
“Uma Virgem só poderia conceber a um Deus, e um
Deus só poderia nascer de uma Virgem”. Nesta conhecida frase de São Bernardo de Claraval pode-se resumir o
dogma da Virgindade perpétua de Maria Santíssima. Porém, é mister conhecermos
bem a profundidade de tão grande mistério a fim de firmarmos mais nossa devoção
à sempre Virgem Maria.
Este ponto da doutrina católica não admite opiniões
ou divergências, pois ao atender o anelo da totalidade do orbe católico, o Papa
São Martinho I definiu como dogma, no primeiro Concílio Lateranense, em 649:
“Se alguém não confessa, em conformidade com os santos Padres, que a Santa Mãe de Deus e sempre Virgem, e Imaculada Maria, propriamente e segundo a verdade concebeu do Espírito Santo, sem cooperação viril, ao mesmo Verbo de Deus, que desde todos os séculos nasceu de Deus Padre, e Ela incorruptivelmente O engendrou, permanecendo indissolúvel sua virgindade, antes como depois do parto, seja condenado.” (D 256).
“Se alguém não confessa, em conformidade com os santos Padres, que a Santa Mãe de Deus e sempre Virgem, e Imaculada Maria, propriamente e segundo a verdade concebeu do Espírito Santo, sem cooperação viril, ao mesmo Verbo de Deus, que desde todos os séculos nasceu de Deus Padre, e Ela incorruptivelmente O engendrou, permanecendo indissolúvel sua virgindade, antes como depois do parto, seja condenado.” (D 256).

Porém a verdade teológica da virgindade de Maria
Santíssima não se restringe apenas ao período antes do parto, pois como mesmo
afirmou o concílio de Latrão, Maria foi sempre Virgem,
isto é, antes durante e depois do parto.
A teologia encontra no mesmo relato de Isaías (7,4) uma revelação de que
Nossa Senhora permaneceu Virgem também durante o parto, pois o profeta não só
afirma que uma Virgem conceberá, mas que, além disso dará à luz.
São Tomás de Aquino a fim de nos mostrar a razão de
conveniência da Virgindade de Maria durante o parto afirma: “covinha que não lesasse a honra da Mãe o que havia mandado honrar
aos pais.”[1]
Porém, como se deu este parto virginal?
A teologia nos explica que Nosso Senhor Jesus Cristo utilizou-se da
sutileza própria ao corpo glorioso, uma vez que sua alma estava na visão
beatífica e o estado normal de seu corpo era glorioso. Essa explicação não vai
de encontro com a revelação, pois os Evangelhos nos falam mais de uma vez ter
Jesus utilizado esta propriedade (Cf. Lc 4,29-30; e Jo 20,19).

Seria supérfluo falarmos sobre a conservação da virgindade de Maria Santíssima
depois do parto. Entretanto, é neste ponto que muitos inimigos da Igreja
procuram ofender a pureza ilibada da Mãe de Deus.
São Tomás de Aquino nos apresenta algumas razões que nos mostram a
incongruência de imaginar a corrupção da Virgem Maria:
“Seria ofensivo à perfeição de Cristo, que pela
natureza divina é o Filho unigênito e absolutamente perfeito do Pai (Jo 1,14;
Heb 7,28), e convinha, assim, que fosse também Filho unigênito da Mãe, como seu
fruto perfeitíssimo. […]
“De maneira que absolutamente temos de afirmar que
a Mãe de Deus, assim como concebeu e deu à luz a Jesus sendo virgem, assim
também permaneceu sempre virgem depois do parto.”
Poderia parecer um tanto suspeitas certas expressões do Evangelho dentre
as quais sobressai a firmação que Nosso Senhor Jesus Cristo possuía irmãos e
irmãs (Mt 13,55-56; Lc 8,19; Jo 2,12; At 1,14; I Cor 9,5). Ouçamos o renomado
teólogo Fr. Royo Marín responder a esta possível objeção tão primária, no
entanto muitas vezes usadas pelos inimigos da Virgem:
“É muito freqüente na Sagrada Escritura usar os
nomes irmão e irmã em sentido muito amplo, para designar qualquer espécie de
parentesco.
“Assim Lot, que era filho de um irmão de Abraão
(Gên 12,5), é chamado irmão deste patriarca (Gên 13,8). Jacó é chamado irmão de
Labão, que na realidade era seu tio (Gên 29,15). […] E no Novo Testamento é
muito frequente chamar irmãos a todos os que crêem em Cristo.
“Os chamados irmãos e irmãs do Senhor não eram
filhos de Maria, cuja perpétua virgindade está fora de dúvida. […] [Trata-se
por certo] de primos, por serem filhos de algum parente de Maria. Ou de algum
irmão de São José.”[3]
Temos assim uma pequena fundamentação daquela verdade que está tão
enraigada na alma de todo católico: Maria foi virgem antes, durante e depois do
parto. Esperemos que esta breve consideração tenha podido possibilitar ao
leitor pelo menos um momento de reconforto de alma, pois é impossível que ao
considerarmos a virgindade da Mãe de Deus e nossa, sejamos esquecidos por Ela.
Que Ela nos ajude a enfrentar as dificuldades deste vale de lágrimas, e
assim podermos gozar eternamente do seu convívio no Céu.
Por Millon Barros
[1] Tradução da Suma
Teológica, B.A.C., Madrid, 1955, t. XIII, p.55, apud CLÁ DIAS, João. Pequeno ofício da Imaculada Conceição comentado. São
Paulo: Artpress, 1997.
[2] CONTENSON, Fr. Vicent. Theologia mentis et corporis. Paris: Vivés, 1875,
p. 291, apud Clá Dias, João. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição comentado. São
Paulo: Artpress, 1997, p.357.
[3] ROYO MARÍN, Antonio. La Virgem María. Madrid: BAC, 19>>
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