6 de jan. de 2020

Onde estão os efeitos do pecado original em São José?


São José:
“aquele que é virtuoso em tudo”.

Muitos autores estudam a hipótese de São José ter sido concebido sem pecado original e, entre outros, chama a atenção o que o jesuíta Alfonso Salmerón defende, quando afirma que em São José não havia nenhuma inclinação desordenada da concupiscência – omnis concupiscentiæ fomes extinctus in eo fuit –, para que, mais dignamente pudesse conviver com Nossa Senhora. [1]

Sobre a totalidade da tese da isenção do pecado original em São José, seria necessário constituir um verdadeiro tratado, que, para a finalidade deste artigo, seria por demais extenso. No entanto, dado o foco que nos propusemos a dar, nos limitaremos em constituir uma pequena coroa de pedras preciosas a este respeito, citando alguns autores que dão um robusto subsídio a esta ideia.

Dando um salto histórico de dois mil anos, encontramos no Apóstolo e Evangelista São Mateus, ao mencionar pela primeira vez São José, o qualificativo mais teológico para sintetizar o perfil de São José: “um homem justo” (Mt 1, 19). Isto, segundo muitos autores de peso, equivale a uma verdadeira canonização realizada pelo Espírito Santo, pois o termo ‘justo’ significa, como explica São João Crisóstomo, “aquele que é virtuoso em tudo”. [2]

Corroborando com este pensamento, o dominicano Pe. Isidoro de Isolano, o primeiro a escrever um tratado teológico integralmente dedicado ao Santo Patriarca, diz que São José foi o primeiro a quem o Espírito Santo canonizou no Novo Testamento, chamando-o de varão justo.[3]

Dentre os Padres da Igreja, salta aos olhos as considerações do supracitado São João Crisóstomo sobre o Santo Varão, quando o menciona como um exemplo de obediência e docilidade de espírito, cheio de circunspecção e pureza incorruptível de mente.[4]

Longe de desmentir esta tese, um autor mais recente, o Pe. Bonifácio Llamera, OP, explana sobre a eminente virtude de São José, em especial nos albores de sua existência, que, sem temeridade, pode-se pensar que o Pai de Jesus, em todos os seus atos, já desde a infância, agiu com toda a força da graça habitual, pois não se lhe opunha nenhum impedimento, nem as paixões, nem os defeitos, nem as negligências ou distrações.[5]

Por fim, para arrematar esta faceta do assunto, o célebre Pe. Garrigou-Lagrange afirma que considerada a missão do Esposo de Maria, Deus providente lhe concedeu todas as graças, recebidas já desde a infância: piedade, virgindade, prudência, perfeita fidelidade.[6]

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[1] Cf. SALMERÓN, SJ, Alfonso. Commentarii in Evangelicam Historiam et in Acta Apostolorum. Tractatus XXX. Coloniæ: Antonium Hierat & Ioannem Gymnicum, 1602, t.III, p.234.

[2] SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo. Hom.IV, n.3. In: Obras. 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.I, p.63

[3] Cf. ISOLANO, OP, Isidoro de. Suma de los dones de San José. P.I, c.9. In: LLAMERA, OP, Bonifacio. Teología de San José. Madrid: BAC, 1953, p.405.

[4] Cf. SÃO JOÃO CRISÓSTOMO, op. cit., Hom.V, n.3, p.92.

[5] Cf. LLAMERA, OP, Bonifacio. Teología de San José. Madrid: BAC, 1953, p.206.

[6] Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. De præstantia Sancti Ioseph inter omnes sanctos. In: Angelicum. Roma. N.5. [Abr.-Jun., 1928]; p.205.



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