O Bom Pastor - Vitral do Mausoleu da Catedral de Los Angeles |
"Naquele tempo, disse
Jesus: 1 ‘Em
verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta,
mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. 2 Quem entra pela porta é o pastor das
ovelhas. 3 A
esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo
nome e as conduz para fora. 4
E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as
ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. 5
Mas não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos
estranhos'. 6
Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que Ele queria
dizer. 7
Então Jesus continuou: ‘Em verdade, em verdade vos digo, Eu sou a Porta das
ovelhas. 8
Todos aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas
não os escutaram. 9
Eu sou a Porta. Quem entrar por Mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará
pastagem. 10 O
ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a
tenham em abundância'" (Jo 10, 1-10).
O redil só tem uma Porta
O Céu, fechado para
a humanidade depois do pecado original, nos foi aberto para sempre por Aquele
que é o Cordeiro, o Bom Pastor e a Porta do redil.
I
– OS GRAUS DE PERFEIÇÃO NA OBRA DA CRIAÇÃO
Quem
contempla a natureza criada percebe facilmente uma gradação em que verdade,
bondade e beleza se tornam mais intensas e nobres à medida que se sobe na
escala dessa magnífica obra de Deus.
Basta
observar, por exemplo, no reino animal, uma formiga transportando alimento para
o formigueiro. Manifesta ela tal tenacidade e retidão no cumprimento de seu
objetivo, que se fosse tomada como modelo de disposição para o trabalho,
levaria qualquer país à prosperidade. Ou, então, um colibri quando paira no ar
e bate as asas com encantadora elegância, de modo tão rápido que nem é possível
distingui-las com nitidez. Ou ainda o esquilo, animal tão ordenado que, além de
ser monogâmico, é dotado de certo instinto de propriedade pelo qual defende
energicamente seu terreno, não permitindo que ninguém o invada.
No reino
humano, por sua vez, existe a hierarquia das diferentes qualidades individuais,
e, ultrapassando os limites da mera natureza, destacam-se figuras
extraordinárias, como a de São Pedro ou de São Pio X, representantes de Nosso
Senhor Jesus Cristo na Terra. No ápice do universo está o próprio Jesus, com
duas naturezas, a humana e a divina. É o Criador unido à criação. Portanto,
tudo quanto há de verdadeiro, bom e belo nas criaturas encontra n'Ele sua
arquetipia. Em Cristo "foram criadas todas as coisas nos Céus e na Terra,
as criaturas visíveis e as invisíveis" (Col 1, 16). A esse respeito, São
Tomás propõe uma interessante comparação: "O artesão produz sua obra
segundo uma forma por ele concebida interiormente, revestindo-a, de alguma
maneira, de uma matéria exterior; do mesmo modo, o arquiteto constrói a casa
conforme o modelo por ele idealizado. E é assim que dizemos de Deus: que Ele
tudo fez em sua sabedoria, porque a sabedoria divina com relação às criaturas é
como a arte do construtor em relação ao edifício. Ora, esta forma e esta
Sabedoria é o Verbo".1 Eis a razão pela qual podemos vislumbrar reflexos
das sublimes perfeições do Homem-Deus em todos os seres criados. Tal
pressuposto nos ajudará a entender o Evangelho deste domingo, o qual recolhe a
primeira parte do discurso do Bom Pastor.
II – A PORTA DO VERDADEIRO REDIL
Devemos compreender a presente parábola
dentro do quadro político-social e econômico de Israel na época de Nosso
Senhor, o que corresponde a uma realidade bem diferente da civilização
industrial e globalizada em que vivemos. O pastoreio - do qual poucos terão uma
noção exata em nossos dias - constituiu uma das principais atividades do povo
eleito no Antigo Testamento, tendo penetrado profundamente na psicologia, na
cultura e nos costumes judaicos. Por conseguinte, as imagens tiradas do
cotidiano pastoril eram muito acessíveis aos ouvintes do Divino Mestre. Ele as
empregou para referir-Se a algo tão elevado que é impossível de ser traduzido a
não ser por símbolos: Deus feito Homem cuida com toda a perfeição de cada um de
nós, como de uma ovelha muito querida. Nosso Senhor Jesus Cristo Se sente
representado por um Pastor ideal, zeloso e dedicado. Em consequência, a figura
heroica do pastor adquiriu um cunho sagrado e, com o tempo, passou a adornar
paredes de catacumbas, objetos litúrgicos, túmulos, monumentos sacros, entre
outros, como designação corrente d'Aquele que veio ao mundo para salvar suas
ovelhas.
O redil, exigência do cuidado do
rebanho
"Naquele tempo,
disse Jesus: 1 ‘Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra
no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e
assaltante'".
Ao cair da noite, por segurança, era preciso congregar as ovelhas num redil A volta do rebanho por Charles Sprague - Museu Franco-Americano do Castelo de Biérancourt (França) |
Muitas vezes os pastores tinham de
arriscar a própria vida para defender as ovelhas, pois, além de não existirem
armas eficazes como as atuais, em geral eles eram pessoas pobres, dispondo
apenas de um cajado para enfrentar os lobos e os ladrões. Tão frequentes eram
os assaltos aos rebanhos, que os pastores costumavam se congregar para terem
maior segurança e, à noite, recolhiam todas as ovelhas num grande redil. Um
deles ficava de vigília, à entrada, e se revezavam ao longo das horas. Esta era
a única passagem para entrar e sair do aprisco, sendo usada tanto pelos animais
quanto pelos donos.
Os ladrões, entretanto, nunca
transpunham a porta para realizar seus intentos, mas faziam um rombo na cerca,
por onde penetravam e levavam as ovelhas.
As ovelhas só conhecem a voz do seu
pastor
2 "Quem entra pela porta é o pastor das
ovelhas. 3 A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua
voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. 4 E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e
as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. 5 Mas não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz
dos estranhos".
Em certa ocasião, o Autor teve
oportunidade de assistir a cenas semelhantes a esta, ficando surpreso ao
constatar como, de fato, o pastor conversa com suas ovelhas. Ainda que sejam
bastante numerosas, ele as identifica pelo nome, sabe qual é o comportamento de
cada uma e distingue as que necessitam de maiores cuidados. Porém, o que mais
impressiona é ver como as ovelhas conhecem a voz de quem as apascenta. Às
vezes, basta um assobio ou um mero gesto para todas se juntarem ao seu redor e
permanecerem ali quietas, olhando-o atentas como se estivessem entendendo suas
palavras. E quando ele nomeia alguma, esta reage, movimentando-se. Se, pelo contrário,
é um estranho que tenta imitar o pastor, elas não lhe dão atenção. O ladrão
poderá levar uma ou outra ovelha, mas nunca conseguirá roubar o rebanho
inteiro, pois este só se move ao comando do pastor.
A situação descrita por Nosso Senhor
nestes versículos ocorria a cada manhã, quando o pastor ia buscar os animais no
redil. A tal ponto se criava uma como que intimidade entre o pastor e suas
ovelhas, que estas adquiriam certo instinto pelo qual o reconheciam com
precisão e, saindo do meio das outras, se colocavam diante dele, que as
conduzia para fora. Reunido todo o rebanho, iniciava-se a marcha rumo aos
campos, com o pastor sempre à frente, para fazer face aos que pretendessem
assaltá-lo.
As ovelhas conhecem a voz do seu pastor e não se deixam enganar por estranhos |
Tal imagem é lindíssima, e muito
apropriada para o Divino Mestre ser compreendido. E, ao longo da História,
quantos lobos, ladrões e mercenários vêm tornando esta parábola cada vez mais
clara!
Mas eles não entenderam...
6 "Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles
não entenderam o que Ele queria dizer".
Quem ouvia esta pregação de Nosso
Senhor? Os fariseus, que não queriam admitir o recente milagre da cura de um
cego de nascença (cf. Jo 9, 1-41). Em meio à celeuma provocada, Jesus iniciou
este discurso procurando explicar-lhes o porquê de seu divino empenho em fazer
o bem. Ele narra a parábola de um modo diferente do que Lhe era habitual, pois,
à medida que a compõe, vai aplicando-a a Si. Contudo, para entendê-la era
preciso ter fé e o coração aberto à ação do Espírito Santo, o que faltava aos
fariseus. Como eram "guias espirituais de Israel, não podiam suspeitar que
eles mesmos fossem ‘assaltantes' espirituais do rebanho".2
Jesus é a única Porta
7 "Então Jesus continuou: ‘Em verdade, em
verdade vos digo, Eu sou a Porta das ovelhas'".
O redil da eternidade só tem uma porta, Nosso Senhor Jesus Cristo |
Embora a figura do pastor seja a mais
conhecida desta parábola, Jesus primeiro Se apresenta como Porta do redil. Qual
o seu simbolismo? Deus criou Adão em graça e, ao introduzi-lo no Paraíso,
sujeitou-o a uma prova: "não comas do fruto da árvore da ciência do bem e
do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás" (Gn 2, 17). Bastava
ter obedecido ao mandado divino que o homem nunca experimentaria a morte, pois
sua alma inocente "possuía uma força dada sobrenaturalmente por Deus,
graças à qual podia preservar o corpo de toda corrupção". 3 Sua existência
transcorreria feliz naquele local de delícias, "durante todo o tempo de
sua vida animal, para ser transferido depois disso ao Céu, quando tivesse
obtido a vida espiritual".
Em determinado momento a alma passaria
a gozar da visão beatífica - em virtude da qual o seu corpo se tornaria
glorioso -, dando início ao eterno convívio com Deus. No entanto, com o pecado
original o Céu se fechou para toda a humanidade e ninguém entraria jamais nele
se não nos tivesse sido outra vez aberto por Nosso Senhor Jesus Cristo, o
Cordeiro imolado, o Bom Pastor e a Porta do redil, nossa Páscoa, ou seja,
passagem deste mundo para a bem-aventurança. Só aqueles que O aceitarem
habitarão nessa sublime morada, porque Ele é o caminho seguro para atingir a
perfeição. Sem Ele não há santidade, sem Ele não há salvação.
Os ladrões de almas...
8 "Todos aqueles que vieram antes de Mim são
ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram".
Neste versículo, Jesus estabelece uma
distinção muito clara entre o que Ele faz pelas ovelhas e o modo de agir dos
bandidos. Através dos patriarcas e dos profetas, Deus revelara ao povo eleito a
Religião verdadeira. No entanto, quando o Redentor veio ao mundo, seus
representantes - perdido o desejo de salvar as almas - a desviaram daquele rumo
inicial, só se preocupando em manter sua posição de prestígio na sociedade.
Tais eram os fariseus, verdadeiros mercenários que, ao invés de proteger o
rebanho, o oprimiam transmitindo-lhe uma doutrina deturpada e egoísta, pela
qual exigiam o cumprimento dos atos exteriores e desprezavam "os preceitos
mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade" (Mt 23,
23). Ora, o Divino Mestre expunha a verdade e mostrava como deveria ser o
autêntico trato entre os ministros de Deus e o povo, contrário ao que os
fariseus preconizavam com suas práticas. Cada palavra de Nosso Senhor soava
como uma acusação à atitude que eles tomavam, recusando-se a aceitar sua
mensagem e a Redenção que lhes oferecia. Assim, os fariseus não só
desempenhavam o papel de ladrões, como também fechavam a porta do redil às
ovelhas: "Vós fechais aos homens o Reino dos Céus. Vós mesmos não entrais
e nem deixais que entrem os que querem entrar" (Mt 23, 13).
Os fariseus, de pastores, tornaram-se verdadeiros mercenários, só preocupados em manter sua posição de prestígio na sociedade |
Ao mesmo tempo, o demônio e as paixões
também agem com relação a nós como um salteador. Todos nascemos com a Lei de
Deus gravada no coração, a qual nos impulsiona a buscar a verdade, o bem, o
belo, o unum, e a repelir seus
opostos.5 Em consequência, para abraçarmos o mal e optarmos pelo erro somos
obrigados a deformar a consciência, construindo uma doutrina falsa que
justifique nossa escolha. Deste modo, aceitamos sem obstáculos o ladrão - ou
seja, o demônio, o pecado - que entra no aprisco, e a ele nos entregamos.
É Cristo que robustece o senso moral
9 "Eu sou a Porta. Quem entrar por Mim, será
salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem".
Em sentido contrário ao apontado no
versículo anterior, o Divino Mestre Se apresenta como a Porta que dá acesso à
pastagem, porque é Ele quem nos leva a robustecer o senso do ser, o senso moral
que o pecado enfraquece.6 A voz de Nosso Senhor Jesus Cristo nos convida à
inocência, à prática da virtude; nela reconhecemos o timbre da santidade. Ao
dizer: "Eu sou a Porta", Ele Se declara o Messias, o único caminho
para a salvação, o único que possui o direito de conduzir o rebanho.
Uma aplicação à Igreja
Esta ideia se coaduna inteiramente com
a promessa de imortalidade da Igreja, feita por seu Divino Fundador ao Príncipe
dos Apóstolos: "tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja;
as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16, 18). A voz de
Jesus Cristo é inconfundível para as ovelhas que de fato aderiram a Ele, e
ninguém as ilude. Por mais que os meios de comunicação ou os inimigos da Igreja
tentem desviá-las, fazendo propaganda daquilo que é alheio a Ele, quem segue o
Bom Pastor sente no fundo da alma onde está a verdade. E Ele sempre concede ao
rebanho graças especiais para dispersar seus adversários.
Deus quer nos dar tudo em abundância
10 "O ladrão só vem para roubar, matar e
destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância".
Ainda em linguagem parabólica, Ele
indica o pecado daqueles que desviam os outros da Religião verdadeira: matam as
almas, afastando-as de Nosso Senhor, que é a vida. E a missão d'Ele, ao
contrário, é dar aos homens essa vida, a qual é muito superior à que anima a
formiga, o colibri, o esquilo, o homem e até mesmo os Anjos, pois é a vida do
próprio Deus! Ele a introduz em nossa alma no Batismo e a confirma quando
recebemos a Crisma.
Mas... que vida tem Deus? Parece tão
simples e nossa inteligência não consegue alcançá-la, porque Ele é eterno,
infinito, onipresente, onipotente, onisciente! E é tão rico que o Pai, ao
pensar em Si mesmo, gera uma Segunda Pessoa, igual a Si, que é a Palavra d'Ele,
o Filho. Os dois Se olham e Se amam tanto, que do encontro desses dois amores
procede o Espírito Santo, a Terceira Pessoa, idêntica ao Pai e ao Filho. Eis a
vida de Deus: desde toda a eternidade e por toda a eternidade, os três Se
contemplam, Se entendem e Se amam mutuamente. A criação do universo foi como um
transbordamento do que há em Deus, mais ou menos à maneira de um champagne que
extravasa da garrafa e se derrama em taças. Ele quis nos criar para nos tornar
partícipes da felicidade d'Ele, e por isso "o Verbo Se fez carne e habitou
entre nós" (Jo 1, 14). Ele Se fez Pastor, Ele Se fez Porta, para que todos
nós recebêssemos "da sua plenitude graça sobre graça" (Jo 1, 16), e
tivéssemos a vida "em abundância".
Se Deus põe à nossa disposição essa
vida com tal generosidade, basta pedir que Ele no-la dará. E não aos
pouquinhos, porque Deus não é como uma pobre mãe a quem só resta um pouco de
farinha e de azeite com que preparar um pão para o filho que quer comer um
bolo. Ele possui tudo o que nós precisamos! Não podemos ter horizontes
estreitos, ser medíocres na oração, mas devemos ser pessoas de grandes desejos,
que imploram coisas ousadas na linha da perfeição. E como todos somos chamados
à santidade, se rezarmos com decisão e energia, por meio da Santíssima Virgem,
é certo que Ele nos atenderá.
III – NÃO PERMITAMOS QUE NOS ROUBEM A VIDA!
Nas eloquentes palavras de São Pedro,
que a primeira leitura (At 2, 14a.36- 41) apresenta à nossa consideração,
encontramos uma afirmação intimamente relacionada com o Evangelho de hoje:
"Convertei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para
o perdão dos vossos pecados. E vós recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a
promessa é para vós e vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe,
todos aqueles que o Senhor nosso Deus chamar para Si" (At 2, 38-39).
Convertei-vos! É mister corresponder a este convite!
Ora, não haverá algo que faça o papel
de ladrão em nosso dia a dia? Não haverá em nossa vida algo que precisemos
cortar? Da mesma forma que se praticava a idolatria e havia desvios na época de
Nosso Senhor, não haverá hoje alguma voz que nos confunda e nos desencaminhe,
levando-nos a esquecer que a verdadeira Porta é Ele? Naquele tempo eram os
fariseus, os saduceus, os herodianos. E hoje? É o momento de nos pormos a
questão: internet, televisão, cinema, relacionamentos... há tantos ladrões, que
todo o cuidado será pouco! Devemos ouvir a voz de Deus que sempre nos fala à
alma e nesta Liturgia da Palavra nos adverte de que está sendo desdenhada,
enquanto os falsos pastores entram, através dos rombos feitos por eles mesmos
na cerca do redil, para roubar, matar e destruir.
O Bom Pastor ama até as ovelhas
miseráveis
É possível que nosso exame de consciência
nos acuse de alguma vez termos aderido aos ladrões. Lembremo-nos, então, de que
Jesus ama tanto as suas ovelhas que Ele deseja dar-lhes a vida, apesar de
miseráveis. E uma vida tão exuberante que ultrapassa a morte merecida pelo
pecado de nossos primeiros pais e pelos nossos próprios pecados: "Onde
abundou o pecado, superabundou a graça" (Rm 5, 20). Se quisermos, pois,
ser grandes na santidade, reconheçamos nossa incapacidade para praticar a
virtude e, atribuindo a Deus todo o bem que fazemos, ofertemos-Lhe, confiantes,
nossa debilidade, porque o Bom Pastor Se utiliza disso para manifestar seu
poder, como Ele afirmou a São Paulo: "é na fraqueza que se revela
totalmente a minha força" (II Cor 12, 9).
Não esqueçamos que o Bom Pastor está disposto a tudo, até pelas ovelhas mais miseráveis |
A principal lição a ser guardada deste
4º Domingo da Páscoa é que Jesus tem por nós um carinho que suplanta todos os
afetos existentes na face da Terra. Ele é tão supremamente nosso Pastor que
escolheu sofrer os tormentos do Calvário para nos salvar. Sinal de que nos ama
até um limite inimaginável! Ele almeja a nossa santidade e cuida de nós, tal
como diz o Salmo Responsorial (cf. Sl 22, 1.2c): "O Senhor é o Pastor que
me conduz, não me falta coisa alguma". Ele é dono de todos nós, ovelhas
que o Pai Lhe entregou e, desde que não queiramos nos desgarrar, não permitirá
que sejamos arrancados de suas mãos. Por isso, tenhamos total confiança n'Ele
ao nos aproximarmos da Confissão, certos de que Ele perdoará nossos pecados, se
estivermos arrependidos. Mas, sobretudo, saibamos buscá-Lo na Eucaristia, onde
Ele Se oferece em Corpo, Sangue, Alma e Divindade e nos prepara para recebermos
a vida em plenitude. Isto se dará quando passarmos pela Porta do redil e
adentrarmos no Céu, onde veremos a Deus face a face. Ali estaremos na alegria
do Pai, do Filho e do Espírito Santo, numa gloriosa participação nessa família,
que é a Santíssima Trindade, junto com Nossa Senhora, os Anjos e os
Bem-aventurados.
1) SÃO TOMÁS DE AQUINO. Super Epistolam
Sancti Pauli Apostoli ad Colossenses lectura. C.I, lect.4.
2) TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, v.V,
1964, p.1170-1171.
3) SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.97, a.1.
4) Idem, q.102, a.4.
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