Refletir,
questionar, pesquisar… eis os predicados próprios à natureza humana.
Dotado de razão, o homem quando bem constituído em suas faculdades, se
lança na busca do conhecimento. Movidos por este nobre anseio,
pesquisadores fundaram associações e instituições de estudo e pesquisa
nas mais diversas áreas do conhecimento. Surgem as academias
científicas!
Saberia
o caro leitor dizer qual a mais antiga academia científica do mundo?
Outra pergunta: qual o espírito que norteou suas indagações e
investigações? Apenas damos uma pista para sua resposta: ainda hoje esta
academia existe e conta com prestígio e respeitabilidade internacional.
Fachada da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano
Se
porventura o nosso bom leitor não tiver encontrado a reposta, poderá
neste curto artigo descobrir a interessante narração da “mais antiga academia científica do mundo” e
conhecer sua gênese e a mentalidade que a inspirou e a norteia. Os
dados históricos aqui registrados se encontram na Revista Arautos do
Evangelho, em seu n° 171 (março de 2016). ¹
A Academia dos Linces – a primeira academia científica do mundo
Com efeito, conta-nos a história que “em 1603, o jovem príncipe Federico Cesi fundou em Roma junto com três amigos a Accademia Lincea –
Academia dos Linces. O nome foi adotado por possuir este felino uma
vista muito aguçada, atributo reputado necessário para penetrar nos
segredos da natureza”. Paulo Eduardo Roque Cardoso
Continua
a narração: “Nascia assim a primeira academia científica do mundo,
cujos objetivos, porém, transcendem o mero estudo científico, pois seus
membros, de acordo com os estatutos, visavam melhor conhecer os
elementos da natureza levando uma vida de honestidade e piedade.
Declarava-se também neles que os trabalhos de pesquisa deviam ser
precedidos de oração, em concreto do Ofício litúrgico da Beata Virgem
Maria e do Saltério”.
Eis
aqui um dado muito significativo: os fundadores da primeira academia
científica não vêem uma contradição entre a piedade, a probidade moral e
o estudo científico. Pelo contrário, encontram no sobrenatural, no
recurso à oração e na devoção à Maria Santíssima, o fator benfazejo para
o bom sucesso dos trabalhos acadêmicos. Vemos neste procedimento a
harmonia entre a oração e o estudo acadêmico, entre a fé e a ciência.
A harmonia entre as ciências e as leis morais
A
propósito desta harmonia, o Catecismo da Igreja Católica ensina: “[…]
se a pesquisa metódica, em todas as ciências, proceder de maneira
verdadeiramente científica, segundo as leis morais, na realidade nunca
será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé
originam-se do mesmo Deus”. E conclui o Magistério da Igreja: “Mais
ainda: quem tenta perscrutar com humildade e perseverança os segredos
das coisas, ainda que disso não tome consciência, é como que conduzido
pela mão de Deus, que sustenta todas as coisas, fazendo com que elas
sejam o que são”. ² Ou seja, aquele que se conduz conforme a lei de Deus
em sua pesquisa, será por Ele auxiliado.
Voltemos
a nossa história: “[…] sob os auspícios do Papa Clemente VIII, a
instituição se expandiu e adquiriu fama, servindo de modelo para
instituições similares, como aRoyal Society, fundada em 1662 em Londres, e a Académie des Sciences, erigida em Paris no ano 1666”.
Academia Pontifícia das Ciências
Com
a morte de seu fundador, Frederico Cesi, a academia teve suas
atividades diminuídas. Até que, com o apoio do Papa Pio IX, em 1847, a
instituição reviveu e, posteriormente, em 1936, o Papa Pio XI deu-lhe um
novo título, passando a ser chamada – e conhecida mundialmente –
Academia Pontifícia das Ciências.
Entre
os membros da Academia Pontifícia das Ciências, durante os anos de 1902
a 2007, setenta pesquisadores foram reconhecidos por sua destacada
contribuição para os avanços científicos, recebendo o Prêmio Nobel.
Contribuição da Igreja para a ciência
Este
reconhecimento da qualidade do trabalho científico levado a cabo por
esta instituição faz pensar na contribuição da Igreja para a ciência.
Daí porque o conhecido escritor, bacharelado pela Universidade de
Harvard e doutorado pela Universidade de Columbia, Thomas E. Woods ter
afirmado: “É relativamente simples mostrar que a grande maioria dos
cientistas, como Louis Pasteur, foi católica. No entanto, muito mais
revelador é o número surpreendente de figuras da Igreja, especialmente
de sacerdotes, cuja obra científica foi muito extensa e significativa. A
insaciável curiosidade desses homens acerca do universo criado por Deus
e a sua dedicação à pesquisa científica revelam – mais do que poderia
fazê-lo uma simples discussão teórica – que o relacionamento entre a
Igreja e a ciência foi de amizade do que de antagonismo e desconfiança”.
³
Podemos,
a partir deste registro histórico da mais antiga academia científica do
mundo, e das sucintas considerações – num contexto mais amplo – do
papel da mentalidade católica na pesquisa e no estudo científico,
constatar o quanto a Igreja contribuiu para o conhecimento humano e o
desenvolvimento da sociedade. Que esta contribuição se faça sempre mais
crescente nas inúmeras atividades humanas, para o bem do próximo e para a
glória de Deus.
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¹ Você Sabia… In Revista Arautos do Evangelho, Ano VX, n° 171, Março 2016, p. 25.
² Catecismo da Igreja Católica. Tópico n. 159: Fé e ciência. 11ª ed. São Paulo: Loyola, 2001, p. 53.
³ Thomas E. Woods Jr. Como a Igreja construiu a civilização ocidental. Tradução de Élcio Carillo. Revisão de Emérico da Gama. 8ª. Ed. São Paulo: Quadrante, 2013, p. 89-90.
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