalidades – atrairia a Si todas as mentalidades e sobre elas reinaria de
modo a fundi-las numa só, que seria a mentalidade de Jesus e de Maria.
Esta transformação,
contudo, se faz pelo sofrimento. Quando se pensa no Coração de Jesus perfurado
por uma lança, recorda-se também o Imaculado Coração de Maria transpassado pelo
gládio da dor: são Corações cheios de sofrimentos, por amor a nós. Assim,
quando estivermos sofrendo, lembremo-nos que o Coração regenerador de Jesus é a
fonte de graças reservadas para as épocas difíceis e esplendorosas que se
aproximam, e que Nossa Senhora está espiritualmente ao pé de todas as cruzes do
mundo, com sua intercessão e seus rogos.
(Revista Arautos do Evangelho, nº 198, junho de 2018, p.5.)
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