COMEMORAÇÕES PELOS
162 ANOS DAS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA
A SANTA BERNADETE
SOUBIROUS, EM LOURDES - FRANÇA
Santa Bernadete Soubirous,
uma santa que “não servia
para nada...”
No seu testamento espiritual, a vidente
de Lourdes agradece a Deus
pelo pão da humilhação, pelas ironias e injustiças
sofridas por sua Madre
e Mestra de noviças, por suas carnes em putrefação e
pelo deserto da aridez interior.
Plinio Corrêa de Oliveira |
Não se pode falar de
Lourdes sem lembrar a personagem ligada de modo indissociável a essa história
de bênçãos e misericórdias. A modesta pastorinha a quem Nossa Senhora apareceu
é o primeiro milagre de Lourdes: milagre da graça, milagre da santidade. Por
isso a Igreja a elevou às honras dos altares como Santa Bernadete Soubirous.
Antes de partir deste
mundo para as glórias da bem-aventurança eterna, a vidente deixou seu
testamento espiritual, uma comovedora prece de ação de graças em que ela, ao
invés de se mostrar reconhecida pelos insignes favores de que foi objeto, louva
Nossa Senhora e seu Divino Filho por tudo o que lhe representou sofrimento e
carência nesta vida:
“Pelas zombarias recebidas, pelas injúrias e
pelos ultrajes da parte dos que me mandaram prender como doida, pela cólera que
tiveram contra mim, tomando-me como interesseira. Pela ortografia que eu jamais
consegui aprender, pela memória que eu jamais tive, pela minha ignorância,
graças vos dou, Senhora. Graças, porque se houvesse sobre a terra uma menina
mais ignorante e mais estúpida do que eu, Vós a teríeis escolhido para lhe
aparecer.
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Testamento espiritual de Santa Bernadete: "uma comovedora prece de ação de graças; uma oração verdadeiramente heroica." |
“Pela minha doença, pelas
minhas carnes em putrefação, pelos meus ossos com cáries, pelos meus suores,
pela minha febre, pelas minhas dores surdas e agudas, graças ó meu Deus! E por
essa ânsia que Vós me destes para o deserto da aridez interior, pelos vossos
silêncios, mais uma vez por tudo, por Vós ausente e presente, graças, ó Jesus!”
É uma oração
verdadeiramente heroica, de um heroísmo que sobressai da seguinte situação: a
Santa Bernadete foi concedida a graça incomparável de ser a vidente a quem
Nossa Senhora apareceu, a ela foi indicado o local onde brotariam as águas que
operariam as curas milagrosas. Portanto, a partir das revelações feitas a ela,
Maria Santíssima inaugurou uma série de maravilhas e de benefícios
incalculáveis para os corpos e para as almas dos homens da terra inteira. Além
disso, a devoção à Mãe de Deus conheceu um novo e precioso crescimento sob a
invocação de Nossa Senhora de Lourdes.Revista Dr. Plinio fevereiro de 2003
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Santa Bernadete faleceu nesta poltrona em 16 de abril de 1879 |
Santa Bernadete poderia
fazer um raciocínio diferente: “Meu Deus, Vós me destes esses ossos cariados,
essa carne putrefata, me destes toda essa miséria e essas contrariedades. Em
compensação, porém, me concedestes a grande vantagem de ser a Bernadete
escolhida por Vós para iluminar o mundo inteiro. Então, eu aceito de boa
vontade tudo o que me destes de triste, de ruim, como ação de graças por aquilo
que me destes de bom. Amém.”
Seria um pensamento
legítimo. Mas, ela era uma santa, e por isso diante da conduta da Providência
em face dela, levou sua atitude de alma até o limite da sublimidade. Mediu sua
personalidade, seus recursos mentais, sua saúde física, e percebeu que não
valia nada. Era apenas uma pessoa muito equilibrada, nascida numa família
pobre, menosprezada por todos. E ela aceitou heroicamente sua nulidade, para
que inúmeras almas fossem salvas e a Igreja Católica reluzisse de maior glória.
Ela compreendeu bem que
não teve apenas aparições, mas recebeu também uma cruz, mais preciosa do que as
próprias visões de Nossa Senhora. E ter aceito de modo perfeito a cruz,
levando-a até o fim com amor, com entusiasmo pelo sofrimento, por tudo quanto a
dor significa no plano sobrenatural – isso fez dela uma santa.
Vemos, então, uma pessoa
que reconhece não ser nada, e que transforma esse nada numa hóstia para
oferecer a Nosso Senhor, dizendo:
“Meu Deus, enquanto todos perdem a alma para
ser alguma coisa, enquanto aqueles que Vós sobrecarregastes de dons os
dilapidam de modo miserável, eu, a quem Vós fizestes nada, agradeço-Vos esse
nada. Peço-Vos que, para vossa glória, aceiteis minha conformidade com esse
nada. Sei que sou o rebotalho do mundo, sei que sou o asco da terra, sei que
ninguém quer saber de mim, mas sei que para Vós, ó meu Deus – três vezes santo,
perfeito, eterno, imutável, onisciente, misericordioso – para Vós, dentro de
meu nada eu sou muito. Sou tanto que por mim Vós os teríeis encarnado, e Vós
teríeis sofrido o tormento da Cruz. Vós, sim, me amais. E se Vós amais esse
nada, aceitai esse nada. Ele vale pelo amor que Vós lhe tendes. Aceitai esse nada
e aceitai-o por aqueles a quem Vós destes tanto. Aqueles que receberam de Vós
os dons que eu não recebi, utilizem-nos segundo vossos desígnios, eu vos
ofereço, meu Deus, eu vos agradeço os dons que não recebi”.
Isso é levar o
desinteresse até o sublime. É o holocausto completo, o puro amor a Deus, sem
preocupação por si. É o modelo que a Providência nos propõe para que tenhamos
uma vida espiritual norteada, mais do que pelo desejo do Céu, pela graça de
amar e adorar desinteressadamente o Senhor do Céu e da Terra.
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Revista Dr. Plinio, Lourdes e a sublimidade do milagre, Editora Retornarei, fevereiro/2003, pág. 16 a 21.
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Revista Dr. Plinio, Lourdes e a sublimidade do milagre, Editora Retornarei, fevereiro/2003, pág. 16 a 21.
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