Houve um tempo em que cada um de nós foi imensamente feliz. “Oh! que saudades eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!”— canta um famoso poeta brasileiro. Bem soube ele exprimir em seu poema o tempo da nossa inocência primaveril.
Naqueles
dias, tudo nos encantava: as cores das asas de uma borboleta, os
esforços de uma formiguinha para carregar uma folha muito maior do que
ela, os cambiantes desenhos das nuvens, formando ora um rosto, ora a
silhueta de algum animal; mais ainda, as árvores de Natal, carregadas de
luzinhas e bolas coloridas. Em outras ocasiões, nos maravilhávamos com
uma cerimônia na igreja paroquial, ou com um presépio no qual,
silenciosos e recolhidos, estavam São José e Nossa Senhora velando o
Menino Deus.
Verdade é
que, naquele ditoso tempo nossa inocência ainda não enfrentara a luta, a
qual se introduz de modo paulatino em nossa vida já nos primeiros anos
de escola: o esforço para cumprir o dever, o estar longe do lar, o
comportamento agressivo de certas amizades. Com o correr dos anos,
outros interesses vão absorvendo nossa atenção, e por fim nosso mundo
encantador é, infelizmente, com frequência quebrado e manchado por
nossas próprias faltas.
Conservar a
inocência até a idade adulta é um dom de Deus, e hoje poucos o
conseguem. Contudo, recuperá-la talvez seja dádiva ainda mais preciosa, e
isso está ao alcance de todos, por meio do confessionário e da emenda
de vida.
Através
desse prisma pessoal, podemos considerar devidamente a situação do mundo
e nos perguntar, uma vez mais, o que trará este Novo Ano: catástrofes
ou alegrias? Se trilharmos as vias do pecado, correremos um sério risco
de sermos abalados e arrastados pelos turbilhões amargos dos
acontecimentos. Todavia, se nos mantivermos na inocência, ainda que
apareçam situações trágicas diante de nós e as calamidades rujam ao
nosso redor, conservaremos a alegria, a paz interior e a verdadeira
felicidade, na certeza inabalável de que Deus vela por nós.
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(Adaptado da revista Arautos do Evangelho, nº 97, janeiro de 2010, p. 5. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )
Ilustrações:Arautos do Evangelho, Studad
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