A inveja leva à calúnia.
sustentava com seu
trabalho de costura e bordado. Uma jovem costureira, chamada Ana Geisel,
invejosa da muita freguesia que tinha a viúva e desejosa que a perdesse, levantou-lhe
uma calúnia: espalhou que a costureira tinha uma doença contagiosa das mais
repugnantes. Os fregueses deram-lhe crédito e, não recebendo mais trabalho, a
viúva viu-se obrigada a pedir esmola. Mas mesmo as portas daqueles que antes a
favoreciam, agora se fechavam para ela. Por ocasião do jubileu de Pio IX,
naquele ano, a invejosa caluniadora confessou a verdade e fez pública
retratação numa declaração firmada de próprio punho. Essa declaração, a
caluniadora mandou afixar no quadro de avisos da prefeitura; além disso, enviou
à viúva uma pequena indenização pelos prejuízos causados e, logo, desapareceu
da aldeia para ocultar sua vergonha. Paulo Eduardo Roque Cardoso
A pobre invejada e caluniada
recobrou sua antiga freguesia, e daí em diante foi sempre muito favorecida de
todos.
A detração é a difamação
injusta do próximo, e pode ser realizada mediante a murmuração e a calúnia.
Só se dá detração se há injustiça;
quer dizer: não haverá detração se a fama sofre detrimento justamente; p. ex.,
age justamente quem disser ter visto tal ladrão que acaba de
roubar.
A detração pode assumir as formas
de murmuração ou de calúnia.
A murmuração consiste em criticar
e revelar, sem justo motivo, os defeitos ou pecados ocultos dos outros.
Quando a falta é pública, este fato
tira a quem a cometeu o direito de conservar a fama; direito que, apesar de
tudo, tem enquanto o seu pecado permaneça oculto. No entanto, mesmo que a falta
seja pública, se não existir justo motivo, também não há razão para a crítica,
pois a fama já de si deteriorada ainda mais seria desfeita. Por ex., mesmo
quando for patente a corrupção ou a inaptidão de certas pessoas, não se deve
fazer crítica por criticar, pois faltaria motivo justo.
A calúnia consiste em imputar
a outrem defeitos ou pecados que não tem ou não cometeu.
Também se pode cometer este pecado
exagerando consideravelmente os verdadeiros defeitos do próximo.
A detração é em si pecado grave,
mas admite matéria leve. A razão já foi dita: o homem tem direito estrito à sua
fama e, sem causa justa, não é lícito tirá-la.
A gravidade do pecado de detração mede-se por:
A gravidade do pecado de detração mede-se por:
O prejuízo causado, não só na
reputação do próximo, mas ainda porque lhe causa grave perturbação e desgosto.
A condição do murmurador: p.
ex., uma pessoa constituída em autoridade causa mais prejuízo ao murmurar do
que outra tida por leviana e pouco séria.
A condição do difamado: porque
não é o mesmo dizer que um colega é um mentiroso, ou dizê-lo do professor.
Depravada é a natureza do homem. De
preferência procura praticar o que é proibido, em vez de fazer o bem.
O pecado da detração é tão comum
como o do furto, havendo muitos que em nenhuma consideração têm a reputação do
próximo, não calculando talvez as graves consequências da detração, tanto para
a vítima da mesma como para o próprio detrator.
A detração é um furto. Santo Tomás de Aquino escreve: "De duas maneiras pode o próximo ser
prejudicado por obra: ou manifestamente, como acontece, quando é vítima de um
roubo ou de uma outra violência aberta; ou ocultamente, como no furto, a modo
de traição. De duas maneiras pode-se causar prejuízo ao próximo pela palavra de
modo manifesto, pela injúria, e de modo oculto pela detração" (Suma
Teológica, 2.a 2.a 9. 73, a. 1.). A detração
ou maledicência não é outra coisa senão uma injusta difamação da reputação de
outrem, por meio de palavras ocultas, ditas na ausência da pessoa em questão. O
procedimento do detrator, é o mesmo do gatuno; este furta bens, aquele lesa boa
fama do próximo. A detração é feita de dois modos: diretamente quando se
atribui à outra pessoa uma falta que não cometeu, um vício que não tem; quando
se exagera a falta ou o crime realmente cometido; quando, sem necessidade, se
revela faltas ocultas do próximo, ou então quando se interpreta mal uma boa
ação do mesmo, como se a tivesse praticado de má intenção. Indiretamente a boa
fama do próximo fica comprometida, negando, maldosamente ou diminuindo o seu
merecimento.
A detração é de todos os furtos o mais grave. O furto avulta-se mais grave, quanto maior for o prejuízo
por ele causado. O dano é tanto mais sensível, quanto mais estimado é o objeto
furtado. Ora, a boa fama é superior a todas as riquezas materiais. Diz a
Escritura: "Melhor
é um bom nome, que muitas riquezas" (Pr 22, 1) Embora pobres, mas
gozando boa fama, seremos úteis membros da sociedade; sem ter boa reputação, o
bem que fazemos, é capaz de ser recebido com desconfiança. Daí devemos deduzir
que a detração, a maledicência é de todos os furtos o maior e "em si pecado grave" (Santo
Tomás de Aquino, Suma Teológica 2.a 2.a). Leve
é considerada a detração, quando é feita por leviandade, sem que disso resulte
dano maior para o próximo; mas quem pode calcular e prever o efeito que uma
palavra falada pode ter? Quem pode se assegurar de sua detração ter produzido
apenas uma leve arranhadura?
O ladrão nem sempre tem cúmplices;
o detrator forçosamente os tem. Se não os tivesse, a fama do próximo nada
sofreria. Ora, "...
quem tais coisas faz - diz São Paulo, - é
digno de morte; e não só quem as faz, como também aqueles que em comum acordo
com ele as praticam" (Rm 1, 32).
Quem dá ouvidos ao detrator, torna-se participante do pecado do mesmo; pois sua
presença o anima a difamar o próximo:"Não sei quem está mais em perigo
de se condenar: o detrator mesmo ou aquele que o aplaude" (São
Bernardo de Claraval). Assim quem ouve a
difamação, não se lhe opondo como devia, dá escândalo contra a caridade, pois
sua atitude dá coragem e ânimo ao difamador a cometer o pecado; peca contra a
justiça, porque permite que em sua presença se retalhe o bom nome do próximo. A
cumplicidade será naturalmente menos acentuada e menos culpável, se há motivos
bastantes e fortes, que aconselham ou impõem o silêncio, como sejam o medo e o
acanhamento de se opor ao difamador.
Mas o que dizer daqueles que com
seu dinheiro, com seu talento, com o prestígio que possuem, ajudam e sustentam
a difamação sistemática feita pela má imprensa? Há uma
certa imprensa, que não perde ocasião de vomitar
difamações contra o Papa e contra a Igreja. E estas difamações correm em
milhares de exemplares pelas cidades, entram nas famílias,
nas oficinas e em toda parte. Não falta gente que, não
tendo o costume de pensar, toma por verdade tudo que a imprensa
lhe engoda e considera o jornal o intérprete infalível da verdade. Que
terrível julgamento no tribunal de Deus não terão aqueles escritores infames
que molham sua pena no veneno da difamação e da calúnia. Que
responderão a Deus, eles, como também os leitores e assinantes de tais jornais,
instrumentos diabólicos que são para desacreditar a religião e
afastar as almas de Deus!
Se ao ladrão, difícil é a
restituição dos bens que furtou, incomparavelmente mais
difícil é reparar os males da difamação. A boa fama não é uma
moeda que possa sem o menor incômodo ser trocada por outra do mesmo
valor. O objeto roubado fica nas mãos do ladrão. O furto, outras
consequências não precisa ter senão entre o gatuno e sua vítima. A
difamação, porém, se difunde e se espalha pavorosamente. Como o ladrão, se não
lhe é possível restituir tudo, é obrigado a restituição parcial; assim o
difamador, assim seu cúmplice: obrigados são a reparar o mal que causaram.
São obrigados a desmentir, se não
disseram a verdade; devem reduzir aos devidos termos suas
afirmações, se houve exagero da sua parte. Se o fato difamante é verdade, e se
nós nos encarregamos de torná-lo publicamente conhecido, não havendo, pois,
detração propriamente dita da nossa parte, devemos, entretanto, procurar meios
para desculpar o pecador e atenuar as circunstâncias. Se, apesar das nossas
indiscrições, a falta do próximo não chegou a ser conhecida por muita gente, a
caridade e a justiça obrigam-nos a calarmos. Sejam como forem as circunstâncias,
ponhamo-nos sempre ao lado dos defensores do culpado, procurando nós desta
maneira desmanchar o mau efeito que a nossa imprudência ou maldade mesma
produziram.
Fujamos dos difamadores, dos
intrigantes e mexeriqueiros.
É gente maligna que muito tem da
cobra que morde no escondido. Se o próximo fez mal e pecou, pecado maior comete
quem o difama. Façamos sempre o melhor conceito possível do próximo. Se um dia
aparecer uma falta dele grave e patente, condenamo-la em silêncio, sem que nos
arvoremos em seu juiz e muito menos ainda devemos torná-la pública. O
pensamento de sermos capazes também de praticar os mesmos pecados, e ainda
maiores, se a ocasião para isso se oferecer, e a graça de Deus nos faltar, deve
manter-nos sempre na prudente reserva.
Milhares de pessoas difamam o próximo e pensam que estão puros diante de Deus. Quanta ilusão!
Conta-se que um discípulo do sábio
Sócrates, querendo contar-lhe um fato que ouvira numa roda de conhecidos,
começou assim:
- Ouve, mestre, o que se diz de um
teu amigo...
- Pára! Pára! - interrompeu-o o
filósofo. - Já passais por três peneiras o que me vais contar?
- Por três peneiras!? - exclamou o
discípulo, admirado.
- Sim, meu amigo, por três
peneiras. Vejamos se o que me desejas contar pode passar por elas. A primeira é
a verdade. Tens plena certeza do fato? Examinaste seriamente se é verdade?
- Não examinei, mas ouvi falar...
- Bem - atalhou Sócrates - pois que
não passa pela primeira, estás certo de que passará pela segunda peneira? Se o
que me queres contar, se bem que duvidoso, é ao menos alguma coisa boa?
- Boa, propriamente, não é.
Compromete...
- Ora - interrogou novamente o
mestre - se é duvidoso e mau o que me vens contar, vejamos se consegue
salvar-se na última peneira. Tens motivos graves para contar o que ouviste?
Será necessário que eu seja informado?
- Necessário, propriamente, não,
mas...
Sorriu, então, o filósofo e
continuou sua lição, dizendo:
- Se o que me desejas contar é
duvidoso, não é coisa boa, nem precisa ser conhecido por outros, melhor será
não contá-lo.
A difamação é um pecado como a
calúnia e a maledicência.
CUIDAR E DEFENDER A BOA FAMA
Entende-se por fama a boa ou má
opinião que se tem de uma pessoa. Todo o homem tem direito ao bom nome,
por força da sua dignidade natural de ser-racional, criado à imagem e
semelhança de Deus.
Durante o julgamento de Cristo
diante do Sinédrio, um servo do Sumo Sacerdote deu uma bofetada no Senhor, que
tinha respondido a uma pergunta de Caifás. E Jesus defende-Se, dizendo: "Se falei mal, mostra-Me em quê; mas, se
falei bem, por que Me bates?" (Jo 18, 23).
Jesus deu-nos o exemplo de como se
deve defender a boa fama quando injustamente nos atacam.
A difamação do próximo constitui
pecado contra a justiça estrita, e obriga a restituir.
RESTITUIÇÃO DA FAMA
Assim como quem causa dano a outro
em seus bens materiais tem obrigação de os reparar, com igual
ou maior razão
isto se deve fazer nos bens espirituais, por estes serem de maior valor que
aqueles. Para que alguém esteja obrigado a reparar a fama, é preciso que se
dêem estas três condições simultâneas.
Como reparar a maledicência lançada? |
Primeira: Que se lhe tenha tirado por meios injustos a fama a que
tinha direito.
Segunda: Que a nossa ação tenha sido causa verdadeira e não mera
ocasião.
Terceira: Que se tenha pecado ao tirar a fama a outro. No entanto,
neste último caso, mesmo que não houvesse culpa da nossa parte, ao danificar a
sua fama, temos de repará-la se o pudermos fazer facilmente, se não por
obrigação de justiça, pelo menos por caridade.
O Catecismo da Igreja Católica no
n° 2487 ensina: "Toda
falta cometida contra a justiça e a verdade impõe o dever de reparação, mesmo
que seu autor tenha sido perdoado. Quando se torna impossível reparar um erro
publicamente, deve-se fazê-lo em segredo; se aquele que sofreu o prejuízo não
pode ser diretamente indenizado, deve-se dar-lhe satisfação moralmente, em nome
da caridade. Esse dever de reparação se refere também às faltas cometidas
contra a reputação de outrem. Essa reparação, moral e às vezes material, será
avaliada na proporção do dano causado e obriga em consciência".
VOCÊ CONFESSA ESSE PECADO?
Católico, examine bem a sua
consciência perguntando:
Levantei calúnia ou falsos
testemunhos?
Menti com prejuízo do próximo?
Manifestei ou publiquei alguma
falta ou defeito oculto do próximo?
Murmurei do próximo?
Semeei discórdias, mexericos ou
enredos, ou tenho dado prejuízo a outrem por causa da minha má língua?
Reparei o mal que fiz com calúnias,
detrações, etc?
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Bibliografia
Bíblia Sagrada
Pe. J. Bujanda, Teologia Moral para
os fiéis
Ricardo Sada e Alfonso Monroy,
Curso de Teologia Moral
Pe. Francisco Alves, Tesouro de
Exemplos
Pe. João Batista Lehmann, Euntes...
Praedicate!
Catecismo da Igreja Católica
Segundo Catecismo da Doutrina
Cristã
Fonte: http://www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0162.htm
Obs.: as imagens não pertencem ao artigo original.
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