Muitos
autores estudam a hipótese de São José ter sido concebido sem pecado original
e, entre outros, chama a atenção o que o jesuíta Alfonso Salmerón defende,
quando afirma que em São José não havia nenhuma inclinação desordenada da
concupiscência – omnis concupiscentiæ fomes extinctus in eo fuit –, para que,
mais dignamente pudesse conviver com Nossa Senhora. [1]
Sobre
a totalidade da tese da isenção do pecado original em São José, seria
necessário constituir um verdadeiro tratado, que, para a finalidade deste
artigo, seria por demais extenso. No entanto, dado o foco que nos propusemos a
dar, nos limitaremos em constituir uma pequena coroa de pedras preciosas a este
respeito, citando alguns autores que dão um robusto subsídio a esta ideia.
Dando
um salto histórico de dois mil anos, encontramos no Apóstolo e Evangelista São
Mateus, ao mencionar pela primeira vez São José, o qualificativo mais teológico
para sintetizar o perfil de São José: “um homem justo” (Mt 1, 19). Isto,
segundo muitos autores de peso, equivale a uma verdadeira canonização realizada
pelo Espírito Santo, pois o termo ‘justo’ significa, como explica São João
Crisóstomo, “aquele que é virtuoso em tudo”. [2]
Corroborando
com este pensamento, o dominicano Pe. Isidoro de Isolano, o primeiro a escrever
um tratado teológico integralmente dedicado ao Santo Patriarca, diz que São
José foi o primeiro a quem o Espírito Santo canonizou no Novo Testamento,
chamando-o de varão justo.[3]
Dentre
os Padres da Igreja, salta aos olhos as considerações do supracitado São João
Crisóstomo sobre o Santo Varão, quando o menciona como um exemplo de obediência
e docilidade de espírito, cheio de circunspecção e pureza incorruptível de
mente.[4]
Longe
de desmentir esta tese, um autor mais recente, o Pe. Bonifácio Llamera, OP,
explana sobre a eminente virtude de São José, em especial nos albores de sua
existência, que, sem temeridade, pode-se pensar que o Pai de Jesus, em todos os
seus atos, já desde a infância, agiu com toda a força da graça habitual, pois
não se lhe opunha nenhum impedimento, nem as paixões, nem os defeitos, nem as
negligências ou distrações.[5]
Por
fim, para arrematar esta faceta do assunto, o célebre Pe. Garrigou-Lagrange
afirma que considerada a missão do Esposo de Maria, Deus providente lhe
concedeu todas as graças, recebidas já desde a infância: piedade, virgindade,
prudência, perfeita fidelidade.[6]
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[1] Cf. SALMERÓN, SJ, Alfonso. Commentarii in Evangelicam Historiam et in Acta Apostolorum. Tractatus XXX. Coloniæ: Antonium Hierat & Ioannem Gymnicum, 1602, t.III, p.234.
[2]
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo. Hom.IV, n.3. In: Obras. 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.I,
p.63
[3]
Cf. ISOLANO, OP, Isidoro de. Suma de los dones de San José. P.I, c.9. In:
LLAMERA, OP, Bonifacio. Teología de San José. Madrid: BAC, 1953, p.405.
[4]
Cf. SÃO JOÃO CRISÓSTOMO, op. cit., Hom.V, n.3, p.92.
[5]
Cf. LLAMERA, OP, Bonifacio. Teología de San José. Madrid: BAC, 1953, p.206.
[6]
Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. De præstantia Sancti Ioseph inter omnes
sanctos. In: Angelicum. Roma. N.5. [Abr.-Jun., 1928]; p.205.
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