Deus é eterno e para Ele não existe o
tempo. Ao admirar a obra dos seis dias — podemos imaginar—, o Divino
Artífice considerou não apenas tudo o que acabara de criar, mas também
as maravilhas a serem feitas pelos homens ao longo dos séculos. Quis Ele
tornar Adão e seus descendentes partícipes da criação, dando-lhes
inteligência e talento para, de alguma forma, completá-la por meio de
sua arte e engenho.
Ir. Patricia Victoria Jorge Villegas, EP
Tomemos, por exemplo, o chocolate. Quem,
ao comer um ótimo bombom não sente bem-estar, alegria e ânimo? Depois de
um dia de árduo trabalho, um pouco de chocolate amargo ajuda a
recuperar da fadiga e do desgaste emocional, pelas comprovadas
propriedades energéticas do cacau, além de fazer bem para a saúde por
causa dos flavonoides e outras substâncias benéficas que ele contém. Paulo Eduardo Roque Cardoso
Produto do trabalho humano, o chocolate é
feito da amêndoa do cacaueiro, torrada e fermentada. Esta árvore
tropical, originária da bacia do rio Amazonas e da América Central, se
cultiva hoje também por amplas zonas da África e da Ásia. Os habitantes
daquelas regiões, na época pré-colombiana, usavam seu fruto para
preparar uma bebida quente e amarga, de propriedades revitalizantes.
Considerado alimento das divindades, o cacau era consumido pelas castas
superiores daqueles povos.
Levado para a Europa pelos colonizadores
espanhóis, acabou sendo objeto de aprimoramento em seu preparo e
apresentação, tornando-se o chocolate especialidade de países como a
Suíça, França, Bélgica e Holanda.
Não poucos mosteiros, sobretudo os
cistercienses, destacaram-se pela fabricação de chocolates artesanais,
pois a Igreja é Mãe e sabe bem aproveitar as invenções dos homens —
quando são boas! — para ajudar as almas.
No entanto, pode um alimento ter
influência nas almas? Há no chocolate algo de especial para ele fazer
parte da austera vida monástica, a ponto de haver em alguns conventos
espaço para uma chocolataria, onde esta iguaria é produzida e degustada?
Sendo o homem composto de corpo e alma, é
indispensável o físico auxiliar o espiritual. Assim como quando
contemplamos um belo panorama marítimo nossos sentidos se deleitam com o
movimento das ondas, a evolução dos peixes e gaivotas, o azul das
águas, e depois nosso espírito se enche de considerações sobrenaturais a
respeito do que contemplamos, de forma análoga, quando tomamos algum
alimento ele causa certo efeito em nossa alma.
Por isso, ao entramos numa confeitaria e saborearmos uma trufa ou um éclair de
chocolate, nosso espíritos e predispõe subconscientemente, pelo deleite
do paladar, a amar a perfeição em todas as coisas, de acordo com as
palavras do Divino Mestre: “Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste
é perfeito” (Mt 5, 48).
Deste modo, além do bem-estar que um
chocolate de qualidade produz em nosso organismo, ele pode nos ajudar a
lembrar da vida eterna e, em consequência, trazer uma nostalgia do
Paraíso perdido: se formos santos nesta Terra, quantas maravilhas
muitíssimo superiores a um apurado éclair ou a requintados bombons de licor, gianduia ou praline poderemos degustar no Céu? Pois se são as obras humanas e terrenas tão aprazíveis, como serão as celestes?
Estamos aqui de passagem e devemos saber
usar as mínimas oportunidades— como provar um chocolate…— para
transcender ao mundo sobrenatural. Peçamos a Nossa Senhora que nos ajude
a elevar nossos corações às grandezas que nos esperam no Céu onde,
junto com os Anjos e os Bem-aventurados, gozaremos da felicidade eterna.
(Publicado
originalmente na revista “Arautos do Evangelho”, nº 172, abril de 2016,
p. 50.Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gustavo Krajl
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