Mons. João Clá, Fundador e Superior Geral dos Arautos do Evangelho, no texto a seguir — composto de excertos de artigo seu (1) —, esclarece algo de extremamente necessário, e, ao mesmo tempo de que é tão carente, nossos dias: INOCÊNCIA.
Certa mentalidade falseada procura associar a inocência ao fato de se ser bobo. Ora, é exatamente o contrário.
Mons. João Clá comenta as palavras de Jesus: “deixai vir a Mim as criancinhas”. (Mc 10, 14)
A INOCÊNCIA, SUSTENTÁCULO DE QUALQUER ESTADO DE VIDA
Certamente eram as mães que, movidas pelo
instinto materno, levavam seus filhinhos até Jesus, em busca do melhor
para eles. Nosso Senhor era capaz de obter qualquer benefício, por mais
extraordinário que fosse, e talvez tivessem percebido que quando
acariciava a cabeça de alguma criança, ela se tornava mais inteligente.
Conduziam, pois, os pequeninos para perto do Salvador, a fim de que,
impondo-lhes as mãos, lhes concedesse saúde, força, sabedoria e,
sobretudo, graças.
Ora, com sua vivacidade infantil, faziam
alvoroço em volta d’Ele… Por este motivo, alguns comentaristas sugerem
que os Apóstolos estavam preocupados em pôr ordem na multidão e, para
evitar que as crianças atrapalhassem o Mestre, repreendiam-nas.
A realidade, porém, é mais profunda. Não
só as mulheres, mas também as crianças eram tratadas com desprezo na
Antiguidade, situação que só mudaria pelos efeitos do preciosíssimo
Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Uma concepção autossuficiente da vida espiritual
De acordo com a mentalidade israelita, a
prática da Religião competia exclusivamente aos homens e partia de uma
iniciativa própria. Mais tarde, Jesus retificaria este conceito,
ensinando: “Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu vos escolhi” (Jo
15, 16). Tanto os fariseus quanto os discípulos reputavam as crianças
elementos alheios à Religião.
Para entrar no Reino, precisamos ser dependentes de Deus
Vendo esse erro o Divino Redentor ficou
entristecido. Ao afirmar que o Céu pertence àqueles que são como as
crianças, ensina que a iniciativa é tomada por Deus, pois é Ele quem
distribui as graças, designa a cada um sua vocação e santifica. Cabe-nos
aceitar seu chamado como crianças em relação a Deus, e como adultos no
governo das criaturas.
Quem é pequenino não se julga um colosso
nem autossuficiente, mas dependente; é o que Nosso Senhor elogia e
aponta como modelo a ser imitado
A fórmula para conquistar o Céu
Compenetremo-nos disto: somos criaturas
contingentes, necessitamos do auxílio de Deus! É preciso ser “como uma
criança” para reconhecer a vontade d’Ele e cumpri-la, com a alma aberta a
tudo o que vem do alto, à maneira do filho dócil aos ensinamentos dos
pais.
Ser como criança significa também ser
inocente, isto é, ter a alma semelhante a um cristal que nunca foi
riscado: límpida, transparente e cheia de luz, jamais manchada por
qualquer falta. O Reino de Deus é constituído por aqueles que se
empenham em conservar a própria inocência e a dos demais.
Quando rezamos no Pai-Nosso “venha a nós o
vosso Reino”, devemos arder do desejo de que na Terra e em nosso
interior se estabeleça a supremacia da inocência! Se abraçarmos este
ideal, seremos abraçados por Nosso Senhor, porque Ele abençoa os que se
fazem pequenos.
Quem perdeu a inocência, não pense estar
numa situação irremediável. Jesus é a causa de toda a inocência, a fonte
de nossa vida espiritual! Peçamos o indispensável amparo da graça para
conservarmos intacta a inocência, ou para reconquistá-la, e sejamos
arautos da inocência.
(1) JOÃO
SOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP, “O inédito sobre os Evangelhos”, Libreria
Editrice Vaticana, Vol. IV, p. 400-417. Publicado também na revista
“Arautos do Evangelho”, nº 166, outubro de 2015, p. 8-17. Para acessar a
revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gustavo Krajl, Photogamm
Nenhum comentário:
Postar um comentário