Bem-aventurados os pobres de espírito,
porque deles é o Reino dos Céus (Mt 5, 3)
porque deles é o Reino dos Céus (Mt 5, 3)
Adoração dos Reis e dos Pastores Igreja de Santa Maria, Waltham (Estados Unidos) |
Jesus
quis nascer em condições tão rudes
para nos mostrar que,
quer na penúria, quer
no luxo,
felizes são os que n’Ele depositam sua confiança.
Depois do pecado original,
muitos defeitos contaminaram a natureza humana. Entre eles, o egoísmo, a
ambição e a tendência a apegar-se às criaturas, causa da perdição de tantas
almas. Como solucionar isto?
“Vós conheceis a bondade de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Sendo rico, Se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer por sua
pobreza” (II Cor 8, 9). O próprio Filho de Deus, com o exemplo de sua vida e
sua doutrina, ensinou ao mundo como praticar a pobreza, virtude tão difícil de
ser abraçada pelo homem e, talvez por isso, com frequência tão mal
compreendida…
Já no Presépio o Salvador,
ainda tenra criancinha, começa a nos “enriquecer por sua pobreza”,
convidando-nos a contemplá-Lo na Gruta inóspita e fria, onde um boi e um burro
O aquecem com seu hálito. Com encanto podemos comprovar que o Redentor, envolto
em panos e reclinado na rústica manjedoura, exalava o perfume desta excelsa
virtude logo no primeiro alento de sua vida terrena. Ele quis nascer em
condições tão rudes para nos mostrar que os bens materiais são elementos
secundários para quem O possui, pois, quer na penúria, quer no luxo, felizes
são os que n’Ele depositam sua confiança. E para evidenciar isto, completa com
outros personagens, além de Nossa Senhora e São José, o quadro pobremente
sublime de seu nascimento.
Quais são as primeiras
pessoas que o Divino Infante acolhe na Gruta? Uns simples pastores. Não pode
limitar-se a uma mera coincidência o fato de terem sido estes os primeiros a
visitá-Lo. Foram eles escolhidos não por causa de sua modesta condição
econômica ou social, mas porque possuíam uma valiosa credencial para alcançar a
predileção de Deus: a humildade de coração. A estes pequeninos, realmente
pobres, Ele manda chamar antes de quaisquer outros, e o faz de uma maneira
esplendorosa, digna de sua infinita majestade: “Um Anjo do Senhor apareceu-lhes
e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles” (Lc 2, 9).
Não obstante, houve também
outros convidados: os Magos que, vindos de terras longínquas, seguiram a
estrela até chegar a Belém. “Entrando na casa, acharam o Menino com Maria, sua
Mãe. Prostrando-se diante d’Ele, O adoraram. Depois, abrindo seus tesouros,
ofereceram-Lhe como presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2, 11). Diante do Pobre, por
excelência, eles abriram seus valiosos regalos; diante do Rei dos reis e
Criador do universo, se prosternaram rendendo-Lhe afetuosa adoração. E nem
sequer estranharam a singela aparência do Menino, pois entre Jesus e eles havia
um traço de profunda consonância: eram pobres! Ele, Senhor do Céu e da Terra;
eles, segundo uma piedosa tradição, reis de vastos domínios no Oriente. Suas
almas, porém, não estavam presas às riquezas materiais. Pelo contrário,
escalavam píncaros mais elevados! Tanto os pastores quanto
os Magos buscavam a Deus e não a si mesmos, queriam adorá-Lo e não ser
adorados, desejavam servi-Lo e não satisfazer seus meros interesses. Razão de O
haverem encontrado. Ele os atraiu a Si não porque tivessem poucas ovelhas ou
muitos castelos, mas sim porque uns e outros eram despretensiosos, limpos de
orgulho e cheios de fé.
Saibamos também nós ser
pobres de verdade, para assim recebermos a fortuna inestimável que o melífluo
São Bernardo tão bem soube enaltecer ao cantar as grandezas do Menino Deus:
“Mais preciosos são os paninhos do Salvador que toda a púrpura; e mais glorioso
é este Presépio que os tronos dourados dos reis; mais rica, enfim, é a pobreza
de Cristo que todas as riquezas e tesouros. Pois o que pode existir de mais
rico que uma pobreza e de mais precioso que uma humildade com que se compra
verdadeiramente o Reino dos Céus e se adquire a graça divina, segundo está
escrito: ‘Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos
Céus’ (Mt 5, 3)?”.1
1 SÃO BERNARDO DE CLARAVAL. Sermón IV en la
Vigilia de la Natividad del Señor, n.6. In: Obras completas. Barcelona: Rafael
Casulleras, 1925, v.I,
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